Os tabus e preceitos ditados séculos atrás permanecem sob olhares desconfiados
Basta ligar a televisão, o iPad, que os assuntos estão todos ali. Escancarados nas gigantes telas de LED, função 3-D, módulo touchscreen... Enquanto as tecnologias para debater temas em alta, como os que você encontra nesta edição, avançam a passos largos, os tabus e preceitos ditados séculos atrás permanecem sob olhares desconfiados.
É só avistar a chegada dos 30 anos, a tão estimada – ou temida – idade, para que a mulher comece a ser bombardeada pelo desejo dos outros de que ela gere um filho. Como se o anseio pela maternidade batesse na porta de todas elas com igual intensidade. Como se o sexo feminino fosse obrigado a cumprir a função biológica da fêmea: procriar. Renunciar ao cargo de mãe é uma afronta ao modelo de família brasileira tradicional que, ainda hoje, impera por aqui. Afinal, dois séculos atrás, “a procriação era uma garantia de felicidade e um meio de obter reconhecimento social”, como afirma a psicóloga Luci Mansur na reportagem da página 60, “Filhos? Não, obrigada”. Sobre a felicidade, cada mulher sabe como alcançar a sua, mas o reconhecimento social... Esse ainda é cobrado.
A jornalista Glória Maria sabe bem disso. Ter filhos nunca foi prioridade, ela sempre prezou pela liberdade e por uma vida fora dos padrões (por exemplo, seu curto casamento de anos atrás chegou ao fim quando o ex-marido insistiu em morar junto, fato que, inclusive, era uma cláusula do contrato de casamento). Até que, certo dia, já com seus 50 e tantos anos, percebeu que existia dentro dela a vontade de ser mãe, e assim adotou duas irmãs. “Quando vi as minhas filhas, o mundo parou”, conta ela nas Páginas Vermelhas. Glória Maria podia não saber, mas estava aguardando o momento certo. Feliz, incluiu na sua vida duas meninas e trocou a liberdade de decidir sozinha para decidir por três. Cada mulher no seu tempo.
Cada uma também com suas preferências. Gosto não se discute? Aqui, na Tpm, se discute sim. Vai lá na página 52. Não que o assunto seja muito conversado entre eles, os homens, nem entre os casais, mas as mulheres, já acostumadas ao “procedimento padrão”, vão logo tecendo opiniões. O tema? Depilação íntima masculina. Seu namorado já fez? Você aprovou? Ou não fazia ideia de que reles pelos tinham ganhado as manchetes? O tema não só é de interesse do público feminino como do mercado, que assiste a grandes marcas desenvolvendo lâminas e barbeadores de alta tecnologia (olha ela aí de novo) visando os consumidores vaidosos – e as parceiras interessadas.
Cada um no seu quadrado.
Carol Sganzerla, diretora de redação interina