"Viva e deixe viver"
Para mim que entrei nesse mundo aqui de fora da prisão há pouco tempo, depois de décadas excluído, é profunda a admiração. É impressionante como tanta gente se manifesta assim raivosamente, promove até passeatas e protestam veementemente, de modo até a nos assustar, por algo que, absolutamente, não lhes diz respeito. Não tem nada a ver com eles e não os afeta em nada e eles se sentem agredidos, parecem até feridos gravemente.
O que têm os religiosos, tanto católicos, evangélicos e neopentecostais contra o casamento gay? No que toca, "fere" outras pessoas, caso duas pessoas do mesmo sexo queiram viver juntas como casados? Será que alguém foi pedir para celebrar o casamento na igreja deles? Dado ao descomunal preconceito, acho que ninguém é louco de fazer isso. É óbvio que "bichisse" enche o saco de qualquer um, seja qual for a orientação sexual. Atitudes agressivamente promovidas para chocar tem seu lugar e espaço junto a seus apreciadores. Mas no caso do casamento gay, puxa, é só quem não aprecia não casar com alguém do mesmo sexo e pronto; esta resolvida a questão.
Por isso que não entendo todo esse escândalo, essa covardia contra seres humanos que já foram tão humilhados, mal tratados e vítimas de tanto preconceito. Na minha opinião, deveríamos ter compaixão pelo passado sofrido; eles sim foram e ainda são profundamente feridos. E muitas das vezes na carne, em bárbaros assassinatos. Na prisão, uma das regras não escritas é que a gente deve cuidar somente da vida da gente. Muitos estão ali presos porque outras pessoas ficaram de olho na vida deles. Cuidar da vida dos outros na prisão é altamente censurável, coisa de cagueta, Zé Povinho. Um dos motivos de haver saído ileso da prisão é haver aprendido essa regra de ouro desde muito cedo.
"É proibido proibir" e "viva e deixe viver", eram premissas que embalavam minha geração e juventude nos anos 60/70 do século passado. Ainda devem funcionar muito bem nesse século, se posso dizer alguma coisa.
**
Luiz Mendes
24/04/2013.