Melissa Vettore conta como é representar a escultora francesa na peça ”Camille & Rodin”
Em sua segunda temporada em São Paulo, a peça Camille e Rodin reestreia nesta sexta, 11, no Grande Auditório do MASP. O espetáculo conta a famosa e intensa história de amor dos escultores franceses Camille Claudel e Auguste Rodin, vivida no século 18.
Com texto do dramaturgo brasileiro Franz Keppler e direção de Elias Andreato, a peça traz Melissa Vettore interpretando Camille e Leopoldo Pacheco como Rodin, uma dupla de atores desafiada pelas personalidades criativas e ao mesmo tempo passionais dos dois artistas. No texto, são relembrados os 15 anos da relação entre um dos mais importantes artistas da França e sua genial e apaixonada discípula. Anos alimentados por arte, conflitos, amor, aprendizado e abandono.
Prestes a representar pela segunda vez a artista francesa, Melissa contou à Tpm da experiência de viver a heroína mais forte e corajosa de sua carreira.
Tpm. Como aconteceu o convite para interpretar Camille?
Melissa. Na verdade não houve convite, eu mesma me convidei a fazer Camille Claudel. Inventamos o projeto inteiro. Uma amiga (que é também uma artista das mãos como Camille, pois é esteticista), me falou de Camille em 2011. Dias depois eu encontrei o ator Leopoldo Pacheco quando nos dois estávamos no Rio gravando novela. Falei da minha vontade de fazer Camille e ele disse que se eu a fizesse, ele faria Rodin, e sugeriu que Franz escrevesse o texto. Nesse momento nasceu a peça. Depois sentei como meu produtor, Ed Júlio, para desenhar e tornar a ideia em um projeto. Nos dias que seguiram, começamos a pesquisa biográfica dos personagens. Depois de alguns meses apresentamos para o patrocinador, que veio com a ideia de estrear no MASP. Depois chegou o Elias Andreato e a equipe artística, que é a reunião de grandes artistas. Com Elias na direção, tudo ganhou sentido, o sentido que ele deu ao trabalho, e que está no palco e nos atores.
Como foi o trabalho pra construir a personagem? O trabalho de construção foi intenso e muito rico. Levantamos todo o material biográfico, eu lia Camille e Rodin o dia inteiro por muitos meses, mas a melhor parte foi mesmo estudar as obras dela. Então primeiro tinha a relação com a palavra, o texto, depois os corpos, os desenhos, as esculturas. A partir daí, com Elias e Leandro (assistente de direção), Léo e eu tentávamos realizar com nossos corpos as poses das esculturas e isso foi dando linguagem corporal para o espetáculo, e uma aproximação com a artista Camille Claudel. Foi um processo de introspecção e descoberta.
Camille tinha uma personalidade muito forte, ao mesmo tempo foi uma mulher cheia de dores. Como foi lidar com esse temperamento tão conflituoso? Até onde, como atriz, um personagem afeta você? O temperamento de Camille é verdadeiramente o seu 'tempero especial'. Acredito que o sentimento tão sensível e a força não sejam necessariamente conflituosos, era isso que dava a ela caráter muito único. Posso dizer que não foi fácil, tive momentos de muita comoção em relação ao material, e tive um porto muito seguro com Elias, ele é conhecedor de personagens densos e me disse tudo o que eu teria que fazer para não tomar para mim e sim transformar o que estava vivenciando em sensibilidade. Léo também, estar ao lado dele, me deixa muito feliz, então a experiência se torna um grande ganho do ponto de vista pessoal. Acredito que a abordagem de um ator com um personagem é técnica. Um ator francês que interpreta Camille me disse, 'não se deixe machucar'. Mas confesso que com Camille, em alguns momentos quebrei algumas fronteiras.
"Uma mulher misteriosa, lutadora, que tinha um ideal artístico e não se deixou diminuir por ser mulher. A riqueza da solidão dela me comove, assim como a delicadeza das suas esculturas"
Você provavelmente aprendeu muito com Camille. Aprendi muitas coisas, muitas, a beleza do trabalho dela me conta de uma mulher com um olhar criativo para o mundo, rico, imaginativo e realizador. Ela esculpia com as próprias mãos, diferente de Rodin. Uma mulher misteriosa, lutadora, que tinha um ideal artístico e não se deixou diminuir por ser mulher. A riqueza da solidão dela me comove, assim como a delicadeza das suas esculturas.
E o que mais admira em Camille Claudel? Admiro sua vontade de criação, sua imaginação e introspecção, admiro ela se achar uma grande artista e não aceitar o destino trágico que lhe deram. A peça, mais do que dar vida aos personagens, pretende discutir criação, sucesso ou a falta dele, a relação entre amor e criação. É uma matéria muito potente.
Camille é o papel mais intenso que você já viveu? Sim, sem dúvida. Ela foi uma grande artista, e ficou 30 anos internada. Foi afastada, banida. A força de dar voz a isso, é muito grande.
A peça está na sua segunda temporada. Existe alguma mudança na sua relação com a personagem? Conhece muito mais Camille hoje por interpretá-la a mais tempo? Sem dúvida, vamos ganhando intimidade com o que fazemos. Mas o especial, é que te escrevo desde o avião de Paris, estou voltando de uma viagem para o Museu Rodin, fomos recebidos pela documentarista do Museu Veronique Matiussi, por um restaurador das obras Antoine Amarger e por um ator que interpreta também Camille no teatro, Charles Gonzales. Foi maravilhoso, eu andava por lá e eles falavam 'Bonjour Camille'. Estive perto das obras dela, uma emoção deliciosa, apesar de ela mesma nunca ter pisado naquele museu, pois estava internada. Mas ver de perto, falar dela no seu território, me fez sentir mais próxima. Procuro entendê-la, reconhecê-la. Acho que essa segunda temporada no MASP, terá uma pulsação mais forte, porque estamos ainda mais apaixonados pela obra deles.
Vai lá: Camille e Rodin
Onde: Grande Auditório do MASP (374 lugares) - Avenida Paulista, 1578 - São Paulo/SP
Quando: de 11 de janeiro a 31 de março. Sexta e sábado, às 21h. Domingo, às 19h30.
Quanto: sexta R$ 30 | sábado R$ 50 | domingo R$ 40 (à venda no Ingresso Rápido: (11) 4003-1212 www.ingressorapido.com.br)
Telefone: (11) 3251-5644
www.camilleerodin.com.br