Que futuro cada um de nós fará

por Luiz Alberto Mendes

 

 

Futuros

 

Todo meu esforço tem sido para ter uma alma e não apenas recordações e um destino. Algo tão extremamente verdadeiro que não tenha semelhanças com nada de antes e nem de agora. Uma criação que seja como uma participação na invenção do futuro. Ter fé não tem nada a ver com passado e sim aprender com a surpresa, o inusitado. Para mim é única forma de combater a insuficiência que gera essa sensação de incompletude que se vai vivendo no mundo contemporâneo.

Não quero transferência de poder, exijo revolução! Nos costumes, na falta de atitudes e na maneira de encarar esse pedaço de tempo que chamamos de existência. Toda nossa vida esta tão saturada de passado que parece, nada de novo pode acontecer. Não aprendemos a compreender porque somos treinados para aceitar, sem questionar.

Na prisão sempre me senti duplamente sufocado. A ignorância é um velho colar ensebado que as pessoas dão voltas e voltas no pescoço. Apanhei inúmeras vezes como um cão. De ficar desmaiado, estendido no chão minando sangue, meio morto. Cheguei até a tomar tiro dentro da prisão. E, na maioria das vezes, não tinha nada a ver com as causas que geravam aquelas consequências.

Muito pelo contrário. Sempre procurei passar o que aprendi. Fui professor por mais de uma década nas prisões por onde passei. Talvez até possa ter colaborado em algum grau porque ensinei a muita gente que é preciso pensar. Sabe como é: pensar é revolução. Mas sempre combati a ignorância e a estupidez que havia em mim e ao meu entorno.

Aqui fora, depois de anos de estudo e observação, chego à conclusão que as pessoas estão mais mergulhadas ainda no conformismo do que na prisão. Tudo o que se faça é aceito. Parece fatalismo. Nem parece que somos uma tarefa a realizar, um infinito reservatório de esperança e futuro. A esperança ficou reduzida a deduções de experiências passadas. Temos medo e não sei bem de que.  

Sempre pensei o presente como um palco, um teatro, onde a largata promove a metamorfose. O futuro sempre me pareceu uma borboleta adejando sobre a brisa leve... Não se extrapola do presente para o futuro. Assim como o presente não é o prolongamento do passado.

Imagino o futuro com o homem integrado à sociedade colocando em discussão as finalidades dos sistemas sociais. Querendo saber exatamente o que esta acontecendo em cada realização social. Importando-se com tudo e com todos. Fazendo parte do cuidado que deveríamos ter uns com os outros. Tentando ser justo e questionando sobre a justeza das atuações sociais. Transparência e a desburocratização talvez venham a ser as plataformas de todos os grupos políticos. Um futuro em que a cibernética, a robótica e genética nos ajudarão a tratar a natureza como aliada e a Terra como mãe.

E eu sei por que devo ter esperanças. O espaço do macaco não é outra coisa senão seus meios e fins. Nós já temos necessidade de explicar o invisível aos olhos por símbolos e signos visíveis. Ultrapassamos a experiência vivida, empenhados nesse trabalho total que ao mesmo tempo é criação e poesia.     

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Luiz Mendes

25/05/2011.    

 


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