Os currais eleitorais elegem quase todos os políticos e impedem que surjam novas ideias
O curral eleitoral é uma espécie de compra de votos institucionalizada e funciona através da profissionalização de lideranças comunitárias que recebem salário de um candidato para trabalhar o nome dele na respectiva comunidade. É essa liderança que comanda as visitas do candidato às associações de bairro, organiza os churrascos, distribui material e faz com que seus amigos e conhecidos da região votem, formando assim o curral.
Paralelamente à ação da tal liderança, outras medidas fortalecem o curral: compra de espaço em jornais de bairro; fornecimento de transporte para o dia da eleição, que garante que todos do curral votem; contratação de um poderoso grupo de “faxeiros”, que fixa faixas e placas do candidato no curral e parte para a briga se outro candidato aparecer.
Voto de opinião fora
Esse sistema político vigente em nosso país explica a ampla maioria de vereadores e deputados que nenhum de nós nunca ouviu falar. São pessoas que estão se lixando pra opinião pública, nem querem aparecer pois estão superconfortáveis com seu lote de poder. A cada quatro anos seus currais garantem a manutenção das regalias. Mesmo os mais famosos, que aparecem entre os formadores de opinião cheios de verdades, também mantêm currais que garantirão sua vitória e a manutenção da imagem de político vencedor.
Além da óbvia questão ética, os currais destroem um dos pilares do sistema democrático: o voto de opinião. Não existe quase espaço para candidatos lastreados em ideias claras, novas e que queiram entrar na política por idealismo. A campanha pelo debate de ideias, o envio de propostas para amigos, a militância verdadeira e engajada se confrontam com as máquinas de votos baseadas nos currais. As chances de êxito são mínimas. Isso explica a pífia renovação da política, que só acontece quando alguma celebridade trash se candidata e depois some do mapa como todos os outros eleitos.
Nas últimas edições da Trip, a coluna se debruçou na busca pelo que chamamos de outra política. Transparência, simplicidade, cabeça aberta para o novo e a busca por uma nova ordem mundial. Acreditamos verdadeiramente que o novo está aí para substituir o velho, mas para isso acontecer na prática precisamos atacar os alicerces de picaretagem e manutenção do status quo político. Que toda nossa munição se destine à destruição dos currais eleitorais e de tudo o que eles representam. Proponho que em 2010 o leitor não vote em quem tem curral. Todos ficarão pasmos e até arrependidos com votos passados. Sobrarão pouquíssimas opções, mas garanto que já é um bom começo.
*Alê Youssef, 33, é sócio do Studio SP e foi um dos idealizadores do site www.overmundo.com.br. Seu e-mail é ayoussef@trip.com.br