Os primeiros saltos documentados de base jumping no Brasil

por Carlos Sarli
Trip #43

Um prédio abandonado na maior cidade brasileira. Dois base-jumpers, mais um casal de fotógrafos e um repórter. A Trip registra os primeiros saltos de base jumping em nosso país

"Medo? Claro que eu tenho medo. Se não tivesse medo teria que ser internado.” Essa resposta sintetiza a responsabilidade e a determinação do paulista Luís Henrique Santos, o Sabiá, um dos dois únicos base jumpers no país. O outro era o médico André Chagas. Com 2.200 saltos de aeronaves [na época], Sabiá tinha mais horas no ar que muito urubu, mas apenas 11 saltos de base. Já André tinha 410 saltos de aeronaves, mas era mais habilitado no base, com 34 saltos. Os dois, experientes paraquedistas, mas novatos nos saltos de objetos fixos. Até por isso, preferiram formar um time
e somar os conhecimentos. “Somos a Associação Brasileira de Base Jump”, brincaram.

Certa vez escrevi que se o paraquedismo é considerado um esporte radical, o skysurf, modalidade em que o paraquedista salta com uma prancha no pé, precisaria de uma classificação superior. Nessa mesma categoria, ou acima dela, seria classificado o base jump. Na verdade, os praticantes o consideram um outro esporte, diferente do paraquedismo. Para Sabiá, que é cameraman de skysurf, o base é ainda mais casca- grossa. “É o esporte mais radical do mundo. Há muito risco envolvido”, diz.

Em um domingo de 1995, 5h30 da manhã, passo na casa do Sabiá e sou recebido pelo seu vira-lata. Em seguida pegamos o André no downtown paulistano. O prédio abandonado escolhido para o salto é o edifício da Eletropaulo [hoje sede do Santander, na esquina da avenida Juscelino Kubitschek com a Marginal Pinheiros]. Sabiá e André subiram pelas escadas os 32 andares. Tivemos 20 minutos para nos posicionar no chão e testar os equipamentos fotográficos.

Por volta das 7 horas eles chegaram no alto da construção, já iluminada pelos primeiros raios da manhã. Sentiram o vento atirando bolinhas de papel com cuspe e definiram o melhor lado para o salto. Sabiá aponta na marquise e sinaliza.
Tudo certo. Ele flexiona as pernas para ganhar impulso e salta gritando “bom dia,
São Paulo!”, que ecoa pelos andares vazios.

O colorido do velame contrasta com o cinza do concreto. Em não mais de 15 segundos ele pousa suavemente, para delírio da equipe de reportagem que vibrava tanto ou mais que ele.

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Poucos minutos depois é a vez do André abraçar São Paulo. Dois segundos separam o momento que os pés deixam a segurança do prédio até o primeiro tranco do paraquedas. Outros dois até o velame adquirir forma aerodinâmica. Durante
esses rápidos momentos, a adrenalina que bomba pelo corpo é suficiente para deixar os saltadores tomados por horas. André pousa firme, marcando o décimo salto feito no país. Missão cumprida. Os primeiros saltos documentados de BASE Jump no Brasil foram feitos pela Trip.

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