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Alguém em casa

Dira Paes conta como foi atuar no longa Estamos Juntos, onde vive uma líder do MSTC

Alguém em casa

Por Dira Paes TPM #97

em 5 de abril de 2010

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Dira Paes, editora convida especial da Tpm, acaba de filmar Estamos Juntos, de Toni Venturi. Ela precisou encontrar uma maneira de ser atriz em meio à verdade de toda uma comunidade de moradores sem-teto no centro de São Paulo

Fui convidada para participar do filme Estamos Juntos, de Toni Venturi, sobre uma comunidade de moradores sem-teto no centro de São Paulo. Para isso, passei pouco mais de uma semana convivendo com Nete, líder do MSTC (Movimento Sem-Teto do Centro de São Paulo), em um prédio ocupado na Estação da Luz. Nete é o perfil da guerreira contemporânea. Ela tem beleza, delicadeza, força, obstinação e uma dignidade de alguém que, como eu e você, tinha uma casa, uma família e, de repente, tudo mudou. Desemprego, agonia, filhos e, no fim, a ponte e o viaduto como moradia. No papel de uma líder comunitária contraceno com a protagonista Leandra Leal. Ela interpreta uma médica que se descobre doente e, a partir disso, repensa sua vida ao ter contato com o movimento de ocupação. Os moradores do prédio também estiveram nas filmagens: ora como figurantes, ora em papéis menores.

O MSTC é um movimento pacífico em prol de habitação. Entre os mais de 500 moradores da Ocupação Mauá, na Estação da Luz, estão idosos, famílias e mulheres abandonadas por seus homens, desempregadas, sozinhas com seus filhos. Mulheres que ficaram, literalmente, à margem do concreto. O absurdo é pensarmos que São Paulo, essa metrópole gigantesca, tem mais de 400 mil imóveis inabitados só no centro e uma carência de moradia em torno de 5 mil famílias, o número de inscritos no MSTC. A maioria feminina conseguiu criar um movimento extremamente respeitoso e organizado.

A casa é nossa
As ocupações de prédios abandonados no centro da cidade são sempre pacíficas. É importante que as pessoas tirem um pouco desse ranço sobre os movimentos de ocupação. Entendam que estamos falando de crianças e mulheres abandonadas, idosos e pessoas que ficam sós no mundo. Seus parentes moram em outros Estados e eles não têm condições de regressar ou de obter ajuda. Com a ocupação, o MSTC não só limpa o prédio, como restabelece toda a fiação, a pintura, o encanamento. Lá dentro existem leis de convivência, em que não é permitido beber, usar drogas nem dizer não para alguém que esteja necessitado. A Nete, que já tem três filhos, recentemente adotou outra criança, filha de uma consumidora de crack.

Aquilo tudo é tão real, aquele prédio enorme com todos aqueles trabalhadores, pessoas dos mais diversos sonhos, crianças com toda a sede de aprendizado, com toda a beleza, inventando brincadeiras no meio do concreto. O que mais me impressionou foi a sensação de como é que eu poderia conseguir ser atriz ali, no meio daquela verdade toda. Meu grande desafio era me misturar com a verdade deles. E tentar quase desaparecer lá no meio. Então eu submergi, mergulhei no universo daquela mulher, na obstinação em conseguir uma casa para transformar em lar. O resultado disso você pode conferir no filme, ainda sem data certa para estreia, provavelmente no segundo semestre deste ano.

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