por Natacha Cortêz

A fotógrafa Ilana Lichtenstein em sua primeira exposição individual em São Paulo

A fotógrafa brasileira Ilana Lichtenstein, 26, inaugura próxima quarta-feira na Galeria Virgílio, em São Paulo, a exposição aïmant.

Na mostra serão apresentadas com exclusividade as imagens do trabalho Ensaio sem título (2012). Composto por seis fotografias em branco e preto impressas em um papel especial, a série é fruto de um estudo sobre como fotografar pode ser uma maneira de tocar através da luz. A série Uma e outra erupção (2011), vencedora do Prêmio Diário Contemporâneo 2012 e exibida nas cidades de Belém e Barcelona, é também apresentada pela primeira vez na capital paulistana em sua versão completa: dezesseis fotografias, dispostas em variações de dípticos, trípticos e sozinhas, e em diferentes alturas da parede. Da exposição fazem parte ainda as imagens de lugar e trabalhos da série Branca.

Prestes a realizar sua primeira exposição individual no Brasil, a fotógrafa escreveu especialmente para a Tpm. Um texto construído por poesia e alma, pelas mãos de quem vive cada momento de cada imagem. 

 

A fotografia é um par de mãos

O instrumento da fotografia é um par de mãos. Elas escolhem as coisas que querem levar de um lugar para o outro, de uns lugares para os outros, e operam esse transporte. Essas coisas podem ser presentes, quando as mãos querem fazer oferenda, ou podem ser só um mover de um canto a outro no espaço, de algo que querem dar a ver. Porque são todos os tipos de coisas, com que se deparam. Então as mãos da fotografia transportam feridas, que caso contrário podiam ser ignoradas; ou flores, mesmo que no caminho percam o cheiro. Tudo o que lhes parecer. Quando estão em busca de calor, as mãos se aninham nas coisas quentes e trocam temperatura com elas. Com isso, a matéria das coisas se derrete, e ganha novos contornos, mais parecidos com o que as palmas e a polpa dos dedos tiver moldado. Quando as mãos ficam mornas, as coisas herdam a feição dos dedos, do dorso e das linhas que essas mãos da fotografia têm, e ficam se parecendo com elas.

Há outros momentos em que as mãos se preocupam em ser frias, cirúrgicas, e parece até que vestem luvas para não correr o risco de deformar pela troca o objeto que desejam carregar, de dissolvê-lo. São mãos que desejam congelar — na medida do possível, e aí seu desafio — aquilo que têm diante de si e que querem levar a outro lugar, para que outros tenham tais objetos (considerados importantes, bonitos, ou assim por diante) inteiramente à vista. Mas é difícil que esse transporte seja feito sem deixar impressões no objeto. É como pegar do corpo do mundo um coração ainda batendo, sem apertá-lo. Aprender a tocar, como conta Fayga Ostrower (em A Construção do Olhar), é como o que aprende o bebê aos seis meses tentando pegar as coisas: ele precisa ser ao mesmo tempo firme e delicado.

A fotografia, com suas mãos, também precisa segurar as coisas sem esmagá-las e ao mesmo tempo sem deixá-las pelo caminho. Ou então, como se fosse artesã, se dispor a amassar, apertar, estirar a massa das coisas e deixá-las assim quase sem forma. Para só então, adiante, remoldar o que havia e dar às mesmas coisas uma nova apreciação. 

Vai lá: aïmant - abertura - quarta-feira, 12 de dezembro, às 19h30
exposição - 13 de dezembro a 12 de fevereiro de 2013
Quando? segunda a sexta das 10 às 19h / sábado das 10 às 17h

www.ilanalichtenstein.com

fechar