por Nina Lemos
Tpm #164

Nós crescemos, ganhamos independência, vamos morar sozinhas, nos livramos de alguns boys controladores pra depois nos apegarmos em apps com pinta de baby-sitter

“Você precisa tomar um copo de água.” Quem me disse isso não foi a minha mãe nem alguma amiga geração saúde, mas meu celular. Ele também me mandou tomar remédio e levantar, já que estava havia muito tempo sentada.

Sim, todo mundo agora tem babás eletrônicas. Estão todas lá, disponíveis na lojinha de aplicativos do smartphone com definições que falam em “bem-estar”. Fiz o teste na semana em que estava doente. Imaginei que seria útil. Meu celular (um iPhone 6) já conta diariamente quantos degraus subo e quantos quilômetros ando. Isso veio instalado nele. Às vezes, até me sinto orgulhosa com o resultado. Até aí, ok.

Mas quando passei a receber informações sobre quanta água bebo e quanto necessito beber para estar saudável, quando é hora de ficar 5 minutos de pé e quantas horas dormi, me senti subestimada. Eu sei o que é comer direito. Também sei o que é dormir bem. Não preciso de um telefone pra me dizer isso.

E me peguei pensando: Por quê? Pra quê? Nós crescemos, ganhamos independência, vamos morar sozinhas, nos livramos de alguns boys controladores pra depois nos apegarmos em apps com pinta de baby-sitter? Aplicativo que nos alerte: desligue o celular, olhe o mundo, ninguém faz, né?

Créditos

Ilustração: Manuela Eichner

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