Para a pesquisadora, vivemos contaminados por um modelo de felicidade opressor
Denise Gallo, 42, é mestre em comunicação e semiótica pela PUC-SP e desde 2006, dedica-se ao estudo do gênero feminino e pesquisa as representações da mulher na mídia e na publicidade. Aqui na Tpm ela já deixou sua opinião em diversas matérias e estará, no dia 4 de agosto, na Casa Tpm (saiba mais sobre o evento). Conversamos com ela sobre o papel da mulher hoje e suas expectativas para Casa Tpm.
Quais são as dores e delícias de ser mulher hoje?
Denise: Para mim, pessoalmente, mais delícias do que dores. Mas acho que, ao menos na minha avaliação, seremos mais felizes quando conseguirmos nos distanciar mais dos projetos de feminilidade que prevalecem nos discursos das mídias. Projetos ainda alinhavados por corpos perfeitos, afetos idealizados, juventude eterna e todos esses imperativos que continuamente procuramos questionar na Tpm.
Conquistamos uma liberdade que outras gerações não experimentaram, pelo menos não de uma forma tão igualitária quando o assunto é homem e mulher. No trabalho, nas relações, no poder de decisão e no poder de expressão: você se sente mesmo livre?
Honestamente, acho relativa essa ideia de liberdade. Evidentemente, reconheço todos os avanços culturais e os esforços de tantas gerações que permitiram à mulher chegar ao mercado de trabalho, às universidades, ao poder público e às escolhas individuais mais diversas. Mas, de uma forma até independente das questões de gênero, vivemos contaminados por um modelo de felicidade que me parece bastante opressor. E quando a liberdade obedece a modelos que vêm de fora pra dentro, ela não é liberdade.
"...vivemos contaminados por um modelo de felicidade que me parece bastante opressor. E quando a liberdade obedece a modelos que vêm de fora pra dentro, ela não é liberdade."
Você acha que existe também um "novo homem" com novos comportamentos, visões e posicionamentos?
Gosto da ideia de que os homens estejam exercendo papéis antes só femininos, se comparados às gerações anteriores. Por outro lado, acho que devemos olhar com cuidado para rótulos como "nova mulher" ou "novo homem" porque sempre serão fórmulas que restringem a complexidade das pessoas e das relações. Me parecem mais adequados às definições de "público-alvo" para o consumo das marcas do que ao aprofundamento da reflexão sobre os gêneros.
Qual é sua expectativa em relação à Casa Tpm?
Acho uma iniciativa essencial e que tem tudo a ver com a proposta editorial da Revista. Provocar o questionamento e o nosso olhar crítico sobre os valores e modelos que consumimos, muitas vezes sem nem nos darmos conta, é a melhor, talvez a única, saída para avançarmos em direção à liberdade que realmente desejamos.
Denise Gallo estará na Casa Tpm no dia 4 de agosto para falar sobre a mudança da imagem da mulher na mídia. Saiba mais sobre o evento