Estivemos no SPFW pra saber até que ponto a moda oprime ou serve pra formar identidade
Como segundo tema do Manifesto Tpm , essa edição questiona a relação que temos com a moda hoje e como ela funciona na construção de nossa personalidade. Dessa vez a idéia foi falar com quem vive e respira a moda da forma mais intensa, que tem nela seu trabalho, sua imagem e muitas vezes sua maior forma de expressão. Por isso estivemos nos corredores da Bienal, que durante essa semana abriga o maior evento de moda da América Latina, o São Paulo Fashion Week, e perguntamos: E aí, moda liberta ou escraviza?
Daniel Ueda, stylist: "Eu amo moda, na verdade. E eu acho que pra quem ama moda é difícil falar “eu sou um fashion victim”. Pra mim não tem nada a ver com escravidão. Tem muito mais a ver com libertação, de me divertir me vestindo. Cada dia você estar em um estado de espirito, de querer se vestir de uma forma diferente"
Crédito: Mayra Presotto
Lara Gerin, stylist e apresentadora: "Pelo fato de eu trabalhar com isso, tem os dois lados. Aqui preciso me vestir, me montar, no meu dia a dia é mais natural. Eu gostaria de sair de moletom, mas não dá mais, mesmo assim eu gosto da montação. Por isso penso que ela me liberta. Eu a uso e faço o que quero com ela"
Crédito: Mayra Presotto
Denise Dahdah, editora de moda da revista Claudia: "Ela me liberta no sentido de que posso me mostrar pro mundo, me expressar através dela; e eu faço isso muito. Tem dias que estou com vontade de ficar mais sexy, tem dias que estou com vontade de me esconder, que eu to afim de ficar chique. Mas ela me escraviza a partir do momento que eu gosto de usar roupa justa. Eu gosto de usar a calça apertada, a saia que marca a silhueta e só me sinto confortável com essas peças se eu estiver feliz com meu corpo. Queria o melhor dos dois mundos, né? Porque adoro comer, mas muitas vezes me senti escrava da dieta pra ficar feliz numa roupa"
Crédito: Mayra Presotto
André Hidalgo, diretor da Casa de Criadores: "Super me liberta. Mesmo antes de trabalhar com moda, sempre achei que a moda era um gigante veículo de comunicação de quem você é, do teu estado de espirito. Eu sempre usei a moda pra me expressar. E por mais chavão que isso possa parecer, é fato. Um dia você acorda mal, veste preto; um dia acorda super bem, veste colorido. E é uma maneira muito bacana de demonstrar teu humor, porque você não precisa falar. A imagem fala por você. E é óbvio que você pode brincar isso. Mas mesmo quando você brinca, você passa a mensagem"
Crédito: Mayra Presotto
Vic Ceridono, editora de beleza da Vogue: "Me liberta. Pra mim só escraviza se você não tem personalidade. A opções são muitas e estão aí, cabe a cada um escolher o que acha mais legal. Comigo, expresso meus vários momentos através da roupa. E é legal experimentar também, usar a moda como uma ferramenta a mais pra dar mais graça ao seu dia a dia"
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Vivian Whiteman, editora de moda da Folha de S. Paulo: "Liberta. Mas acho que é uma questão muito mais de auto-conhecimento. Não nasci alta, não nasci magra, tenho peito grande e tenho bunda. Tenho tudo o que a moda diz que dá errado na roupa. Mas acho importante você entender seu corpo e suas vontades, assim você não sofre. E é divertido, você pode ter um pouquinho das suas fantasias sobre você mesmo realizadas na sua roupa. Mas eu não me sinto presa. Você não precisar ter um corpo que sirva em tudo; alguma coisa não vai ficar boa em você,.daí aceita, ou troca de roupa. Por isso, o começo da libertação é a aceitação de que nem tudo dá, nem tudo vai ficar bom, não vai ficar bonita com tudo. O seu corpo não deve ser útil para o mercado e pro consumo, mas pra você, pro seu uso e a seu serviço"
Crédito: Mayra Presotto
Julia Petit, apresentadora: "Sempre me libertou. Pra mim é brincadeira, eu nunca levei muito a sério. Comprar uma roupa é como comprar uma fantasia. Uma fantasia cada dia, ou nenhuma. Quando trabalho com moda, é como se fosse meu carnaval"
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Érika Palomino, diretora de redação da L"Officiel Brasil: "Me liberta e acho que cada vez mais. Acho que o momento é de extrema liberdade e criação de um estilo pessoal. Nos anos 1950 por exemplo, a coisa era mais rígida. Existia o que podia e não podia se vestir. Hoje não existe isso. Por isso a informação de moda é importante. As pessoas a recebem e em cima disso podem trabalhar e construir seu estilo"
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Felipe Teobaldo, consultor do Tumblr Brasil: "Acho que me liberta. No entanto, me sinto escravo da minha própria vontade de falar o que eu não consigo colocar em palavras e de manifestar algumas coisas que não posso chamar um por um e falar. A roupa é uma brincadeira de se vestir pra mim. Não me levo muito a sério, então minhas roupas são a extensão da minha infância: meu sapato tem asas, minha calça tem muitas cores e meu casaco tem botões como os botões de vídeo-game. A moda me permite deixar claro que não me levo a sério"
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Lia Camargo, do blog Just Lia: "Liberta. Ela te dá as ferramentas pra se expor e comunicar ao mundo quem é você, nem que seja apenas quem é você naquele dia. Devemos aproveitar a moda pra mostrar quem somos, de dentro pra fora mesmo"
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João Pimenta, estilista: "Ela me liberta. Acho a moda um canal muito forte. Assim como nas artes em geral, pra mim ela é um canal de libertação e expressão. Consigo me manifestar usando a moda como arma. Mas acho que ela pode cumprir os dois papéis pra maioria das pessoas. Porque as pessoas perdem a liberdade de ser o que são e acham que a roupa vai mudar isso, que vai criar uma personalidade. Enquanto na verdade, a roupa é uma embalagem. As pessoas esperam muito da roupa, e acham que a roupa pode dizer tudo por elas, enquanto deveria ser só mais uma diversão"
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Chantal Sordi, editora do blog da Harper"s Bazaar Brasil: "Liberta super. A moda, dependendo de como você olha pra ela, pode te deixar escravo sim, mas eu particularmente não olho por esse lado. Me expresso através dela. E acho que ela foi uma grande aliada das mulheres quanto à liberdade: a mini-saia, a calça, todas as mudanças do vestuário e que foram reflexo de comportamentos sociais"
Crédito: Mayra Presotto
Jackson Araújo, consultor de moda e analista de tendências: "Ela me escraviza porque não consigo comprar roupa do meu tamanho. Porque sou pequeno e só encontro manga comprida, perna comprida pra comprar. Comprei roupa do meu tamanho no Japão e me senti um consumidor livre lá. Livre dos ateliês de ajuste. Aqui sou preso aos tamanhos. Mas fora isso, consumo com muita parcimônia. Aliás, consumo pouco e quando consumo são coisas que vou usar por muito tempo. E adoro repetir roupa! Ao mesmo tempo considero a moda um grande canal de libertação de ideias, de aplicação de conceitos. A vejo como uma narradora do tempo. Ela é uma cronista muito precisa do que tá acontecendo no mundo em determinado momento. Gosto de observar isso como um grande ato de liberdade"
Crédito: Mayra Presotto
Daiane Conterato, modelo: "As vezes ela me escraviza. A gente batalha, sua, chora, faz de tudo pra conseguir aquela peça que viu na revista. Uma coisa que me acalma é fazer compras. Me considero uma vítima nesse sentido."
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Juliana Jabour, estilista: "Me liberta. Absorver o que tá acontecendo e que tem a ver com você é legal. Aproveito e busco o que me desperta desejo. O que eu escolho precisa ter a ver comigo. Não me sinto escrava de tendências ou modismos"
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Camila Coutinho, do blog Garotas Estúpidas: "Eu gosto da palavra tendência. Eu gosto de ter guia do que comprar, do que seguir. Acho que na vida real, pras pessoas reais é mais fácil assim. Gosto de saber o que vai ser usado e daí escolho o que é mais bacana. Eu gosto de comprar bem e escolher dentro do que é oferecido o que se parece comigo. Não tem como bloquear desejo de moda, nem por isso fico bitolada. No final das contas acho muito relativo. Me liberta sim, mas existiram os momentos nos quais me vi presa a ela também."
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Walério Araújo, estilista: "Me liberta. Não compro pra provar nada pra ninguém. Compro pra mim, uso como instrumento ao meu favor. Meu corpo acaba se tornando um canal de expressão por causa do que visto. Mas ao mesmo tempo, a moda pode te entregar. Não adianta usá-la pra ser o que não é, vai ficar ridículo ou tímido e escondido. É preciso ser fiel a si mesmo na hora de se vestir. Tem a ver com realização pessoal. As pessoas vivem de ego, e usam a moda pra isso"
Crédito: Mayra Presotto
Cris Guerra, do blog Hoje vou assim: "Me liberta. Pra mim a moda é a liberdade de ser uma pessoa diferente a cada dia, mas dentro do meu estilo. E isso significa que posso ser eu mesma todos os dias, sem precisar me vestir da mesma forma sempre. Mas acho que ela pode ser vista por dois lados. Acho que o mundo se divide entre as pessoas que conseguem se libertar e as pessoas que não conseguem ver na moda uma liberdade, que vêm uma forma de uniformização. Mas acho que cada vez mais, com a quantidade de tendências que temos a nossa disposição, a gente precisa usar muito um conselho que a própria Glória Kalil fala: que moda é oferta, estilo é escolha. Por isso incentivo todo mundo a buscar seu estilo, mesmo que ele seja construído por tendências. No final das contas estamos pinçando o que nos cabe e agrada. Acho que a moda existe pra que as mulheres continuem brincando de boneca. E precisa ser levada assim mesmo, brincando"
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Dudu Bertolini, estilista da Neon: "Só me liberta. Porque a moda que te escraviza é justamente a que te faz viver da maneira contrária do que ela te propõe. A moda tá aqui não pra ditar o que você vai usar, mas pra te dar ideias de como aprimorar seu estilo, como se expressar através das roupas. Ela precisa ser encarada como um veículo de expressão, jamais uma ditadura. Essa é a moda na qual eu acredito, a que deve te ajudar a se libertar e a se colocar no mundo"
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Caroline Bittencourt, apresentadora do canal Wonder: "Acho que tem fases. Existiu a fase que eu conhecia menos meu estilo e eu sempre pensava no que vestir e em como agradar. Acabava comprando tudo o que era tendência. Hoje sou uma consumidora mais tranquila, me preocupo com o que eu gosto e quero vestir. Hoje ela me liberta"
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Alexandra Farah, jornalista, editora do Filme Fashion: "Me liberta. Por exemplo, o iphone é moda e ele me libertou do computador. O tênis me liberta do salto, o salto me liberta do tênis. A variedade proporcionada pela moda me liberta o tempo todo, me deixa escolher. Acho que a ditadura de uma só coisa te escraviza. Mas tudo o que é variedade pode te libertar"
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Eva Nowodworsti, estilista da marca portenha Las Pepas: "Liberta. A moda me permite não só criar coisas, mas me recriar todos os dias. É maravilhosa, e só instiga mais meu sentimento de liberdade"
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Costanza Pascolato: "A moda pra mim sempre foi uma aliada, meu cartão de visita, a maneira como me apresento no mundo. Você tem estilo quando você consegue conciliar ser e o parecer. Não é que eu goste das tendências, da gola e do babado, é que pra mim elas são a representação de um momento histórico daquela sociedade. Você pode ler uma pessoa só através do que ela veste. Então ela me liberta porque me permite ser o que escolhi ser"
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Sabrina Parlatore, apresentadora: "Me liberta porque me dá ideias pra fazer o que quero. A partir do momento que conheço o que é oferecido e conheço meu corpo, faço o que quero. E me divirto construindo meus looks"
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