por Luiz Filipe Tavares

Evento é um sucesso mas mostra como o público brasileiro ainda é refém dos festivais

Depois de três dias de muito som em Paulínia, totalizando quase 36 horas de música com shows de alto calibre no interior de SP, com certeza a edição 2011 do SWU foi sucesso de público. Foram 179 mil pagantes, com 73 shows nacionais e internacionais em um espaço pra lá de adequado para um evento desse porte, com um setor de arquibancadas cobertas e uma área VIP que, finalmente, não ficava na frente dos palcos como na edição do ano passado e em quase todo os shows grandes realizados em São Paulo.

O público presente estava animado nos três dias. Kanye West, um pouco prejudicado pelo som, e Black Eyed Peas colocaram 64 mil pessoas para dançar no primeiro dia, segundo melhor público do festival. Menos gente viu Courtney Love sendo Courtney Love no pesadíssimo show do Hole, que fechou o New Stage no segundo dia. Muitos presentes sentiram a perda do show do Modest Mouse, cancelado porque o equipamento da banda americana não chegou a Paulínia em tempo hábil. Chris Cornell e Lynyrd Skynyrd foram os destaques da noite nos palcos grandes, que ainda receberam uma briga entre os roadies do Ultraje a Rigor e os de Peter Gabriel na parte da tarde.

O show do Ultraje era para ser o segundo do dia 13, mas foi atrasado por causa da chuva. Com isso, o Tedeschi Trucks Band subiu ao outro palco antes da hora, o que faria com que a programação do palco de Peter Gabriel (mesmo do Ultraje e de Chris Cornell) também sofresse atrasos. Com isso, a produção do ex-Genesis começou a exigir que os brasileiros encurtassem seu set, o que Roger e companhia prontamente se negaram a fazer. Assim, os roadies das duas bandas chegaram às vias de fato na coxia esquerda do palco, com os brasileiros vencendo por pontos. Posteriormente, Peter Gabriel pediu desculpas ao Ultraje pela confusão com sua equipe.

No dia seguinte, a previsão de chuva se cumpriu. Primeiro com uma garoa forte e intermitente durante toda a tarde, depois com uma chuva ainda fraca porém sem trégua na parte da noite. Destaque para o sempre certeiro Sonic Youth no que pode ter sido seu último show da carreira, para o retorno triunfal do Alice In Chains ao Brasil e para a noite de candomblé funk rock armada por um Mike Patton ainda no auge da forma e seu Faith No More. O dia mais rock do festival ainda teve Stone Temple Pilots, Megadeth diante de quase 70 mil fãs em um setlist cheio de clássicos e um barulhento show do mais do que veterano Primus.

No balanço geral, vários shows legais, alguns memorávies e muitos covers: O Hole tocou U2. will.i.am fez um DJ Set no meio do show do BEP tocando de Michael Jackson a Nirvana e Blur. Snoop Dogg sambou com a galera cantando "Minha Fantasia", versão de "Ain't Over Till Is Over", de Lenny Kravitz, gravada pelo Só Pra Contrariar, e Zé Ramalho tocou Geraldo Vandré e Raul Seixas.

O lado ruim


O problema, na verdade, nem foi a lama do último dia, o som inconsistente no primeiro dia, ou os atrasos do segundo dia. Essas coisas acontecem e não tiram o brilho de um evento do tamanho do SWU. O problema, de verdade, é como as organizações de eventos desse porte reage aos imprevistos. O cancelamento do Modest Mouse, que pipocou na sala de imprensa pelo menos uma hora antes do horário marcado para o início do show, só foi avisado para o público às 21h, uma hora e meia depois da hora que o show deveria ter começado. Em uma coletiva na sala de imprensa, o publicitário Eduardo Fischer, idealizador do SWU, disse que nem tinha visto lama no festival, fato contrariado por uma simples olhada para os calçados de qualquer um dos jornalistas postados diante dele naquele momento. O problema é ver que houve 600 atendimentos médicos, número justificado pela organização como culpa do calor, em um evento onde uma garrafa d'água custa R$5 e onde é proibida a entrada de qualquer quantidade de água no recinto.

Ruim também é ver que o público brasileiro é refém dos grandes festivais. Não que esses festivais que temos não sejam legais: o SWU foi bacana, o Planeta Terra recebeu muitos elogios, o Rock in Rio, apesar do caos, também passou com sete na guilhotina da crítica. Mas é tudo muito complicado no deslocamento. Ninguém da produção tinha informações para o público. Celulares e aparelhos eletrônicos encontrados no Achados e Perdidos só poderiam ser retirados a partir de quarta em uma delegacia de Paulínia e somente mediante a apresentação de nota fiscal e documento de identificação. Barracas foram invadidas por seguranças no camping e, mais uma vez, bandas brasileiras foram prejudicadas por som de qualidade inferior e menos tempo de palco, um fenômeno que impressionantemente se repete desde sempre.

Vale falar também dos preços. Ingressos a R$290 no quarto lote, R$ 739,50 para os três dias e mais R$ 900 para quem quisesse curtir os quitutes no open bar do Lounge VIP. E o pior é que, para quem mora em São Paulo, R$7 a cerveja e um combo de refrigerante mais hamburguer saindo a R$ 20 nem parece tão caro, mas se você colocar isso ao lado dos R$50 de estacionamento e cerca de R$ 180 pelo ingresso comprado antes, a brincadeira sai cara até demais. E as pessoas, claro, vão a esses festivais mesmo que não se interessem por eventos do tipo. Tudo porque, virtualmente, não há shows grandes de fato no país. Excluindo os festivais, em SP são três mega shows por ano no Morumbi, no máximo. Mais dois ou três realmente de peso no Anhembi e, com sorte, um que valha a pena na Chácara do Jockey. Em uma cidade com mais de 18 milhões de habitantes, há nicho para muito mais do que isso.

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