Além das prateleiras

por Redação
Tpm #68

Novo projeto de expansão de cultura, o Universidade Falada lançou seu portal na segunda-feira (27). Aulas e livros disponíveis em arquivos de áudio pela internet buscam facilitar o acesso à cultura

 
Problemas como o alto preço de algumas obras literárias e a falta de tempo para a leitura estão sendo combatidos por algumas iniciativas privadas e estatais. O portal Universidade Falada (Unifa), por exemplo, lançado na segunda-feira, criou uma "audioteca" com conteúdos culturais em MP3, que podem ser ouvidos em quase todos os lugares.

Os mais variados assuntos e livros são discutidos por autores, editores, especialistas e professores. O objetivo não é apenas declamar textos, mas também analisá-los profundamente. O tema budismo, por exemplo, é explicado pela Monja Cohen, líder espiritual da comunidade zen-budista, e a figura de Getúlio Vargas, em breve, será desvendada por Maria Auxiliadora Guzzo, professora titular da disciplina História do Brasil na PUC de São Paulo.

"Eu ficava puxando [audiobooks] de sites de fora. Aí pensei: 'Ah, quer saber? Vou fundar um aqui no Brasil'", dr. Cláudio Wulkan, coordenador do projeto Universidade Falada

Por enquanto, não há uma grande diversidade de arquivos, mas a editora Alyá, idealizadora do projeto, pretende viabilizar dentro de alguns anos centenas de "leituras de ouvido". A partir do dia 15 de setembro, obras de domínio público como Iracema, de José de Alencar, Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, estarão disponíveis para download.

No Brasil, para uma obra ser considerada de domínio público o autor precisa ter morrido há 70 anos pelo menos. Na Argentina, por exemplo, o processo é mais rápido: após 50 anos de falecimento do escritor o conteúdo já é considerado de livre acesso.

Além de ter a intenção de proporcionar o acesso rápido e prático à cultura, a Unifa pretende levar conhecimento a lugares remotos, desenvolvendo a democratização cultural.

Esse segundo objetivo ainda parece um pouco impraticável, já que para fazer o download dos audiobooks é preciso ter acesso à internet, desembolsar R$ 15 pelo curso completo e ter gravador de CD ou aparelho de música que aceite o formato MP3. Combinação difícil de encontrar em locais distantes dos grandes centros culturais.

Máquina cult

Algumas iniciativas gratuitas ou de preços bem reduzidos de disseminação de obras importantes e livros didáticos já estão em andamento. O Domínio Público, site do governo federal lançado em 2004, tem um acervo de mais de 46 mil textos com acesso livre. A Divina Comédia, de Dante Alighieri, Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, e Macbeth, de William Shakespeare, são algumas das obras disponíveis. No site, ainda há arquivos de imagem, vídeo e som.

Ocupando os lugares de refrigerantes e doces, os livros vendidos em máquinas nas estações do metrô de São Paulo são outra opção para quem não pode gastar muito.

Criadas pelo empresário Fábio Bueno Netto e operadas pela 24X7 Cultural, as máquinas de livros oferecem quase 500 títulos a um valor muito baixo em relação às livrarias. A maioria das obras – que já tiveram seu direito autoral cessado ou liberado pelo autor - custa menos de R$ 5. A edição especial de Capitães da Areia, de Jorge Amado, sai por R$ 9,90, enquanto no site Submarino o livro, sem capa dura, sai por R$ 21,50. Os temas das obras são os mais diversos: desde dicas para programas de computador até obras para o vestibular.

“A gente nem escolhe tanto [os títulos que vão para as máquinas]. Exclui. Como material político ou partidário, pornográfico e depreciativo, que são aqueles livros que você termina de ler e precisa de um Prozac ou tem que ler um outro de auto-ajuda”, Fábio Bueno Netto, criador das máquinas de livro

Entre 12 mil e 15 mil livros são vendidos por mês nessas livrarias eletrônicas do metrô e Netto ainda pretende abrir franquias por todo o país.
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