Tpm

por Tania Menai

Ruth Reichl, ex-crítica de restaurantes do New York Times, diz que “o garçom é o embaixador do restaurante”. Concordo [Algo para beber?]. Ainda mais nesta ilha, onde se come mais fora do que em casa [Uma garrafa de água com gás para a mesa?]. Os 18 mil restaurantes de Nova York são uma espécie de extensão dos apartamentos e escritórios [Carta de vinho?]. Servem como sala de jantar ou sala de reunião [Posso ditar os oito pratos do dia?]. Isso faz com que se tenha com o garçom ou garçonete um convívio constante, às vezes agradável, às vezes inconveniente [Vocês estão prontos para pedir? Não?].

Não se iluda. A vida aqui é tão cara que o garçom (ou grande parte deles) quer mais é que você engula o que tiver na sua frente e libere a mesa pro próximo faminto [Prontos? Ainda não???]. Claro, há exceções. Mas a maioria deles não é treinada. São estudantes, atores, escritores. Daqueles que retiram o seu prato sem os demais da mesa terem terminado. E se irritam quando a escolha é apenas uma salada ou um copo d’água, único item grátis no país. [Não querem entrada? Tem certeza?]. Isso reduz drasticamente a gorjeta, de 15% sobre o pedido [Pimenta? Queijo ralado?]. Então, a pressa deles em te tirar da mesa é tanta, que os caras te interrompem a cada garfada – ou sílaba [Mais uma Diet Coke?].

Há também os garçons brasileiros, espalhados por todos os tipos de restaurantes [Sou mineiro, e você?]. Muitos deles carentes, longe de casa, aquela coisa [Sobremesa?]. Quando escutam português trocam uma prosa gostosa – mas vez ou outra ficam íntimos, interrompendo aquele seu jantar à luz de velas [Vocês são namorados, é? Que fofos!]. Mas não tem nada que exaspere mais [Café, chá, cappuccino?] do que aquela conta sobre mesa sem você pedir. O garçom joga a dolorosa em cima da mesa, sorri e reza para você dar o pirandelobóu [Não precisa pagar agora, fique à vontade]. E aaai de você se não caprichar na gorjeta. Ele? Já está longe, em outra, atendendo a próxima vítima. Levante e desapareça. Já.
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