De volta à barra da Tijuca, seu habitat natural, o big rider conta o sufoco que passou para resgatar Maya Gabeira da morte e depois pegar uma das maiores ondas
De volta à barra da Tijuca, seu habitat natural, o big rider pernambucano conta o sufoco que passou para resgatar Maya Gabeira da morte em Portugal e depois pegar uma das maiores ondas
A história você ouviu. A surfista carioca Maya Gabeira – que está nas Páginas Vermelhas desta edição – caiu numa onda gigante em Nazaré, Portugal, e quase morreu antes de ser salva por Carlos Burle, experiente surfista de ondas gigantes que formava dupla com ela no jet ski. Burle e Maya foram à Europa tentar bater o recorde de maior onda surfada, ao lado de Pedro Scooby e Felipe “Gordo” Cesarano. Acabaram vivendo um perrengue que Burle descreve como “show de horror”.
Desde que tudo acabou bem, a tensão foi-se embora da voz do big rider. De volta à Barra da Tijuca, cenário das fotos deste ensaio e lugar que considera seu hábitat natural, ele narra com segurança cada momento daquele 28 de outubro. A caída na água, as dúvidas de Maya, a escolha da onda certa. O tombo da surfista, seu sumiço em meio à espuma violenta de Nazaré. A primeira tentativa de resgatá-la no jet ski, frustrada. A segunda, que também falhou. A decisão que tomou, ao ver Maya boiando, já sem sentidos, de largar o jet ski, pular na água, agarrá-la pelas costas e arrastá-la até a areia. “Não foi o melhor resgate, mas foi o que salvou a gente”, lembra.
"Fica viva, fica viva. Não morre, senão vou te matar", pensava enquanto ressuscitava Maya Gabeira na praia de Nazaré
Na areia, foi ele quem a ressuscitou, massageando seu coração ao ritmo de um refrão dos Bee Gees. “Só pensava em bombar o ‘Staying alive’”, conta. Não é loucura: segundo especialistas, o clássico da era disco dita o ritmo perfeito da massagem cardíaca. “Eu pensava: fica viva, fica viva. Não morre, senão vou te matar.”
A sinceridade que transparece na voz do pernambucano de 46 anos é reflexo de sua personalidade. Ligia, sua mulher há seis anos, confirma. “Tudo que ele faz é genuíno, é acreditando”, diz. O casal tem um filho de 4 anos, Reno Koi, e Burle ainda tem Yasmin, 15. É na Barra da Tijuca, com a família, que o big rider se sente em casa. Quando não está viajando, treina por lá, dá aulas de surf, passeia com o filho na praia. Faz musculação, ioga, stand-up.
“Como bem e faço exercícios porque acho que é melhor manter o condicionamento físico sempre regular. Adoramos dormir cedo, às 10 já tá todo mundo na cama”, ele conta. O condicionamento e a experiência foram decisivos para o salvamento de Maya. A confiança entre a dupla saiu fortalecida. “Quando fui vê-la no hospital, estava receoso. Mas ela me disse: ‘Que bom que a gente pegou aquela onda, eu faria de novo. Se eu morresse, ia morrer feliz, fazendo o que eu amo’. Aquilo me deixou muito feliz”, lembra.
"Você é muito mais forte nos exemplos do que nas palavras. Não adianta falar 'fiquem calmos' e perder a cabeça"
Depois de salvar Maya, no mesmo dia Burle voltou para o mar e pegou a onda que pode ser a maior já surfada em todos os tempos. Além da sinceridade, a força para ultrapassar limites também parece estar no seu sangue. “Viver com ele é emoção. Ele está sempre inventando alguma coisa pra puxar o limite das pessoas, criando circunstâncias pra você se superar”, conta Ligia. “É assim com o surf, com os filhos”, diz.
No auge da forma e da experiência, Burle acredita que seu papel é ser exemplo não só para Reno e Yasmin, mas também para Maya, Scooby, Gordo e todos os outros novos big riders que o admiram e o acompanham. “Você é muito mais forte nos seus exemplos do que nas suas palavras. Então é assim que eu procuro agir. Não adianta eu falar ‘fiquem calmos’ e perder a cabeça; ‘tenham coragem’ e não ter. Nesses momentos, eu sou um exemplo pra eles, eu sei disso. Não sou perfeito, erro, sou comum. Mas tenho virtudes também. E eu sou muito mais as minhas virtudes que os meus defeitos.”