por Leandra Leal
Tpm #128

Um roteiro dos blocos do coração de Leandra Leal

Carnaval, aniversário e Ano Novo. Essas são minhas ilhas de felicidade coletiva ao longo do ano. E, com certeza, Carnaval é o mais intenso de todos. Tudo pode acontecer durante esses cinco dias, você se liberta da rotina, da exaustão e ganha a sua cidade. A multidão ocupa a rua com a folia. Qualquer excesso é permitido, não se preocupe com ressaca moral ou física, “in Engov we trust”. Esse é um tempo desconhecido, a graça está em deixar acontecer, se desprender, sair sem celular, sem documento, receber os encontros, se perder para se achar. Eu já corri o Brasil na sede de conhecer o nosso Carnaval, passei em Recife-Olinda, Salvador e Ouro Preto, me emocionei com a saída do Ilê Aiyê no Curuzu (é a coisa mais linda de se ver), me acabei nas ladeiras de Olinda em baixo do dragão do bloco Eu Acho é Pouco, emendando com shows históricos no festival Rec Beat, mas não adianta: Carnaval pra mim acontece no Rio de Janeiro. O melhor Carnaval é o da sua infância.

Todo ano é o mesmo papo: “esse ano eu vou pular só um dia, já não tenho mais idade, vou me poupar, estou no meio de um trabalho importante”, mas não adianta. Chega no pré você vai num ensaio, uma notícia de jornal inspira uma fantasia, uma mesa de bar combina uma intervenção e em janeiro eu só penso nisso. Mapeio os novos blocos intercalando com os que se eu não for, não tem Carnaval, invisto sempre numas revelações (quando um bloco começa a bombar muito é hora de investir nos novatos). Eu sempre prometo que não vou pegar os blocos desde cedo, que ou começar mais tarde, mas no domingo às 7h da manhã sinto uma taquicardia, visto uma fantasia recombinando peças de vários anos, tomo um açaí, e levanto rumo à praça XV para o [Cordão do] Boitatá. A primeira lata de cerveja surge no caminho, só tem uma vez por ano e eu vou ter o quê, uns 80 carnavais ao longo da vida? É pouco, tem que aproveitar.^^~-_-

É impossível apontar uma agenda precisa para essa festa, pois todo ano é de um jeito. Fiz um roteirinho do que eu faço no meu Carnaval, passando por umas dicas de sobrevivência, elegendo os blocos do meu coração, o coração de uma menina da zona sul carioca que ama o Carnaval do Centro do Rio de janeiro e agora tem um amor em São Paulo. 

Preparação 

Apesar de ser do tipo de gente do projeto “multidão, aperto, sol, calor, chuva ou perrengue não me incomodam”, tenho algumas dicas que podem garantir um pouco de conforto. Mas não se engane: Carnaval é selvagem! 

A minha preparação é simples: geladeira cheia de coisinhas leves e gostosas (lembre que você vai estar de ressaca muitos dias) e claro várias bebidinhas. Durante o Carnaval é chato e difícil encarar um supermercado, achar um restaurante aberto, é importante que a sua base tenha tudo o que você precisar. Agora o mais importante é ter as suas fantasias organizadas pelos dias. Eu amo fantasia, o meu Carnaval começa muito antes, na escolha dela. O ato de se fantasiar vai além de escolher uma roupa, além de se sentir bonita, fantasia é a incorporação do desejo, um ato de liberdade. O que você queria ser por 24h? O que você quer esconder ou revelar? Hoje você pode. Pode ser He-Man, Princesa Leia, flor, Avatar, pode fazer piada com político ou vilã de novela. Troco figurinhas com as amigas, dou um confere na Rua da Alfândega, na Rua 25 de março, peço ajuda aos amigos mais talentosos na confecção de uma ideia difícil, depois é sair de Madonna cantando todos os hits e arrasando na coreô. 

O lado prático da fantasia: que seja fácil para fazer xixi, que tenha uns lugares pra você levar um dinheiro. Uma dica: leve as poucas coisas que você precisa num saquinho de plástico com fecho por dentro da roupa, ou naquelas barrigueiras de viagem. Um documento, o dinheiro para esse dia e purpurina, quando você começar a virar monstro jogue purpurina na cara que tudo volta a brilhar. Por documento entenda a carteira do plano de saúde, xerox da identidade ou a carteirinha do clube, sei lá. Leve algo que te identifique, mas nunca um documento oficial. Nunca leve nada que você nao possa perder. É a hora do desapego. E se você resolver encarar algum bloco multidão, tipo Bola Preta, Galo da Madrugada, não leve celular, carnaval é atividade, eu já perdi uns três.

Vai lá: Acadêmicos do Baixo Augusta, no domingo pré-Carnaval às 14h na rua Augusta, São Paulo, SP. Sem Rival, sexta-feira às 16h na rua Álvaro Alvim, no Rio de Janeiro, RJ; Cordão da Bola Preta, sábado às 9h, na av. Rio Branco; Bloco Cacique de Ramos, domingo às 23h de domingo na av. Rio Branco; Bunytos de Corpo Rio, segunda-feira, às 16h, na praça Tiradentes Último Gole, na terça-feira às XX no Jardim Botânico; Me beija que eu sou cineasta, na quarta-feira às 10h na praça Santos Dummont

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