Esquenta Casa Tpm: uma conversa com Joana de Vilhena Novaes

por Redação

A psicanalista vai falar sobre beleza feminina e outros assuntos no evento


Nos dias 4 e 5 de agosto, no Nacional Club em São Paulo, acontece a primeira edição da Casa Tpm, um evento que pretende instigar o pensamento e discutir os assuntos que determinam, desenvolvem e enriquecem o universo feminino. Todos eles contemplados no Manifesto Tpm.

Convidamos um time de homens e mulheres com “bala na agulha” pra conversar sobre tudo e mais um pouco quando o assunto é a condição da mulher hoje. Integrante desse time, a psicanalista Joana de Vilhena Novaes, 35, é uma das maiores especialistas do Brasil em questões relacionadas ao corpo e estética femininos e tem experiência e propriedade pra falar sobre – leia a entrevista dela nas Páginas Vermelhas da edição 98.

Uma conversa com Joana rende declarações que martelam a cabeça. Por exemplo quando nos conta sobre o momento de transição vivido hoje, no qual convive-se com valores conservadores e ao mesmo tempo há uma ânsia por ser livre. Para ela, o momento confuso determina a reorganização de novos papéis, inclusive o feminino, e com isso muita angústia e sofrimento são gerados.

"Essa é a grande dificuldade de ser mulher hoje: não estamos isentas de nada; só se soma. E no final são muitas cobranças, muitos papéis. E ficar em débito com a sociedade, gera angústia. Com certeza a avaliação moral com a mulher é mais cruel."

Aqui ela dá a largada rumo à Casa Tpm, apresentando um pouco das discussões que você vai assistir no evento. 

Pensando no papel da mulher hoje, pra você: quais são as dores e delícias de exercê-lo?
Joana - Estava justamente trocando umas figurinhas com uma amiga sobre isso agora há pouco. Quanto às delícias, acho que a mulher ter ganhado uma autonomia muito maior é uma delas, mas há riscos. Também conquistou uma liberdade de ter maior inferência sobre os destinos que vai dar à vida dela. Para as dores, eu diria, somar as tradições, como ser boa mãe, boa esposa, a mulher do lar com a mulher que se vira em duzentas, que tem outros duzentos papéis e precisa trabalhar, ser linda e exercer poder. Isso traz uma angústia e uma ansiedade enorme. E sempre alguma coisa não vai sair impecável. Ao mesmo tempo, esse poder exercido hoje também pelas mulheres, gera uma masculinização, uma inversão de papéis. E é um preço que se paga. Aliada a isso tudo, a ditadura estética. Não bastasse dar conta das múltiplas jornadas, precisa estar bonita, não pode estar descuidada. Afinal, o corpo feminino é capital. Sinto que a mulher não pode estar em débito com os protocolos. E que existe a questão do mérito relacionada ao esforço. Numa cultura como a nossa que valoriza a disciplina, faz parte a compensação social. É uma cultura calvinista, que premia o esforço, a dedicação. O discurso é perverso por isso, vai ver o malabarismo que essa mulher faz para ter um corpo socialmente aceito e admirado. A avaliação é muito severa. Com os homens somos muito mais condescendentes. As representações de masculinidade e virilidade são muitos mais restritas ao homem público, a mulher não, a figura doméstica e a publica precisam ser perfeitas. Essa é a grande dificuldade de ser mulher hoje. Não estamos isentas de nada. Só se soma e no final são muitas cobranças, muitos papéis. E ficar em débito com a sociedade, gera angústia. Com certeza a avaliação moral com a mulher é mais cruel.

Conquistamos uma liberdade que outras gerações de mulheres não experimentaram, pelo menos não de uma forma tão igualitária quando o assunto é homem e mulher. No trabalho, nas relações, no poder de decisão e de expressão: você acredita que somos mesmo livres?
Temos que repensar essa liberdade toda. Pra mim a mulher vive uma liberdade entre aspas. Temos julgamentos muito moralistas. Estamos em um momento de transição, convivendo com valores conservadores e ao mesmo tempo existe uma ânsia por ser livre.  A pílula é dada a mulher, para que ela escolha ou não ser mãe, e a maternidade, mesmo hoje adiada, continua sendo cobrada, é esperado que exerçamos esse papel. Existe um julgamento moral muito forte em relação ao que a mulher deve ser e como deve ser.

"Pra mim a mulher vive uma liberdade entre aspas... A pílula é dada para que ela escolha ou não ser mãe e a maternidade nunca foi tão adiada; enquanto isso ela continua sendo cobrada a ter filhos."


Enquanto uma nova mulher aparece, um novo homem é construído e reeditado. Novos comportamentos, novas visões e posicionamentos estão neles também. Como a mulher lida com esse novo homem? 
Certamente lida mal. A imagem de masculinidade está em declínio, enfraquecida. Vemos o caráter do viril, a força física, e ao mesmo tempo homens urbanóides tipo Homer Simpson - aquele que paga as contas da casa, joga videogame e é um banana, mas tem o corpo e comportamento masculinizado. Ouço muitas mulheres que procuram homens com valores antigos, justificando suas escolhas por serem bons maridos, religiosos, conservadores, provedores e protetores. Quase como um ideal conservador. Que fale mais alto que elas, mas que dê espaço e a permita sair de sexta com as amigas. Acredito que a mulher hoje está predatória. O jogo amoroso está sendo reconfigurado. As mulheres chegam nos caras agressivamente, masculinizadas, ao mesmo tempo cobram “não me ligou no dia seguinte”, “ele vai me avaliar mal se eu for pra cama no primeiro dia”. Olha a confusão de códigos! A expectativa é conservadora, a avaliação do cara também, uma disparidade do comportamento e avaliação. Acontece que isso é tipico do momento atual, no qual tudo está sendo repensado, reorganizado. Gera sofrimento, dificuldade de relacionamento, relações voláteis. 

 

Joana de Vilhena Novaes vai falar sobre beleza feminina e outros assuntos na Casa Tpm.

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