Assista: movimento que mudou o Largo da Batata, em São Paulo, foi criado pela arquiteta Laura Sobral. Ela se envolveu tanto com a causa que se casou na praça!
A apropriação de espaços urbanos para disseminar cultura ganhou espaço na discussão da cidade, especialmente em São Paulo. Uma das iniciativas que mais chamou a atenção foi A Batata Precisa de Você, que deu início a uma série de atividades no grande vazio de concreto da zona oeste da capital paulistana.
A arquiteta e produtora cultural Laura Sobral, de 30 anos, foi a responsável por isso. Ela resolveu revitalizar o Largo da Batata — espaço vizinho de sua casa — e desenvolveu diversas atividades culturais por lá. Para a Tpm, ela conta que pesquisa espaço público e intervenções urbanas há alguns anos e, com isso, chegou à conclusão de que "o movimento deve ser contínuo para gerar resultado".
Laura confessa que relutou para por suas ideias em prática por saber a responsabilidade de estar todo fim de semana com uma atividade no local. Chamou primeiro seus pais (que também moram na região), seu marido e dois vizinhos. A divulgação foi feita de maneira tímida pela internet, chamando para um "leituraço". Durante a atividade, que aconteceu em janeiro de 2014, algumas pessoas se aproximaram com curiosidade. Logo em seguida, o alcance pelas redes sociais foi crescendo e mais pessoas se interessaram pela causa, em sua maioria moradores e frequentadores da Batata.
"A nossa teoria é de que onde não tem nada, pode ter tudo. É preciso evidenciar o potencial de cada espaço, e a ocupação urbana acaba criando a probabilidade de encontros entre pessoas que querem discutir isso. Antes não acontecia nada aqui, hoje o Largo da Batata já é um lugar em que as pessoas pensam quando querem articular algum movimento", diz a ativista.
De fato, mais atividades começaram a acontecer depois que o projeto surgiu. Já passaram por lá uma feira de livros e outra de alimentos orgânicos, a festa junina bombou e recebeu centenas de pessoas. Tudo isso chamou a atenção da subprefeitura do bairro de Pinheiros e mais ainda: aumentou o amor da arquiteta pela causa. Tanto é que ela e Leo se casaram no próprio Largo em uma cerimônia pública, cheia de batuque que nem mesmo a chuva atrapalhou.
“É a primeira vez que o poder público tem essa visão de entender que a ocupação de um espaço para torna-lo mais vivo é benéfica. A prefeitura foi parceira em algumas atividades que a gente deu, só que tem muita coisa pra cuidar na cidade. É mais uma relação de simpatia e compreensão, o que já é bem inovador quando falamos de São Paulo”, conta Laura.
Para organizar todas as atividades, foi criado um calendário aberto dentro do grupo do movimento no Facebook. A dinâmica é simples: você chega, sugere o seu evento, marca a data e a galera se dispõe a participar e ajudar na viabilização, seja com equipamentos, mobiliários ou mão de obra. Não há uma curadoria: é livre.
Nano Gontarski, de 28 anos, fala que a sua vivência na região mudou com o A Batata Precisa de Você. Ele conheceu vizinhos que não conheceria em sua rotina diária de casa para o trabalho. "O mais interessante é que mesmo fora dos encontros no Largo comecei a interagir com vizinhos, e esta interação com as pessoas e o meio me instigou a observar os espaços públicos com outros olhos. Agora, procuro oportunidades de transformá-los em locais de convivência para as pessoas que moram ou circulam no entorno".
A primeira atividade de Nano no grupo foi a construção dos "batata-bancos", como são chamados os bancos construídos reutilizando pallets de madeira. Desde então, também ajudou na construção de canteiros para o plantio de jardins e de... batata! O próximo projeto é criar uma cisterna, sistema de captação da água da chuva, já que São Paulo está em uma crise hídrica pela falta de investimentos.
“Penso que o principal ponto é trazer a percepção de que os espaços públicos são públicos. A oportunidade que a iniciativa dá para que as pessoas sintam-se à vontade e com vontade para interagir com o meio e com as pessoas que estão lá é muito importante”, conclui o também morador do bairro, Nano.
Laura completa: "Eu acho que você tem uma cidade mais viva com isso, e todo mundo quer viver em um lugar melhor. Na hora que as pessoas entendem que o espaço público não é de ninguém, mas sim de todo mundo, você levanta o debate de para quem e para que é a cidade. A gente não quer melhorar o Largo da Batata, né? A gente quer uma rediscussão da cidade como um todo, essa é só a nossa parte territorial do problema.”