por Antonia Pellegrino
Tpm #91

O dia de fazer 30 anos chegou para a editora convidada Antonia Pellegrino - e o vazio também

Então chegou o próprio dia do meu aniversário, 30 anos. Embora eu não saiba dizer o que sempre imaginei para esse dia, ele saiu completamente avesso a qualquer plano – como quase tudo na vida.

O que eu sabia sobre meus 30: ao longo dos 20 decidi que gostaria de comemorá-los com um grande churrasco americano na cobertura do Copacabana Palace. Adorava imaginar meus amigos subindo com sacos de gelo que pingariam por todo o tapete vermelho do hotel ou entrando no lobby com uma picanha sangrenta embalada a vácuo.

Mas quando os 30 chegaram, achei a piada sem graça. Organizava uma longa viagem e não tinha grana pra festa. E, pior, sentia impulsos absolutamente antissociais que me mandavam passar o aniversário enfiada no fundo do mar em algum paraíso natural. A astróloga disse pra eu não viajar. E, como uma mulher de 30 que adora sua vida mas quer mudar determinados aspectos, justamente aqueles enunciados pela revolução solar carioca, fiquei.

O que eu não sabia sobre os meus 30: que quatro meses antes meu namorado seria convidado para um congresso em Fortaleza justo na semana do meu aniversário e, distraidamente, aceitaria. Quando se desse conta, já não daria mais tempo de voltar atrás.

Eu poderia supor que, se até os 30 eu não tivesse me transformado em uma eremita ou em um monstro social, a noite da virada seria com amigos. Na pista de um baile show onde só vendiam cerveja e vodca adocicada, à meia-noite, Paula e Plínio sacudiram uma Sminorff Ice em um copo de plástico e emitiram um tuh! com a boca, simulando o estouro de um champanhe.

Depois da meia-noite
O próprio dia dos 30 amanheceu estranho, com páginas de jornais anunciando a violência sofrida por um amigo. Fui andar de bicicleta. Sentei na areia da praia, contemplei o mar. Meditei e fiz meus pedidos para o novo ano. No exato momento do aniversário, fazia sol e isso me alegrou. Almocei e voltei para casa pedalando, brincando de imaginar que as pessoas com quem eu havia encontrado por acaso talvez tivessem alguma importância na minha vida daqui pra frente. Mini, Mariana, Dan, Toni. O que o futuro nos tratá?

O que eu descobri sobre aniversariar: por mais queridas que nós nos sintamos, por mais que o telefone toque, toque, toque, que cheguem torpedos, e-mails e recados no mural do Facebook, nunca é suficiente. É como se naquele dia, quando supostamente estaríamos completinhas pelo afeto alheio, a incompletude nos contemplasse com sua bocarra banguela escancarada.

O que eu jamais imaginaria sobre os meus 30: que à tarde, preparando um banho de banheira, eu receberia um telefonema do meu irmão me sondando sobre o almoço que daria em alguns dias, para comemorar a nova idade, a respeito do qual, meus pais, separados há 25 anos e melhores amigos até hoje, estavam discordando e discutindo. Melhor é impossível: eles resolveram brigar justo no meu aniversário. Como jantaríamos em família e na contemporaneidade inventaram que família é pai, mãe, irmãos e seus consortes, 35% da mesa estava em pé de guerra. Não para o jantar, sim para um encontro com amigas.

Brindamos com champanhe rosé. Cantamos parabéns com velinhas de decoração e três cupcakes que estavam na geladeira. E ali, depois da meia-noite, quando já não era o meu aniversário, cercada de afeto e pessoas queridas, me senti apaziguada.

* Antonia Pellegrino, 30 anos, é ro­te­irista e escritora. Seu e-mail: a.pellegrino@terra.com.br

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