Barrigão na prancha

por Letícia Flores

Conheça a história de Neymara Carvalho, a bodyboarder que foi campeã quando estava grávida

 

O conforto em estar dentro d'água é algo antigo na vida de Neymara Carvalho. Hoje, aos 34 anos, ela soma cinco títulos mundiais, sete campeonatos brasileiros e mais umas dezenas de campeonatos na Ásia, África do Sul, América Latina, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Todas as vitórias foram no bodyboard, esporte aquático onde o atleta desce a onda deitado ou de joelhos em uma prancha com o auxílios de pés de pato.

Tudo começou ainda na infância quando Neymara resolveu copiar o irmão. "Como ele era mais velho, tudo que ele fazia eu queria fazer. Éramos uma família bem simples que vivia às margens do Rio Jucu, no Espírito Santo. Estávamos praticamente dentro do rio. Foi lá que eu aprendi a nadar, e foi em um lugar muito privilegiado, pois ali o rio deságua no mar", conta. Um pouco mais tarde, o irmão despertou interesse pelo surf e claro que Neymara foi atrás. Mas seus olhos brilharam mesmo quando ela começou a ver os turistas indo para lá praticar um esporte em que se deitava na prancha. E foi por causa de uma turista desatenta que esqueceu sua prancha por lá que a capixaba começou a praticar bodyboard.

Daí em diante foram só viagens, conquistas, vitórias e o topo de pódios pelo mundo todo. Mas em 2005, a carreira que estava num momento positivo levou um susto. Neymara, que já estava desconfiada, fez um teste e descobriu que estava grávida. "Na hora minha cabeça foi para os patrocínios que eu tinha acabado de fechar. Não bastasse o susto de ficar grávida 'sem querer', eu precisava avisar meus patrocinadores e talvez essa atitude atrapalhasse minha carreira", revela. Neymara engravidou do seu marido na época, o surfista profissional Daniel Hardman.

Quem deu a notícia aos patrocinadores foi a sua empresária da época e Neymara começou a se tranquilizar com a situação ao ouvir uma frase da sua mãe: "filho só acrescenta". Neste caso, a "praga" da mãe pegou pelo lado positivo. Luna, que ainda estava dentro da barriga, acrescentou tanto que Neymara foi campeã enquanto estava grávida.

 

 

Luna a caminho
Durante os três primeiros meses da gravidez, a bodyboarder ficou afastada de qualquer atividade. "Minha médica achou melhor eu ficar sem praticar nada porque os três primeiros meses são os mais tensos, mas com um mês e uma semana eu fui campeã do campeonato brasileiro. As pessoas desacreditavam da minha atitude, chegavam em mim e falavam 'você é louca?'. Primeiro eu me assustava, mas depois eu aceitei que eu era atleta e que me sentia bem fazendo aquilo. Não tinha sentido eu estar bem e estar prejudicando o meu bebê", explica Neymara

"Eu já conversava muito com a Luna desde aquela época. Sempre que eu estava entrando no mar, eu falava 'minha filha, vamos nos divertir'. Minha médica também me deixou muito tranquila. Tudo o que eu fiz foi com a aprovação dela e ela disse que eu saberia o momento de parar”" conta. E Neymara realmente soube. Na volta de uma viagem a Portugal, ela sentiu que era o momento de parar e tudo aconteceu de maneira natural. Neymara começou a sentir vontade de ficar em casa, só lendo sobre bebês e a saliência da barriga começou a incomodar. "Competi até o quinto mês de gravidez, mas entrava no mar todos os dias até o oitavo", revela.

Com Luna nos braços
Com apenas 40 dias de vida, Luna sofreu a primeira consequência das vidas dos pais. "O Daniel tinha um campeonato em Búzios e eu fui com ele. Essa viagem foi importante pra eu decidir seu queria voltar a competir. Aí eu entrei no mar e dei um 360º e descobri que queria fazer aquilo para o resto da minha vida", conta. A Luna acompanhou os pais na viagem e com nem dois meses de vida ela teve seu primeiro contato com o mar. "Nesta viagem eu ouvi uma frase que foi crucial para me fazer continuar competindo: a criança é que vem para a sua vida, não é você que vai para a vida dela", reflete a campeã.

Aos dois meses de vida, Luna fez sua primeira viagem internacional. Foi para o Equador acompanhar a mãe em uma competição. Neymara amamentava a filha entre as baterias. "Nada se compara a ganhar uma etapa e levar sua filha no pódio com você. Isso sim é um verdadeiro troféu", fala Neymara emocionada.

"Nada se compara a ganhar uma etapa e levar sua filha no pódio com você. Isso sim é um verdadeiro troféu"

Hoje, aos cinco anos, Luna já tem um passaporte bastante carimbado com vários destinos: Equador, Portugal, Austrália, Estados Unidos (Havaí) e Chile. Ela tem também uma prancha, uma roupa de borracha e bastante protetor solar, mas ainda não despertou nenhum interesse por esportes aquáticos. "Por enquanto ela tem gostado de fazer ginástica rítmica na escola", conta a mãe que também diz que não pretende forçar nada.

Hoje em dia Neymara não consegue mais viajar tanto levando a filha por conta da escola, mas ela revela que sempre leva um brinquedo da Luna. "É uma grande preparação psicológica quando eu vou viajar sem ela. É mil vezes melhor viajar com ela passando perrengue, do que viajar sem. Mas ela está em uma fase importante de formação. Só me resta levar um brinquedo dela. Tenho carregado pra cima e pra baixo o Tasha, do Backyardigans", disse rindo.

O nome Luna, que em espanhol e italiano significa lua, não veio por acaso para a filha de Neymara. "Eu fiquei noiva do Daniel no Havaí, em uma noite de lua cheia. Não tinha como ser outro nome". Resta alguma dúvida de que essa menininha veio realmente para iluminar?

 

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