Surfando o tsunami

por Carlos Sarli

A história de dois surfistas que encararam um terremoto no mar

O que aconteceu com Mentawai?

Apesar da proximidade do epicentro do terremoto que gerou a onda arrasadora, o paradisíaco arquipélago na costa de Sumatra pouco sofreu com o desastre. Quanto mais ao sul, em direção a Bali, menor foi o impacto. A dificuldade de comunicação com as pequenas e remotas comunidades espalhadas pelas inúmeras ilhas da região provocou o temor de que a tragédia tivesse se estendido até lá.

Mas não foi o que ocorreu. Apenas nas ilhas mais ao norte de Sumatra, Nias e Asu, houve danos materiais, barcos destruídos, casas alagadas. As conseqüências do desastre no entanto continuam.

A pescaria, principal fonte de alimentação e receita, está comprometida sob suspeita de contaminação, e as doenças infecciosas, como a malária, a febre, problemas crônicos na região, voltaram a ter índices crescentes.

Os barcos que fazem charters de surfe e que nesta época do ano estariam ancorados ou operando em outras regiões hoje transportam médicos voluntários e suprimentos doados, colaborando para que o arquipélago volte à sua normalidade.

Se havia surfistas na água? Nenhuma notícia específica a respeito, mas a temporada de surfe por lá vai de abril a outubro, portanto é pouco provável que alguém tenha sido pego de surpresa surfando na manhã do fatídico dia 26 de dezembro de 2004.

Mas, se na Indonésia isso não aconteceu, no Peru, no dia 3 de outubro de 1974, o campeão mundial de 1965, Felipe Pomar, e seu amigo Pitts Block não tiveram a mesma sorte e foram obrigados a surfar pelas suas vidas em La Isla, Punta Hermosa.

Os dois eram alguns dos poucos surfistas à época na região. Estavam se preparando para cair num marzinho com ondas de três pés quando a terra começou a tremer. Minutos que pareceram uma eternidade de pânico e eles, mais tarde, consideravam voltar para Lima, mas Block, que viveu o terremoto de 1949 e suas conseqüências, demoveu-os da idéia, a capital estaria devastada.

As ondas continuaram pequenas e, uma hora mais tarde, os dois resolveram entrar no mar, quem sabe aproveitando algum reflexo do tremor. Quinze minutos na água e as ondas começaram a mudar, ainda pequenas mas muito fortes. Resolveram sair mas já era tarde. Uma correnteza 10 vezes mais forte do que as que Pomar estava acostumado a encarar em Sunset os arrastou 1,5 km mar adentro. Bolhas gigantes brotavam do fundo do oceano e ondulações com 10 pés havaianos surgiam de todos os lados.

Pela intensidade do terremoto eles imaginavam, a essa altura conscientes da insensatez que haviam cometido, que uma onda muito maior poderia estar por vir, e remaram o quanto agüentaram cruzando a correnteza em direção às esquerdas que se formavam muito longe da costa. As pranchas grandes e a experiência havaiana os ajudaram.

As ondas destruíam os barcos ancorados, mas eram o único caminho para alcançarem a praia, tudo o que eles queria naquele momento, "ainda que centenas de leões famintos nos aguardassem na areia", disse Pomar, que sobreviveu para contar a história, anos mais tarde, para o ex-surfista profissional e jornalista Derek Hind.

Notas

Jaws na remada

Depois do tubo gigante surfado de tow-in, Eraldo Gueiros tem caído na temida onda de Maui, Havaí, com uma 9"11" e está no páreo com Bruce Irons pelo prêmio do XXL.

WQS Feminino

Começa hoje no Peru a inédita etapa do Mundial de surfe na América do Sul. Tita Tavares, a melhor brasileira no circuito, não está entre as 12 brasileiras inscritas na prova cinco estrelas.

Corrida de Aventura: Desafio dos vulcões

A corrida com 550 km é disputada na Cordilheira dos Andes, Argentina e Chile, começou domingo e vai até sábado, com 50 equipes de quatro atletas, entre elas cinco brasileiras.

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