Intrigada com o fenômeno da autofofoca, a equipe da Tpm decidiu colocar o Facebook no divã
A mania do momento entre toda a humanidade conectada é o Facebook. Trata-se de um Orkut me nos povoado e com mais recursos, em que o usuário pode compartilhar links de vídeos, fotos e, o melhor, só quem é seu amigo vê o que está na sua página. O que não adianta muito, porque você começa a receber pedidos de amizade, diz sim para todos e, quando vê, está com 700 “amigos” na sua página. Existe alguém que tenha 700 amigos de verdade? Impossível!
Todo esse nariz de cera para dizer que o Facebook também tem uma ferramenta na qual você responde à seguinte pergunta: “No que você está pensando agora?”. Pronto, essa perguntinha simples abriu o portal da loucura humana! E muitas pessoas passam o dia inteiro dizendo o que estão fazendo. Um excesso de comunicação! No momento em que este texto era escrito, um usuário contava que estava com uma semana cheia de trabalho, outro que adorava Barcelona, outra que tinha chegado em casa depois de muito trânsito e por aí vai. Por que contamos a nossa vida para todo mundo? Estamos viciados em autofofoca?
Vale lembrar que existe um espaço para que os nossos “amigos” comentem embaixo de nossas frases no Facebook. Resultado. Alguém escreve: “Estou muito sozinho”. E o “amigo” responde: “Tadinho!”.
Levamos o assunto para ser analisado pela colunista psicanalista da Tpm, Diana Corso, que nos deu algumas pistas. Segundo ela, todos nós precisamos “contar esses fatos do dia a dia”. “Faz parte da vida moderna se interessar pelos detalhes do dia a dia”, ela explica. Sim, se você teve um dia cheio e está com ódio da humanidade, tem vontade de ligar para sua melhor amiga ou para seu namorado para contar isso, ótimo. Mas será que carinho virtual resolve? “Acho que esse tipo de contato é uma esmola de amizade, você se importa com a pessoa sem precisar ter um vínculo com ela”, esclarece Diana.
E na hora em que contamos se estamos namorando, se não estamos namorando (sim, as pessoas também casam pelo Facebook, já que existe uma ferramenta que te permite dizer quem você está namorando) “nos tornamos microcelebridades”, diz Diana. E por que lemos tanta coisa, muitas vezes achando que é uma bobagem? “O ser humano moderno tem essa curiosidade com os detalhes da vida do outro, lemos isso como se lêssemos uma revista de fofocas!”, conclui a psicanalista.
Autofofoca x autoajuda
O jornalista Vitor Ângelo, usuário do Facebook, se enquadra nisso. Apesar de achar meio ridículo as pessoas descreverem coisas íntimas de suas vidas na rede... “Fico sem graça se é uma coisa privada demais, mas, como bom fofoqueiro que sou, leio tudo.”
Ele arrumou uma maneira de se contrapor ao excesso de informação no Facebook. “Eu minto. Escrevo várias ações que nunca fiz. Outro dia escrevi que iria me jogar na balada às quatro da madrugada, só que eram oito da manhã e eu ia dormir.” E o que ele acha dessa exposição tão grande no Facebook? “É estranho porque nem todo mundo no Facebook é meu amigo na vida real, relações virtuais são mais promíscuas. E tem gente que acho que nem conheço, mas faço o salve, salve, simpatia e aceito a amizade até porque minha memória é fraca. Olha, eu acho tudo bem ter uma autofofoca, até porque é uma das razões do sucesso do Orkut, do Twitter e do Facebook: xeretar. O problema é quando a autofofoca parece autoajuda, tipo: “Tive um dia difícil nesse trânsito de 300 quilômetros, mas sou positivo porque vou encontrar com meus amigos daqui a meia hora”.
*Autofofoca: necessidade de contar para as pessoas coisas que estão acontecendo em sua própria vida. Isso acontece pessoalmente também, quando você, louca de vontade de contar para o mundo todo que está pegando um cara incrível, conta para uma conhecida o fato, mas diz, em seguida: “Por favor, não conta para ninguém”. Claro que a pessoa vai contar e o mundo inteiro vai saber. Não estamos fazendo julgamento de valor. Todo mundo faz uma autofofoca de vez em quando. O chato é ficar viciado nisso. Claro, não vamos negar que o Facebook e o Twitter incentivam a autofofoca!