Palavra inapropriada com seis letras. Uma pista: começa com “v” e termina com “a”
Varada? Vareta?
Hum, você pode fazer melhor que isso.
Várzea? Vacina? Vatapá?!
Não. A palavra é (tirem as crianças da frente do computador) vagina.
Oi? Vou soletrar para tirar qualquer dúvida. V-a-g-i-n-a. Como assim? Mas não se trata de um termo emprestado de aulas de biologia, frequentador de manuais de anatomia, useiro e vezeiro do vocabulário médico? Sim. Já explico, ou ao menos tento explicar, porque é mesmo difícil de entender.
O mais recente livro de Naomi Wolf (leia entrevista aqui) chegou chegando ao mercado. Pelo tema, por supuesto, e também pela maneira como foi inicialmente anunciado na loja do iTunes: “V****a”.
Pois é. A palavra “vagina” estava devidamente registrada no índex de proibições do site de vendas da Apple. Atenção, isso não aconteceu na prateleira empoeirada de uma livrariazinha escondida nalgum buraco do Cinturão da Bíblia, aquela região dos Estados Unidos em que Darwin é o capeta e o evolucionismo, uma blasfêmia.
Pelo contrário. O surto de pudor ocorreu nos servidores da marca mais valiosa do mundo, cotada em US$ 104 bilhões e com sede no progressista Vale do Silício, na costa oeste americana. A empresa, ironia, tem uma maçã mordida como logomarca, numa alusão à mais famosa transgressão feminina.
Antes de dizer que essa sandice é coisa de gringo nerd (e lembrar que o Facebook, olha aí a confirmação!, censurou fotos de mães amamentando), vale lembrar que do lado de baixo do Equador não é muito diferente.
A própria Tpm já teve que negociar longamente o uso da palavra “vagina” em uma de suas capas. A companhia então responsável pela distribuição da revista às bancas temia que alguém se sentisse ofendido ao ler aquilo – curiosamente, quando a Trip estampou “pênis” em letras bem dotadas, ninguém estranhou.
Como argumenta Naomi, “a vagina é considerada, filologicamente, ‘a pior coisa possível’”. Nem é preciso mencionar seus sinônimos de alto e baixo calão ou gastar seu latim com filosofia da alcova para entender o que isso significa para as mulheres.
Melhor que, como escreveu aquele mineirinho sem-vergonha, sejamos pornográficos (docemente pornográficos).
Fernando Luna, diretor editorial