Esquenta Casa Tpm - Suzana Herculano-Houzel

por Natacha Cortêz

Para a neurocientista, mulher deve clamar liberdade e igualdade naturalmente

A neurocientista Suzana Herculano-Houzel, 39, é referência no Brasil por estudar o cérebro humano e traduzir para o público leigo as descobertas de seus estudos. Através de seu trabalho, ela divide questões que talvez poderiam ser poupadas de nós se não fossem sua linguagem prática e a vontade de informar. 

Suzana é autora de livros como Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor, Sexo, Drogas, Rock’ n’ Roll... & Chocolate Mentes Apaixonadas (todos da editora Sextante). Em 2010 foi o primeiro nome brasileiro, entre 12 eleitos no mundo, a receber o prêmio Scholar Award in Understanding Human Cognition, concedido pela James S. McDonnell Foundation. Entre seus temas, o comportamento do cérebro nas situações mais cotidianas, a diferença na atividade cerebral de homens e mulheres, paixão e drogas. 

Assim como o time de convidados da Casa Tpm (evento que acontece dias 4 e 5 de agosto e vai discutir os assuntos que determinam e enriquecem o universo feminino), a neurocientista se destaca porque trata as coisas de uma forma diferente. Poderia guardar sua contribuição para a ciência, mas ganha nossa admiração porque a compartilha para o benefício de todos - em 2011 ela foi Páginas Vermelhas da Tpm

Conversamos com ela sobre alguns dilemas de ser mulher hoje e vimos que além de uma grande cientista é uma mulher forte e com ânsia por dias melhores para todas nós. 

 

"... não nos ofereçam automaticamente essa liberdade, temos o dever de clamá-la para nós e agir como se a igualdade fosse apenas natural. Meus pais me educaram para ser no mínimo tão capaz quanto qualquer homem e jamais aceitar expectativas menores por ser mulher."


Pra você: quais são as dores e delícias de ser mulher hoje?
Suzana - Ter o direito reconhecido de buscar realização profissional ao lado da pessoal (da vida em família) é o mínimo que qualquer pessoa, homem ou mulher, deveria ter. Pena é que ele não vem necessariamente acompanhado de apoio pelas gerações anteriores nem pelas atuais. É triste uma mulher que viaja a trabalho ainda ter que ouvir críticas que não são feitas quando é seu marido quem viaja, por exemplo. Também é uma pena que tantos homens "modernos" ainda ajam na expectativa de que o gerenciamento da casa e de tudo o que diz respeito às crianças sejam funções exclusivas da mulher. Mas perdem eles; os homens que dividem com as mulheres as dores e delícias de todas as funções em família ganham muitos pontos com a gente! 


"... é uma pena que tantos homens "modernos" ainda ajam na expectativa de que o gerenciamento da casa e de tudo o que diz respeito às crianças sejam funções exclusivas da mulher. Mas perdem eles; os homens que dividem com as mulheres as dores e delícias de todas as funções em família ganham muitos pontos com a gente!"

 

Conquistamos uma liberdade que outras gerações de mulheres não experimentaram, pelo menos não de uma forma tão igualitária quando o assunto é homem e mulher. No trabalho, nas relações, no poder de decisão e no poder de expressão: você se sente mesmo livre?
Sim, mas acredito que mesmo que os outros não nos ofereçam automaticamente essa liberdade, temos o dever de clamá-la para nós e agir como se a igualdade fosse apenas natural. Meus pais me educaram para ser no mínimo tão capaz quanto qualquer homem e jamais aceitar expectativas menores por ser mulher. Acredito que ter boas expectativas a respeito de si mesma faz toda a diferença.

O que acha do novo homem, com outros comportamentos, visões e posicionamentos? Ele mais te agrada ou não?
Ah, o homem companheiro, e não mais chefe-da-casa, é ótimo. Acho que todo mundo gosta de se sentir que tem quem cuide da gente, seja homem ou mulher; mas esse cuidado pode vir de igual para igual, sem relações de dominação ou superioridade.

Em relação à Casa Tpm, qual é sua expectativa? Você acredita que é válido falar sobre questões como maternidade, emprego, decisão, expressão, estética; e até onde falar disso pode mudar algo?
Tomar ciência de qualquer situação é o primeiro passo para mudá-la, se for o caso. Por isso trocar experiências, pontos de vista e opiniões é não só válido como fundamental para transformar as nossas vidas, sobretudo quando se reconhece o papel fundamental das expectativas para guiar nossos desejos e ações. Como fazer a vida ficar melhor, se você não sabe que ela sequer pode ficar melhor?  

Suzana Herculano-Houzel estará na Casa Tpm falando sobre o cérebro feminino. Faça já sua inscrição.

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