por Daniela de Paula
Tpm #93

Daniela de Paula explica a ostalgia (sim, com o) nos 20 anos da queda do Muro de Berlim

A ostalgia, nostalgia do “Ost” (antiga Alemanha Oriental), está no ar. Em Berlim, são vários os eventos que relembram o fim do antigo regime comunista, em comemoração aos 20 anos da queda do Muro. As manifestações vão desde uma enorme exposição na emblemática Alexanderplatz até singelas atividades de bairro.

Várias teses explicam a ostalgia. A mais óbvia talvez seja a que, em tempos de crise na Europa, as pessoas sintam falta da proteção do Estado, da garantia de emprego e dos serviços sociais. Já uma explicação mais poética seria pensar na saudade de uma vida sem competição, sem pressão do consumo. De um sentimento compartilhado de união e da sensação de relativa tranquilidade. Da falta de liberdade, ninguém tem saudade.

Em Prenzlauer Berg, bairro moderninho de Berlim, existe um pequeno oásis com a atmosfera da ostalgia poética. A região próxima a Teutoburger Platz, a “praça dos cidadãos germânicos”, preserva o jeito Ossi de ser. Parece que o tempo parou. As crianças correm livres pela praça. Os velhinhos conversam ao entardecer. Multiplicam-se os brechós. Os cafés têm delícias feitas com carinho e existem bares onde você paga o que quiser.

E eu, que tenho saudades do que não vivi, me emociono com as lembranças e com a presença invisível do Muro de Berlim. De todas as comemorações, a exposição da Teutoburger Platz – formada com objetos do cotidiano das pessoas que viveram na antiga Berlim oriental – foi a que mais me tocou. Eram partes da vida dos frequentadores da praça.

Era um dia chuvoso de outubro. Logo na chegada, um Trabi, automóvel do regime comunista, dava as boas-vindas. Um rádio antigo tocava pop rock comunista. Pensei: “Pop é pop em qualquer lugar”. Vi vários documentos: solicitações recusadas de viagem, boletins de escola, bilhetes de trem e jornais. Os brinquedos encantaram minha pequena brasileira e a maioria dos livros era infantil. Mas, entre eles, em posição de destaque, O Capital do velho Marx. E no fim, no melhor espírito comunista, fomos convidados a compartilhar com os organizadores um pedaço de bolo e uma xícara de café.

Vai lá (mas não avisa para muita gente, para que o oásis da ostalgia poética não termine virando passeio banal de turista):
Teutoburger Platz
www.leute-am-teute.de

 

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