Tpm

por Marcela Paes

Entrevistamos a dupla que mistura culinária com bons papos em um programa na internet

Sair do interior para vir morar em São Paulo nem sempre é uma experiência fácil. A saudade da família, do clima de cidade pequena e também das comidinhas preparadas com o amor e carinho pelas mães e avós acabam pesando até nos corações mais gelados. Mas apesar das dificuldades, o banzo interiorano pode levar a boas ideias, como no caso da jornalista Clara Vanali, 25, e do produtor Gabriel Baroni, 24. A dupla que se conheceu no trabalho em uma editora mantinha há tempos vontade de ter um projeto mais autoral. Por isso, só bastou um e-mail de Gabriel para Clara com o esboço da ideia para que o projeto Apê.ritivos surgisse.

No ar há seis meses, o programa veiculado no YouTube é definido por eles como um "capricho de dois amigos que querem dividir receitas, vivências, ansiedades, energias e saudades que reuniram depois de tanto tempo longe da família e de suas cidades do interior."

Para os dois, apesar de apresentar receitas, o Apê.ritivos não pode ser visto como um programa culinário. "A nossa ideia não é que seja um programa de culinária, mas sim um programa de conversas. O que a gente quer é contar uma grande história. Eu e o Gabriel moramos em São Paulo sozinhos, eu há sete anos e o Gabi há cinco. A gente queria falar sobre isso também... Pensamos em juntar nossas saudades, ansiedades, energia e tudo o que sentimos em uma grande conversa no apartamento. Se a pessoa quiser só a receita ela pode digitar no Google. Nossa ideia não é fazer um esquema Ana Maria Braga", explica Clara.

Vindos de Araçatuba e Pirassununga, Clara e Gabriel, apostam no "comfort food" e também no "comfort talk" como ingredientes fundamentais da receita do programa. Temas como desejos para o Ano Novo, amor, ansiedade e saudade permeiam os papos apresentados pela dupla em cada episódio, além, é claro, de uma receita fácil e saborosa. "A nossa preocupação é ensinar coisas simples, que todo mundo possa fazer. E também relacionar com a afetividade! Nunca vai aparecer um filé ao molho madeira no Apê.ritivos" [risos], contam.

Conversamos com Clara e Gabriel para saber um pouco mais sobre essa história.

Tpm - Como surgiu a ideia do programa?
Gabriel: Surgiu da gente poder juntar o que eu já fazia com o blog de comida e o que a Clara fazia no blog de crônicas dela. Queríamos fazer uma receita fácil, mas com um outro atrativo, não só a receita. Mandei um e-mail super básico pra ela falando sobre a ideia e também deixando uma abertura caso ela não gostasse da proposta, mas ela aceitou e adorou.
Clara: Eu pensei no nome e o Gabi adorou. A grafia é o mais legal. O Gabriel é muito legal pra trocar ideia, porque ele topa as coisas. Nossas ideias batem muito.

Quem escolhe as receitas do programa?
Clara: Normalmente ele tem a ideia do doce e eu do salgado e vice-versa. A gente troca muita ideia, mas o Gabriel gosta mais de gastronomia. No primeiro episódio, nós falamos sobre um prato que eu sempre fazia para os amigos que iam a minha casa, o tuna pasta. Nesse último episódio o Gabriel teve a ideia de fazer maçã-do-amor e eu de fazer a massa que a gente comeu no Spot [restaurante na região do Jardins], um restaurante aqui perto de casa. Eu testei, vi que deu certo e combinei com o Gabi.

Vocês acham que no interior existe mais essa cultura de reunir os amigos para conversar enquanto se cozinha?
Clara: A minha experiência com esse tipo de coisa começou mais em São Paulo. Eu chamava meus amigos para comer na minha casa porque não tinha minha família e eles se tornaram isso aqui. O tuna pasta surgiu em São Paulo...Mas no interior tem essa coisa de churrasco com todos os amigos e as pessoas têm mais tempo. Aqui é difícil reunir todo mundo.
Gabriel: Pra mim é o contrário. O papo de cozinha tem muito a ver com o interior. Na verdade, eu combino com amigos de irem na minha casa, mas é mais difícil reunir todo mundo do que em Pirassununga, onde eu morava. Por ser apartamento e pequeno, os vizinhos reclamam. Lá a gente fica o dia inteiro cozinhando...

Qual a parte que vocês mais gostam no programa?
Clara: As conversas. A gente grava em um ambiente só a conversa inteira e depois elas entram como pano de fundo das imagens. Essa coisa da gente ter a conversa como o principal de tudo é que é o diferente. Você vê muitos programas de culinária, mas o nosso papo é o que muda. Os dias de gravação são muito legais lá em casa porque são dois cinegrafistas e um fotógrafo. Todo mundo trabalha por amor e amizade, porque pagamos um valor simbólico. Então a gente faz comida pra todo mundo e no fim comemos juntos! 

Já aconteceu de um sugerir um prato e o outro odiar?
Clara: A gente tem muita liberdade pra falar quando não gostamos da sugestão um do outro, mas quase nunca acontece de discordarmos em relação aos pratos. Às vezes temos assuntos diferentes sobre os quais queremos falar. Nós temos tanta coisa na cabeça... Mas no geral nos damos bem.
Gabriel: Nós fazemos vários pratos antes de chegarmos ao resultado do que vamos fazer no programa. No último episódio a Clara sugeriu o macarrão com melão e na hora em que ela falou eu perguntei: "tem certeza, Clara?" [risos]. Mas aí nós fomos jantar no restaurante. Eu fiz na minha casa, ela fez na dela e acabamos adorando! Algumas receitas acabam indo muito por acaso.
Clara: Teve a receita do bolo colorido que a gente fala que foi por Deus. [risos]. Nenhum dos dois tinha feito em casa. Fizemos pela primeira vez na gravação e o resultado ficou lindo! A nossa reação no vídeo é engraçada. Foi meio "Nossa, funcionou!" [risos].

Vocês se inspiram em algum cozinheiro/apresentador?
Gabriel:
Sou apaixonado por programas de culinária. Desde o básico da Palmirinha até os mais elaborados. Eu gosto muito da Nigella, gosto do clima. Até algumas coisas a gente acaba pegando, ela é muito carinhosa.
Clara: Também gosto da Nigella. Ela come com prazer. Também gostamos do Olivier Anquier. Ele conversa, faz bagunça... A gente não gosta de coisas muito organizadas. [risos]

Depois da estreia do programa os amigos de vocês começaram a pedir pratos?
Gabriel: Ninguém quer mais ir pra minha casa só pra conversar, tem que ter comida envolvida [risos]. Eu já fiz várias vezes receitas do Apê.ritivos, principalmente o petit gateau.
Clara: Nossa, muito! Ontem mesmo uma amiga minha me pediu para eu cozinhar pra ela. 

Vocês ainda têm saudades de casa?
Clara: Eu sinto muita saudade, principalmente no domingo à noite. Mas essa solidão traz inspiração pra gente, porque se eu morasse com a minha família aqui o programa nunca teria surgido. A nossa história possibilitou o programa, porque nós somos do interior. Mas se o programa tivesse começado logo que nos mudamos pra São Paulo, com certeza seria bem mais melancólico! Um chororô! [risos]. Hoje a gente se acostumou e até faz piada com a saudade.

Qual o prato favorito de cada um?
Clara: Tenho um prato que me traz muitas memórias que é couve flor a milanesa. Minha avó fazia muito. Hoje em dia ninguém come fritura... Dessa última vez que eu fui pra Araçatuba, depois de três meses sem visitar, minha mãe fez. É muito memória!
Gabriel: Sou viciado em doce. Brigadeiro. Você não está bem, faz uma panela de brigadeiro à noite e come tudo sozinho! [risos].

Já pensam em coisas diferentes para o Apê.ritivos? Quais os planos daqui pra frente?
Gabriel:
Vamos completar seis meses agora. Nossa ideia é fazer mais vídeos e menores. Também pensamos em fazer um episódio com os nossos amigos, fazer algo em um feira ou um piquenique... Muitas ideias. Até TV mesmo, apesar da gente adorar a internet porque nos permite fazer tudo com a nossa cara. Nossa meta, se o Apê.ritivos continuar indo bem, é nos dedicar só ao programa. Se Deus quiser vai dar certo.

O que mudou na vida de vocês depois da estreia do programa?
Gabriel: Mudou muita coisa. Primeiro as pessoas que estão perto da gente, os amigos sempre vêm comentar com a gente, pessoas que não conhecemos! Fui a festa da Clara e foi como se todos os amigos dela também fossem meus amigos.
Clara: Foi como respirar novamente. Eu tenho minha rotina no meu trabalho e depois do primeiro programa as pessoas foram tão receptivas e amorosas que isso acabou criando uma nova alegria na minha vida. Eu e o Gabi sempre quisemos ter um projeto pessoal. E muitas pessoas também têm essa vontade. Então tem gente que começou a chegar até nós por causa disso. No começo achei que seria difícil mostrar a minha casa. Mas nós estamos levando de uma forma tão leve que tem sido um prazer. A gente queria ser feliz com esse projeto. O Apê.ritivos foi pensado assim. O programa não é pra ser estressante. O que está dando pra fazer é uma vez por mês e a gente está mantendo assim pra fazer com qualidade, tranquilo.

Veja abaixo os quatro episódios já gravados do programa: 

Vai lá: www.facebook.com/programaape.ritivos
www.youtube.com/programaaperitivos

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