por Mara Gabrilli
Tpm #109

Projeto de Mara Gabrilli orienta, encaminha e acolhe pessoas com deficiência

Nem a informação consegue transpor as barreiras físicas, deixando pessoas com deficiência limitadas ao reduzido metro quadrado que habitam

Andar por comunidades carentes da periferia de São Paulo chama a atenção pela dificuldade que eu tenho em circular. Mas isso sempre fez parte do meu trabalho, ter de ser carregada morro acima e morro abaixo – onde o morro não tem vez, por lugares escorregadios, cheios de escadas – por uma ou sete pessoas. Já cheguei ao cúmulo de ter de pular com a cadeira três muros de uma favela que serviam para conter enchentes e chegar ao meu destino: visitar uma senhora paralisada que estava na cama e precisava de uma cadeira de rodas, justamente o que eu estava indo levar. Então, me dei conta de que em todos esses lugares que já fui jamais encontrei um cadeirante passeando em alguma ruela. Óbvio, com toda a dificuldade que tenho de chegar a uma visita, o caminho de volta não seria diferente. Como uma pessoa com mobilidade reduzida sairia diariamente por aqueles caminhos? E como os serviços já disponíveis chegariam lá?

Nem a informação, muitas vezes, consegue transpor as barreiras físicas, e as pessoas com deficiência ficam limitadas ao reduzido metro quadrado que habitam, sem saber o que existe lá fora. Foi aí que surgiu o Cadê Você, um projeto do 

Instituto Mara Gabrilli para procurar pessoas com deficiência em regiões pobres e orientá-las, encaminhá-las e acolhê-las em várias dimensões. Conseguimos o patrocínio do McDonald’s para pagar a equipe multidisciplinar, a impressão de um guia de serviços pago pela Alcoa e ainda a doação de órteses e próteses pela Volkswagen. Começamos a atuar 
em Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo, aprendendo formas e obstáculos de vida que até então desconhecíamos. A maioria dos atendidos tem paralisia cerebral e, pasmem, quase 80% não precisariam ter. Geralmente, a mãe teve uma gravidez normal e na hora do parto, ou pela demora deste, houve uma intercorrência que o hospital e o profissional não resolveram. Resumindo, falha do sistema de não cumprir uma determinação que exige a presença de um pediatra na sala do parto. Geralmente os hospitais privados cumprem, por isso a paralisia cerebral virou doença de pobre.

Atenderemos 1.200 pessoas até setembro. E o principal: a gente não quer só saúde. A gente quer cultura, diversão, arte e o básico que todos nós precisamos: amar. Pessoa com deficiência também ama.

Mutirão

E por falar em paixão e razão de viver, vale a pena participar de um mutirão do Cadê Você só para assistir às abnegadas mães que dedicam todo o amor que houver nesta vida para o filho com deficiência. Elas fazem qualquer coisa para ver seu filho sorrindo com saúde. Não sobra tempo para elas. Melhorar a autoestima dessas mães é investir na qualidade de vida dos filhos. Por isso, em maio acontecerá o Cadê Você Bonita, patrocinado pelo Primo Bonafini Cabeleireiros. Chegaremos à comunidade com equipe de maquiagem, cabeleireiros e manicures para deixarmos as mães mais bonitas e apaixonadas pelo que fazem. Ajude-nos a achar pessoas com deficiência escondidas e potenciais patrocinadores para expandirmos esse projeto pelo Brasil. Acesse o site www.cadevoce.info.
 

Mara Gabrilli, 42 anos, é publicitária, psicóloga e deputada federal pelo PSDB. É tetraplégica e fundou a ONG Projeto Próximo Passo (PPP). Seu e-mail: maragabrilli@maragabrilli.com.br

 

fechar