Em 1987, uma bunda magnetizava as atenções na abertura da novela ’Brega & chique’. O homem por trás das nádegas superou a sombra do próprio traseiro e, hoje, 27 anos depois, segue na TV
Um desfile de beldades dava início à abertura da novela Brega & Chique, de Cassiano Gabus Mendes. Entre elas, famosas modelos dos anos 80, como Doris Giesse e Isis de Oliveira. Mas, ok, ninguém se lembra disso.
A imagem que ninguém esquece, porém, está nos segundos finais do vídeo, quando todas as mulheres abrem espaço para um homem nu. Ao som de "Pelado", do Ultraje a Rigor, a bunda de Vinicius Manne ficou conhecida no Brasil inteiro.
A censura até se incomodou, numa época em que o Brasil começava a se recuperar da ditadura militar, e obrigou a Globo a cobrir as partes íntimas do rapaz. A emissora colocou uma singela folha de parreira. Mas os telespectadores reclamaram, a censura cedeu e Vinicius voltou a aparecer como veio ao mundo todos os dias, enquanto durou o folhetim. Quase 30 anos depois, Manne se mantém ativo no ofício. Fez participações nas novelas Joia rara, Páginas da vida e Sete pecados; além dos seriados Malhação, As canalhas, entre outros. Seu último filme foi Histórias íntimas, adaptado da obra de Mary del Priore e dirigido por Julio Lellis e Bruno Pessurno. Vinicius conversou com a Trip sobre sua trajetória.
Você ficou intimidado quando soube que teria de aparecer nu? Isso sempre intimida, ainda mais naquela época. Eu tinha uma confecção de roupas de couro e estava com uma dívida. O cachê era bom, resolveu uma baita dor de cabeça. Era pra fazer com tapa-sexo, mas aquilo me incomodou muito. Estava me irritando mesmo, dando mau humor. Então pedi pra fazer nu.
Como isso transformou sua carreira? Eu segui fazendo trabalhos de moda e publicidade que já fazia, mas ganhando mais. E passei a participar de eventos, tipo baile de debutantes. Uma vez, estava com uma peça em cartaz em Juiz de Fora e depois da apresentação fui tomar uma cerveja num boteco. Fiquei sabendo que uma mulher, que havia sido proibida pelo marido de assistir à novela, foi flagrada por ele bem na hora em que eu aparecia. Segundo me contaram, foi morta com quatro tiros! Ainda hoje muita gente se lembra do trabalho, sempre me surpreende isso.
Houve aspectos negativos? Eu sabia que ia mexer com o imaginário das pessoas, mas estava na minha. Curiosamente, dentro do meio artístico é que houve preconceito. Eu vivi, e ainda vivo, barreiras pra chegar a papéis mais importantes. Um diretor conhecido uma vez me contou que aquilo "pesava sobre mim". Não consigo entender.
Se fosse convidado hoje para um trabalho como aquele, você toparia? Bom, é uma pergunta totalmente hipotética. Nunca um cara de 50 anos seria chamado pra uma abertura de novela, nu. Mas o nu não me incomoda em nada, desde que tenha coerência, não seja um apelo em si. Afinal, parafraseando o Roger, "pelado todo mundo fica, todo mundo é".