Mudada, madura e tranquila, Deborah Secco é muito mais do que um rosto nas revistas de fofoca
Será o “h” de D-e-b-o-r-a-h reflexo da crença em numerologia? De fato, sim. A superstição é da mãe: nome de herdeiro se escreve com sete letras. Os irmãos R-i-c-a-r-d-o e B-á-r-b-a-r-a legitimam a sorte lançada aos rebentos. Da vez que a matriarca abriu exceção, A-n-a L-u-i-z-a, restaram as lembranças para contar a história da filha de 5 anos que morreu vítima de um erro médico. À Deborah, na época com 1 ano e meio, foram destinadas roupas, brinquedos e a esperança da família Secco em voltar a sorrir. Até fisicamente eram parecidas. “Meus pais fizeram uma transferência, então eu ganhei o peso de suprir uma felicidade que foi tirada deles”, conta. Coincidência ou não, a então caçula também apresentava uma saúde frágil e alergias semelhantes às que selaram o destino da irmã. Hospital era uma constante na rotina de Deborah. “Uma tosse já era motivo de preocupação”, completa.
Soma-se à saúde delicada a infância humilde no bairro carioca de Jacarepaguá. Sem “noção do que era ter dinheiro”, não choramingava por bonecas. Contentava-se com suas amigas imaginárias. “Criava meus universos particulares. Dei trabalho pela minha hipercriatividade”, lembra. Focada no seu mundinho e superprotegida pelos pais (uma dona de casa e um professor de matemática), cresceu conformada com o curso natural das coisas: tudo era sempre bom, nada nunca era ruim.
Foi há pouco tempo que sacou, com a ajuda de 15 anos de análise, que sua incapacidade de dizer “não” veio daí. Explica: “Antigamente me botavam uma roupa nada a ver comigo e eu não me negava a usar. Pensava que ia me prejudicar, que iam me achar louca, que as pessoas têm um emprego, que sustentam família. Cedi muito. Sempre fui de me fazer sofrer para não fazer os outros sofrerem”. Admite que só agora a maturidade lhe deu liberdade e segurança para negar convites. Seu casamento com o jogador de futebol Roger Flores (atualmente num time do Qatar, no Oriente Médio), que aconteceu em junho, é um exemplo da mudança de comportamento da moça. Nenhuma foto foi divulgada na imprensa. Nem na mais insistente revista de fofoca. Hoje, prestes a completar 30 anos (em 26 de novembro), Deborah se recolhe à medida do necessário, mas diz nunca ter entendido as páginas e páginas gastas “falando de mim”. “Temos que reeducar as pessoas a querer ler o que é interessante. Se só damos futilidade, estamos sendo coniventes com essa burrice generalizada”, reflete.
As regras do jogo
Enquanto contesta – e devora um Toblerone – logo vai acenando que é livre de preconceitos. No universo particular de Deborah não existe certo nem errado. “As pessoas se preocupam com o que os outros vão pensar e demoram a ser felizes de verdade. Prefiro bater com a cabeça dez vezes, mas ter história para contar. Fiz coisas que hoje sei que foram ruins pra mim, não porque os outros falaram, mas porque vivi essas experiências”, admite.
E assim, sob os olhos do público, Deborah cresceu na TV. Entre sua aparição em Confissões de Adolescente como a moleca Carol (dos 12 aos 14 anos) e as atuais gravações como protagonista do longa O Doce Veneno do Escorpião, baseado na história da ex-garota de programa Bruna Surfistinha, foram 14 novelas, sete filmes e quatro seriados. Nos mais de 20 anos de televisão, cinema e teatro, emendou um projeto no outro e é requisitada por todos os diretores da Globo. O novelista Manoel Carlos explica: “Ela é uma das jovens mais talentosas da televisão, além de ser encantadora e leal. Fez a Íris, em Laços de Família (2000), uma adolescente sensual e carismática. Foi uma revelação. Deborah é disciplinada, condição fundamental para uma carreira sólida”.
Em 15 anos empresariando a atriz, Lucia Colucci nunca a viu se atrasar para um trabalho. “Deborah é perfeccionista”, revela. E sabe como ninguém o quanto sua imagem dá retorno aos clientes que a solicitam para campanhas e desfiles de moda – os cachês variam entre R$ 25 mil e R$ 30 mil. A beleza da moça salta aos olhos, mas ela demorou a reconhecer isso. “Durante muito tempo a Deborah não se achou bonita”, entrega Lucia. Quando mais nova, colocava duas calças para tentar ser “gostosona”. Depois foi tomando consciência de que seu corpo era aquele, magrelo mesmo. Hoje com 54 quilos e praticante de Pilates, engordou oito deles para viver Bruna Surfistinha – “mas com 46 quilos estava magra demais”, diz. Não se arrepende de já ter estado em um sem-número de capas de revistas de beleza – muitas delas estampando dicas miraculosas em suas aspas – e explica sua disposição: “Sempre falo que não nasci bonita, que não existe milagre. Tento trazer um pouco de verdade”.
Deborah só não topa propagar bebida alcoólica e cigarro. Hábitos “da noite” não combinam com ela, por mais que sua vida escancarada e os relacionamentos superexpostos tenham deixado essa impressão. Dessas relações, as mais memoráveis foram com o cantor Falcão, os atores Dado Dolabella, Maurício Mattar e Marcelo Faria e com o diretor Rogério Gomes, 16 anos mais velho, com quem foi morar aos 18, saída do apartamento que ela comprou aos 12 para a família. A curtição de Deborah é ficar em casa com o marido e com as poucas amigas. Uma delas, a produtora Joana Braga, “amigona de todas as horas”, diz que nada em Deborah é meio-termo. “Ela se relaciona com quem se apaixona. A imprensa criou um personagem que não condiz com ela”, opina. Dia desses, numa cena em que precisava simular o uso de cocaína, falou: “Como é que faz?”. “Sou muito correta, careta, nunca usei droga, meu foco é outro”, conta.
O zunzunzum atrás dos passos de Deborah sempre foi alimentado pela intensidade com que decidiu tocar sua vida. A morte precoce da irmã a fez crer que a vida poderia acabar a qualquer momento. Só que lá pelos 23, 24 anos, descobriu que não podia ser tão verdadeira quanto desejava e se deu conta da proporção das suas atitudes. “Tive que decidir se ia mandar um foda-se e viver como queria ou se ia me adaptar. Cheguei a um equilíbrio em que faço tudo sem me expor tanto”, pondera. É reconhecendo seus tropeços e enxergando as mudanças que ela contempla a chegada dos 30, esperando outros tão – ou mais – intensos anos.
Tpm+
Veja o que rolou durante o ensaio de fotos.