Alessandra Negrini

por Luciana Obniski
Tpm #118

A atriz tem vivido mais leve: aprendeu a lidar com a privacidade

A atriz Alessandra Negrini tem vivido mais leve: aprendeu a lidar com a privacidade, a exposição e (quase) com a fama de sex symbol. Aos 41 anos, fez as pazes com o corpo, quer exercer o desapego e segue circulando da novela mais pop ao cinema alternativo

Eu não costumo abrir a minha casa para entrevistas. Me prometi que nunca mais faria isso”, dispara Alessandra, já no começo da conversa, em seu apartamento de São Paulo. Num primeiro momento, Alessandra Negrini intimida. Esse, porém, é só um obstáculo criado pela atriz para afastar a verdadeira Alessandra. Muito mais do que mal-humorada – como já foi tachada inúmeras vezes pela imprensa –, ela é confiante e consciente de seu talento. E inteligente. Muito inteligente. Características que certamente a ajudaram a chegar ao pelotão de frente das atrizes brasileiras logo em seu primeiro grande trabalho na TV Globo, a minissérie Engraçadinha, em 1995, e a continuar nele até hoje, aos 41 anos. Dessa época, também guarda o posto de sex symbol, que continua rejeitando, mas agora com mais doçura.

“Sempre me perguntam dessa coisa de ser sexy, mas não sei se sou. Fico lisonjeada de as pessoas acharem isso, mas é o meu jeito natural. Sou bem resolvida com o meu corpo”, diz. “Preferia ter 2 quilos a menos, mas não tenho mais saco para fazer dieta. Assumi isso pra mim. Quando era mais jovem, uma celulite, uma estria por causa da gravidez me incomodavam mais. Eu fazia massagem, mil coisas. Hoje me acho mais bonita do que antes. Não é porque meu corpo está melhor, é porque estou mais livre comigo mesma.”

Melhor ou pior, fato é que nem o corpo nem a pele perfeita denunciam que ela é mãe de um adolescente de 15 anos, Antonio (do casamento com o ator Murilo Benício) – nas palavras dela: “Enorme, lindo, mas só quer saber da namorada...” –, e da “supermusical” Betina, 7. O cantor Otto, pai da menina e ex-marido da atriz, se derrete: “Eu tive a sorte de ter ela como mãe da minha filha. Ela é muito atenta à cria, muito educadora, uma mãe sensacional. Ela passa uma educação para Betina que eu não passaria. É uma mulher especial, que mudou muito a minha vida e o meu pensar. Foi a primeira mulher com quem me casei e provavelmente será a única. Só não é perfeita, graças a Deus”, brinca.

Alessandra sabe que nasceu para ser mãe e trata isso como prioridade em sua vida até hoje. “Sempre quis ter filhos cedo. Brinco que engravidei do Antonio de tanto que desejei aquilo. Ele não foi 100% planejado, mas sentia um vazio muito grande na minha vida, minha irmã ficou grávida três meses antes e no fundo eu sabia que queria engravidar”, assume.

Concentração máxima
Obstinada, Alessandra não é do tipo que faz planos profissionais – nem pessoais –, mas aproveita plenamente os que se apresentam a ela. “Tudo o que faço, faço de coração inteiro”, diz. “Gosto da preparação, dos ensaios, mas para mim o momento mágico do ator é quando gritam ‘ação’. Ali é quando me realizo, e acho que esse poder de concentração e de se adaptar a situações diversas é necessário e facilitou muito a minha vida.” O diretor Afonso Poyart, que a dirigiu no longa-metragem Dois coelhos, em cartaz no país, engrossa o coro. “É impressionante o poder dela em frente às câmeras. Em algumas das cenas mais difíceis do filme, só precisamos fazer um ou dois takes, tamanha a precisão da atuação dela”, explica.

“Já sofri por amor e também já me apaixonei perdidamente. Uns homens tiveram mais importância do que outros, claro, mas tive muito mais alegrias com o amor do que tristezas”
Alessandra Negrini, atriz

Outro projeto que faz os olhos de Alessandra brilharem é o longa O abismo prateado, do diretor Karim Aïnouz, que tem previsão de lançamento em abril. “Tenho muito orgulho desse projeto. É um filme extremamente feminino, delicado, que fala do dia em que uma dentista carioca, uma mulher absolutamente normal, descobre pelo telefone que o marido quer o divórcio.” A trama foi baseada na canção “Olhos nos olhos”, de Chico Buarque, e trata da separação sob o ponto de vista feminino. As referências para a protagonista vieram da vida pessoal da atriz. “Mas é assim com todo personagem. A gente acessa e põe para fora coisas que já aconteceram com a gente”, diz.

Amor, meu grande amor
O assunto não se prolonga muito porque, ao contrário da personagem, que acaba de receber a notícia do divórcio, Alessandra está namorando o fotógrafo João Wainer desde o fim de 2011. “Estou muito, muito feliz e é só isso que vou falar sobre esse assunto, porque o João não é do meio e prefiro preserválo”, explica. E aproveita para dizer que escolhe viver o amor a ficar lembrando da dor do término. “Já sofri por amor e também já me apaixonei perdidamente. Uns homens tiveram mais importância do que outros, claro, mas tive muito mais alegrias com o amor do que tristezas”, finaliza. Ela prefere dizer que O abismo prateado a rendeu um prêmio de melhor atriz no Festival Internacional de Cinema de Havana, em Cuba. “Mas estava trabalhando e não pude ir. Uma pena, porque é um festival importante e adoraria estar presente.”

Alessandra não pôde viajar porque estava ensaiando a peça A propósito de srta. Julia, em cartaz desde o início do ano no Rio de Janeiro e agora em turnê nacional. O enredo é uma adaptação de Senhorita Julia, texto do século passado do sueco August Strindberg, para o Brasil do começo dos anos 2000 e gira em torno do amor proibido entre a filha de um burguês, rico, com seu motorista, pobre. “É uma peça popular e estou adorando fazer porque o público é outro, eles interagem com os atores, gritam, aplaudem. Me sinto num teatro da época de Shakespeare! No começo, me assustei, porque nas minhas outras peças a plateia não costumava participar”, confessa. O diretor da peça é Walter Lima Jr., amigo de longa data e padrinho de seu filho. Ele, que já havia trabalhado com Alessandra no cinema, em Os desafinados, ressalta a intensidade com que ela aceita seus papéis e acredita ser daí que vem a excelência da atriz. “O momento em que ela se transforma no personagem é absolutamente mágico. Ela vai meio suicida, se entrega de corpo e alma, e isso demanda uma energia muito grande. Alessandra não está. Ela é, e é isso que a diferencia”, avisa.

Além dos projetos recém-lançados, Alessandra faz questão de falar de mais um longa, O gorila, que deve estrear ainda este ano. “É um thriller psicológico, mas é bem doce. Eu faço a Rosalinda, o par romântico com o protagonista, vivido pelo Otávio Müller”, diz.

Tanto trabalho não cansa? Cansa. E é por isso que temporadas longas, como a que está vivendo agora, são seguidas de períodos sabáticos e viagens. Uma das mais marcantes foi em agosto de 2008, quando levou Antonio, que até então gostava de hip hop, para ver uma de suas bandas de rock preferidas, a inglesa Radiohead. “Vi que eles iam tocar em Chicago e perguntei se o Antonio estava a fim de ir. Curto muito show ao vivo e praticamente planejei minha viagem em volta do Lollapalooza, festival em que eles tocaram”, explica.

“Eu ainda acho que o ator é uma espécie de sacerdote da arte, a função do artista é promover uma melhora espiritual”

A viagem fez parte do recesso que Alessandra tirou após a novela Paraíso tropical, que protagonizou em 2007, e que depois culminou no fim de seu casamento com Otto. O afastamento desde então da TV, porém, não foi proposital. “Não cansei de televisão. Adoro fazer novela, adoro o contato com o público. Não me incomodo de ser reconhecida na rua, adoro quando os fãs me pedem para voltar para a TV. Só me incomodo quando me fotografam e tentam me transformar em um produto”, explica.

Sem neurose
Mas até com os paparazzi Alessandra aprendeu a lidar nos últimos anos. “Já falei muito sobre isso, todo mundo sabe que é chato, então não quero continuar falando. Refiz minha rotina e pronto. No Rio, não consigo mais ir à praia. Mas não reclamo. Quando quero, vou para a Bahia e pronto. Só não abro mão de morar no Leblon, porque gosto de estar perto de tudo, dentro da cidade. Não conseguiria morar muito afastada”, diz ela, que nasceu em São Paulo, mas cresceu em Santos. “Fiz questão de voltar a ter meu espaço fixo em São Paulo, porque adoro os programas e a noite paulistanos. Era uma das coisas que queria conquistar nos últimos anos. Então, comprei um apartamento nos Jardins há dois anos. Mas o Rio faz parte de mim e não consigo mais me imaginar muito tempo longe de lá”, explica.

Não é só pelo Rio que a saudade às vezes bate. No segundo semestre, Alessandra volta à TV, em novela (ainda sem título) dirigida por Dennis Carvalho. “Fui chamada para fazer a vilã”, comemora. “Elas são mais engraçadas, e quero fazer mais comédia na televisão.”

Apaixonada pelo ofício, Alessandra só deseja, para o futuro, continuar trabalhando muito. “Gosto igualmente de teatro, cinema e televisão. São experiências diferentes, mas todas muito gratificantes. Eu ainda acho que o ator é uma espécie de sacerdote da arte, a função do artista é promover uma melhora espiritual”, diz. Apesar de não praticante, Alessandra foi criada na religião católica, batizou os dois filhos e não nega a influência da crença no seu dia a dia. “Já estudei taoismo, budismo, candomblé... Sou muito ligada nas coisas do espírito e gosto de estar em contato com o divino”, explica. “Ensinei meus filhos a rezar e continuo ensinando os valores em que acredito, de respeito ao próximo e ao mundo.” Mas não a ponto de virar uma ecochata. “Sou contra qualquer cartilha do medo. Não acho que a gente tem que cuidar do mundo porque ele pode acabar. O mundo não vai acabar. Nossa civilização, talvez, mas o mundo se refaz. Prefiro ensinar aos meus filhos que o materialismo não leva a nada.”

O desapego, aliás, foi o único conceito que Alessandra citou durante a entrevista e que pretende enraizar a longo prazo. “Eu acho que o futuro é se desconectar. Daqui a um tempo, chique vai ser tomar banho de rio, pisar na terra, jogar conversa fora com os amigos. Não pretendo ficar escrava da tecnologia por muito tempo. Já estou pensando em me desfazer de telefone, e-mail.” Sem se levar tanto a sério, os dias aos 40 têm sido mais tranquilos... e leves. “Quando fiz 30, tive vontade de fazer coisas diferentes que ainda não tinha feito, tipo casar. Então fui fazer isso. Agora, não. Estou feliz, então não tem crise. Quero aproveitar mais a vida.”

Créditos

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