No fundo de NY pulsa o St Nick’s Pub, boteco de jazz com a mais autêntica música ao vivo
O lugar é estreito e pequeno, mas aconchegante. Um mínimo de mesas e cadeiras vermelhas se aperta do outro lado do balcão com poucas mas generosas bebidas. Há luzes de todas as cores, pintando as paredes caiadas de branco. Todo mundo parece da casa, estilosos, com turbantes, lenços, chapéus, grandes cabelos afro, todo tipo de barba, cavanhaque e bigode, roupas simples, coloridas. E aquele groove na linguagem corporal. A exceção é um alienígena grupo de franceses, que ouve tudo estalando os dedos e balançando a cabeça. Querem ser cool. São super bem recebidos. Assim como nós, os irmãos brasileiros.
O St. Nick's Pub é possivelmente a casa de jazz há mais tempo em atividade no Harlem. Nos anos 40 pertencia a um pianista do Duke Ellington, o Lucky Roberts. Nessa época, Art Tatum costumava passar por lá e dar umas canjas. Até hoje esse é o espírito. Num palquinho ao lado do banheiro, estreantes se misturam a veteranos e vão se revezando numa jam contínua. Há velhos crooners, jovens rappers, divas do scat singing e um time de instrumentistas irregular, mas afinado com a boa disposição.
Fomos de táxi. É longe, na 733 St Nicholas Ave, mais ou menos na altura da 148. O motorista pisa fundo e costura. Ë o bepop do trânsito. Chegando lä o dono estende o sorriso como um tapete vermelho. Tomamos todas e ele, com gentileza surpreendente se recusa a aceitar o pagamento. E olha que valeu muito a pena. O show acontece a um palmo do nariz. Às vezes é quase preciso desviar a cabeça pra não bater no trombone, que desafia a exiguidade do espaço com movimentos entusiasmados do instrumentista.
Todo mundo sola e é fartamente aplaudido. O tecladista é o mais virtuoso. Toca as teclas pretas num estilo Thelonious Monk com epilepsia. É o único branco, e é esquisitão, com um sorriso entre o bobo e o maníaco. Um dos trompetistas, o melhor deles, às vezes toca sentado numa das mesas, como se tivesse tomando a cervejinha. Ultra recomendável.
