Todo Arthur quer Serguei

por Arthur Veríssimo
Trip #199

Dois candidatos a Arthur Veríssimo aceitaram a missão de lidar com mistérios de Serguei

Há três meses, fartos das presepadas de nosso incontrolável repórter, convocamos o Brasil em uma busca épica: encontrar um novo Arthur Veríssimo. Além do mesmo nome, o candidato deveeria ter a mesma audácia do Arthur do passado. Dois candidatos aceitaram o desafio máximo de um repórter excepcional: lidar com a libido e os mistérios de Serguei

 

 

Parece brincadeira, mas estou na corda bamba. Resignado com a tarefa de escolher o meu futuro sucessor. Há duas edições a Redação da Trip lançou um concurso procurando um possível substituto à altura deste escriba e que, de quebra, fosse meu homônimo. Sim, o gajo deveria ter o nome Arthur Veríssimo. De repente me vejo semiperplexo, diante desses dois candidatos – xarás que exalavam simpatia e alto-astral, mas que almejavam famintos ocupar minha excepcional vaga no organograma.

Os dois rapazes acompanham com atenção dobrada as minhas dicas e orientações. Percebo que a dupla está motivada e calibrada para o rito de passagem. Minha última frase os deixa aturdidos. “Tem que ter selinho, beijo na boca, igualzinho à foto que fizemos antes.” Um olha para o outro e caem numa gargalhada nervosa. Sim, para me auxiliar nessa inglória tarefa, ninguém melhor do que um dos personagens com os quais mais interagi nos últimos anos. De entrevistado a amigo, de amigo a colega de reportagens, o geriátrico e orgiástico Serguei teria o ângulo mais privilegiado para me ajudar a julgar os predicados dos candidatos ao meu posto.

A missão tinha hora marcada (21h30) na sala de espera da ponte aérea. Arthur (1) e Arthur (2) aguardam com avidez a chegada do elfo ancestral, a lenda viva Sergio Augusto Bustamante. Em suas mãos seguram a clássica plaquinha com o nome do convidado de Saquarema. Durante algumas edições na Trip, Serguei e eu já nos beijamos, vivemos aventuras amansando o rebelde Theo Becker, resgatamos Rosana (Como uma Deusa) em um karaoke. Na atual conjuntura, nosso fauno intergaláctico está no ar semanalmente com o programa Serguei Rock Show no Multishow, e recentemente assinou contrato na TV Record, onde participa do programa de Tom Cavalcante. Serguei está na mídia. Serguei está na moda.

Nossos ansiosos anfitriões continuam segurando suas plaquinhas. Executivos, atletas, donas de casa, artistas, dondocas atravessam o pórtico da saída e nada de Serguei. Vejo ao longe uma figura que se arrasta lânguida como uma iguana. Sim, é ele. Serguei aproxima-se e se joga nos meus braços. Me tasca um beijão e quer saber quem são os rapazes com as plaquinhas. Sua juba está diferente, seu rosto também não é mais o mesmo, está rejuvenescido e bochechudo. Parece um personagem dos quadros de
Hieronymus Bosch. Fico intrigado. Pergunto se havia feito lifting, cirurgia plástica ou Botox. Ele se sente lisonjeado e admirado.

Seus olhinhos analisam as possíveis presas. “Quem são eles, Arthur?” Explico sussurrando ao seu ouvido. Ele cumprimenta os xarás dando o clássico abraço de tamanduá. Na van, Serguei engata uma conversa sem limites com a dupla de Arthures. Tudo gira em torno de rock e sacanagem, e ele movimenta seus braços como um helicóptero sem eixo. Arthur (1) quer saber como é a vida, o dia a dia de nosso rock star pansexual. Serguei tergiversa e começa a falar sobre sua genitália. Serguei não tem travas no pensamento ou na língua, ele quer beijar nossos anfitriões com seus lábios carnudos. Como observador, acompanho o desempenho e a entrega dos Arthures: beijos, bitocas e muitos selinhos borbulham na sessão de fotos. A disponibilidade dos dois concorrentes é impressionante.

Serguei quer mostrar o falus adormecido. Arthur (2) pergunta ao druida se ele é o introdutor do panvegetalismo no Brasil, isto é, a religião de abraçar as árvores. Com sua memória mesozoica, Serguei esclarece que o primeiro a espalhar essa bênção de abraçar árvores foi o gênio Albert Einstein no Jardim Botânico no Rio. Balbucia que seu antigo jatobá não é mais o mesmo e que atualmente namora e fornica um belíssimo cajueiro nos arredores de Itaúna. Pergunto se ele tem alguma foto do caju amigo. Ele tosse uma sonora gargalhada.

A conversa avança e Arthur (1) embrenha querendo saber sobre a virilidade do fauno. Era tudo que Serguei desejava falar. Despeja uma sucessão de histórias de seus causos amorosos. Regurgita situações escatológicas e meigas. Repete pela bilionésima terceira vez seus encontros com Janis Joplin. Percebo que o elfo necessita de comida, oxigênio, sexo, pois sua voz começa a falhar. Convoco todos para um jantar em um charmoso restaurante nos Jardins. A figura pantagruélica de Serguei incendeia o local. Dispara sua metralhadora giratória de frases desconexas entre um ravióli ao pesto e outro. Acreditem, todos estamos cansados e esgotados de tantas fotos e falantina desenfreada. Serguei tá com a macaca, parece que recém-levantou da cama e quer seguir em frente pela noite de SP. O Pterodáctilo quer aparecer, beijar e circular.

 

Arthur (2) elogia a cútis de pergaminho e pergunta que tipo de exercício ele pratica, o insaciável Serguei responde: “Sexo, orgia”.Ele insiste que quer transar. Desconverso e digo para ele se jogar no baixo Augusta, que fica pertinho do restaurante. Saio de fininho. Caminhando pela rua Augusta, uma miríade de pensamentos assola minha mente e coração. A performance dos dois xarás superou todas as nossas expectativas. Nesta altura da minha vida me vejo entre a cruz e a encruzilhada. Ficar ou partir? Sem eira nem beira. Ser ou Serguei?

Quem sabe um dia abdique deste posto, porém sinto que ainda não estou preparado para tomar uma decisão de tamanha envergadura. Entrego aos desígnios do Olimpo a decisão de qual dos efebos iremos escolher? O que me aguarda? O que o destino me oferece? Estarei condenado como Napoleão a um exílio ou serei lembrado pela minha generosidade ao investir e acreditar na minha continuidade? Minha missão está cumprida? A decisão cabe a vocês, caríssimos leitores.



ARTHURES VERÍSSIMOS POR ARTHURES VERÍSSIMOS


Arthur Veríssimo Warren tem 26 anos, nascido em Maringá (PR) e morador de São Paulo. É dono da Máfia Real, uma produtora de cinema e TV.

“O Serguei não estava entendendo picas, mas estava feliz de rever o amigo.’Vamos fazer a foto do selinho.’ Me deem uma folga, acabei de ver o pinto do Serguei. Ele gosta de falar e o assunto é sempre sexo: com a Janis Joplin numa suruba, com árvore, com o que for. No restaurante começo a sacar melhor qual é a dele. No caminho de volta, Serguei desce no hotel, me dá um abraço e solta essa com um olhar sacana: ´Olha, se quiser, passa aí depois, viu?’. Valeu, Serguei, sucesso! Cacete, levei uma cantada do Serguei. Mas, por outro lado, é o Serguei. Estranho seria não levar. Agora, se estou pronto para assumir a vaga do Arthur Veríssimo original? Nós até temos coisas em comum. Também sou aberto a qualquer tipo de merda. Mas ele é muito mais expansivo, quase um personagem”.

(1º) Lugar- 0,0 cm toque concluído

Nelson Mello

 

 

Arthur da Silva Veríssimo tem 33 anos, vive em Santo André (SP) e ganha a vida comprando e vendendo carros.

“Queria agradecer, antes de tudo, ao já falecido seu Casimiro, que me deu esse sobrenome. Participei com a maior disposição para encarar o desafio, entrei de gaiato e decidido a abocanhar a vaga do titular. Para mim foi uma experiência extraordinária. Conheci o Serguei, um ser engraçadíssimo e inofensivo. Confesso ter ficado um pouco acanhado, nervoso, pois nunca tinha passado por tal situação. O Arthur repórter nem se fala, supergente boa.  A equipe da Trip me deixou super à vontade. E com toda certeza foi uma noite que para mim irá ficar registrada na memória. E do fundo do coração faria tudo de novo.”

(2º) Lugar- 1,2 cm até o ponto de toque

 

(3º) Lugar- 6,8 cm até a bitoca completa

 

 

Abaixo, a documentação em ordem dos candidatos.

 

 

 

 

 

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