”É uma hora em que se junta todo mundo pra falar que não, não está tudo assim mil maravilhas das igualdades!”
Pela segunda vez a cantora, compositora e percussionista Karina Buhr é presença garantida na Casa Tpm; ano passado ela esteve fazendo show de encerramento, desta vez participando de um dos debates. Feminista, usa a música pra defender a mulher e esquivá-la do rótulo de sexo frágil.
“É uma hora em que se junta todo mundo pra falar que não, não está tudo assim às mil maravilhas!”
Karina Buhr
Quais são as dores e delícias de ser mulher hoje? As dores são as de sempre, a de não ser, de jeito nenhum ainda, tratadas com mesmos pesos e medidas que os homens e isso é um freio muito grande sempre. E talvez uma dor maior, que é muita gente tratar como se não tivesse mais dor. Aí fica tudo entupido e uma sensação estranhíssima de problemas sérios varridos pra baixo do tapete. As delícias são as de qualquer um, homem ou mulher. Não vejo delícias específicas em ser mulher. Vejo dores específicas. Talvez ter filho seja uma delícia específica, mas como não tenho vontade, passo a vez. [risos]
Conquistamos muitas coisas profissionalmente, nos relacionamentos, no poder de decisão e de expressão, mas você se sente livre mesmo? Sempre me senti livre e fiz o que quis. Mas na hora do balanço geral sei que me travei, me freei muitas vezes pelo machismo estabelecido, inclusive dentro da gente. Tantas vezes deixei de ir atrás de coisas que eu queria de verdade porque "já está de bom tamanho". Eu queria mais e não ia atrás de mais, porque o tratamento que eu recebia de fora pra dentro é como se eu já fizesse demais. E por falta de espelho muitas vezes. Toda mulher sofre o sofreu com isso. A absoluta maioria que entrou pra história da humanidade dos grandes artistas, de todas as áreas, dos grandes filósofos, políticos e cientistas são homens. Homens brancos. [risos] As estátuas, os bustos de bronze, os nomes das ruas e pontes... É como se não fosse lugar de mulher (e de preto), o lugar de poder de qualquer tipo. É um esforço diário não cair no chororô do "por que não fiz?!". Mas aí vamo simbora, que um monte de coisa foi feita também e é maravilhoso ver as coisas mudando, mesmo que devagar.
Qual é sua expectativa em relação à Casa Tpm? Acho um troço maravilhoso. Um momento pra falar sobre tanta coisa que a gente vive hoje e viveu, sob vário ângulos diferentes, com tanta gente inspiradora. Regina Navarro, Nadia Lapa, Clara Averbuck... São pessoas que fico bem feliz de acompanhar de várias formas e é muito bom vê-las na casa, assim como todas as outras, inclusive as que cuidam da produção, que pensam em como vai ser cada detalhe. É uma hora em que se junta todo mundo pra falar que "não, não está tudo assim mil maravilhas das igualdades!" e gosto do "onde estamos?" e "pra onde vamos?".
Vai lá: Casa Tpm 2013
Quando? 17 e 18 de agosto
Onde? Nacional Club - R. Angatuba, 703 - Pacaembu, São Paulo/SP