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Afetos negros

apresentado por Facebook

Criador do grupo Afrodengo LGBTT+, Lázaro da Silva fala sobre a importância de uma espaço de troca entre pessoas negras

“Não gosto de falar que sou gay. Sou uma bicha preta”, conta Lázaro da Silva, 30 anos, à frente do Afrodengo LGBTT+. O grupo surgiu em 2017, quando Lázaro e outros membros do Afrodengo (grupo de paquera virtual e interação, com o intuito de fortalecer a afetividade negra) “sentiram a necessidade de um espaço virtual que reunisse somente pretos/as LGBTTs” (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, como preferem identificar). Desde lá, já contam com quase 6 mil membros.  

A proposta é ter um espaço para socializar virtualmente, presencialmente, buscando integrar, reunir e trocar experiências de ser preto/a no Brasil e no mundo, como resume o texto de apresentação da comunidade. E como todo grupo, está liberado paquera, amizades, desabafos, alegrias e afins, avisam.

“É um espaço nosso, para coisas que a gente não consegue falar em outros lugares”
Lázaro da Silva, criador do Afrodengo LGBTT+

Lázaro, que é graduando em gestão pública e coordenador da Rede Jovem Rio+ (que apoia  jovens com HIV no Rio de Janeiro), fala à Tpm sobre o grupo que encabeça e conta com mais um moderador, Pilha Conpê, além de toda essa troca que levou a comunidade a participar da campanha nacional do Facebook em apoio à diversidade.

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Em busca de representatividade

“O Afrodengo LGBTT+ surgiu com o boom do Afrodengo, que foi um espaço para pessoas pretas conversarem, falarem sobre suas questões e também sobre questões afetivas. Houve um interesse meu com três colegas de formarmos um grupo LGBTQI+ porque era só a galera heterossexual [no Afrodengo]. As pessoas não faziam questão nem de falar a orientação sexual delas, como se fosse padrão ser heterossexual. Isso começou a incomodar. Na época, nós tínhamos até um pouco de medo de chegar em uma pessoa, comentar na foto dela, ela ser heterossexual e ter confusão a partir disso. A partir da não representatividade nesse grupo misto, surgiu o Afrodengo LGBTT+.”

100% negro

“Nós temos um crivo muito grande de só aceitar pessoas negras no grupo. Depois que o grupo tomou uma dimensão maior por conta da campanha do Facebook, nós recebemos centenas de convites. Mas a maioria das pessoas que querem entrar não são negras. E o nosso foco são pessoas negras, o nosso grupo é para elas. Trocamos afeto, nossas vivências, falamos sobre o que a gente vem sofrendo, fazemos a divulgação de muitas vagas de emprego, de bolsas voltadas para [a população] LGBTQI+.  É um espaço nosso, para coisas que a gente não consegue falar em outros lugares.

Tivemos que responder que era um grupo formado por pessoas negras para pessoas negras. Mas éramos sempre acusados de racismo reverso (como se existisse), como se nós estivéssemos excluindo pessoas, sendo que não é esse o intuito do grupo. A intenção é aproximar pessoas para dividir vivências, acessos.”

Dividindo acessos

“O grupo tem um crivo, eu e meu amigo aprovamos as publicações, senão fica mais do mesmo: pessoas postando fotos querendo biscoito [elogios]. Postamos as vagas de trainee de uma grande empresa que abriram há pouco tempo, vagas universitárias direcionadas à população trans. Temos uma presença massiva da população trans do grupo. 

A gente fala sobre acesso, mas isso também significa você estar bem empregado, com saúde mental. Neste momento de pandemia, tivemos esse cuidado de postar indicações de lugares para fazer atendimento psicológico gratuito, para que as pessoas pudessem se cuidar.”

Afrocentrar relações
“Nosso intuito é afrocentrar nossas relações. Tem pessoas do grupo que se conheceram ali e hoje namoram. Nós temos um espaço para que as pessoas se apresentem. Sempre tem alguém que comenta, chama no privado...  

Somos pessoas de vários lugares do Brasil e do mundo, de vários países do continente africano. Às vezes, as pessoas postam foto com pessoas que conheceram no grupo – 'Ah, viajei para Salvador e encontrei fulano aqui do grupo'. É maneiro. 

Até pouco tempo atrás, nosso grupo era formado majoritariamente por homens. Agora nós temos uma presença viva de mulheres, temos muito interesse em tê-las no nosso grupo, trazendo pautas. Também falamos muito sobre relações interraciais, é uma das questões mais vigentes do grupo.”

“A gente precisa primeiro se aceitar para que as outras pessoas nos aceitem” 

Um dos rostos da campanha do Facebook, o modelo carioca Lucas Conceição, 21 anos, conta como foi se assumir gay e fala sobre seu processo de autoaceitação 

“Assumir-se gay é muito difícil para algumas pessoas porque elas acabam perdendo muita coisa nesse processo. É lindo mostrar quem você é, sua verdade, mas gera consequências, principalmente no Brasil, com essa questão de masculinidade, de heteronormatividade.

Contei para a minha mãe aos 16 anos, mas foi um processo de conversas, de expor meus pensamentos. No meu caso, fui devagar porque estava em um processo de autoaceitação, queria saber quem eu era, para onde eu poderia ir. Sempre assumi meus relacionamentos. Namoro desde agosto e tornamos isso público. Este é meu segundo relacionamento.  

Meu conselho é ir devagar. A pessoa precisa analisar o meio dela, como aquilo vai afetá-la, olhar seu espaço, até onde ela pode pisar e quando pode dizer [que é gay] para não sair desfavorecida. A gente precisa primeiro se aceitar para que as outras pessoas nos aceitem. Esse processo não acontece do dia para a noite. Se é devagar para a gente, imagina para o outro.” 

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Créditos

O ensaio fotográfico desta reportagem foi feito por Jorge Bispo remotamente via WhatsApp

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