Não existe sanidade em SP... (?)

por Mariana Perroni

As irreais necessidades da vida moderna começaram a se tornar normas inquestionáveis

Vi hoje, aqui na Tpm, a artista plástica paulistana Alessandra Cestac comentar sobre um de seus trabalho, que espalha imagens com temática de loucura pelas ruas de São Paulo e dizer que “Você acha que a cidade não te faz mal, mas começa a ficar estressado, sua mente se debilita. E ninguém fala sobre isso. Não há preocupação com a saúde mental”. 

 

Preciso dizer que eu já partilho da mesma opinião que ela há muito tempo. Apesar de ser apaixonada por tudo o que São Paulo oferece em termos de cultura, gastronomia e entretenimento, sempre achei impossível que o fato de viver nesse formigueiro caótico pudesse ser algo saudável.Entretanto, como fui criada em uma cidade pequena (mas de nome grande) que pára quando o trem passa ou quando alguma vaca ou cavalo perdidos decidem cruzar uma rua, meu ponto de vista sempre foi meio suspeito... Até a metade do ano passado. Foi quando a Nature publicou os resultados nada surpreendentes (pelo menos para mim e para a Alessandra) de um estudo alemão. O que esse estudo dizia? Que viver em grandes centros urbanos, como São Paulo e Nova Iorque, é prejudicial à saúde mental.

A pesquisa revelou que pessoas que passaram a infância em cidades grandes têm chance três vezes maior de desenvolverem esquizofrenia. E, só para ajudar, mesmo que, assim como eu, você não tenha sido criado em cidades como essas,  só o  fato de morar em grandes centros aumenta em 21% o risco de distúrbios de ansiedade e em 39% o risco de distúrbios do humor, em comparação à vida no campo.

Posso estar errada, mas, sinceramente, duvido que qualquer pessoa que tenha lido meu texto até aqui esteja procurando o próprio queixo caído no chão. Não consigo imaginar que algum ser humano considere saudável acordar às 4h30 da manhã, tomar café na barraquinha da rua, perder de três a quatro horas diariamente no trânsito, degladiar-se no ambiente de trabalho com 357 outros que querem sua vaga (mesmo que com um salário questionável), não ter tempo pra se exercitar ou comer direito e voltar para casa escutando o Datena falar de marido escalpelando mulher e bêbado atropelando idosos na rua. Tudo para dormir umas 5 horas por noite, acordar e fazer tudo de novo no dia seguinte, enquanto a Terra dá mais uma volta ao redor de si mesma.

Mesmo que a pesquisa tenha sido realizado com uma amostra pequena (apenas 32 indivíduos) e que novos estudos ainda sejam necessários para que se chegue a conclusões definitivas, já o considero extremamente válido ao apontar holofotes para esses comportamentos nada fisiológicos que, por conta das irreais necessidades da vida moderna, começaram a se tornar normas inquestionáveis e tácitas. Se não começarmos a repensar essas questões, logo o Criolo precisará atualizar seus versos e cantar que não existe amor nem sanidade em SP.

-meu Twitter: @mperroni

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