Evento concorrido reúne agentes de mudanças sociais no Auditório Ibirapuera
Aconteceu ontem, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, a quarta edição do Prêmio Trip Transformadores. O prêmio criado em 2007 homenageia pessoas cujos trabalhos e ações transformam nossa realidade para melhor. A noite foi marcada pela emoção e apresentação de ideias e experiências para os mais de 800 convidados. O público conheceu um pouco da vida dos 13 homenageados deste ano, pessoas que transformaram vidas e que inspiram o surgimento de novos transformadores.
O editor da Trip, Paulo Lima, abriu a noite com suas palavras. “Até a criação do prêmio, o nosso ano na editora Trip era uma sucessão de coisas muito rápidas, um turbilhão de coisas e o prêmio tem a função de nos fazer dar uma parada e pensar. Um momento de refletir e avaliar no que a gente acredita, e virou o ponto alto do ano”, disse.
Na sequência, o ator Lee Taylor, mestre de cerimônias do evento, apresentou ao público os primeiros indicados da noite, Luiz Fernando Gomes Soares e Guido Lemos, criadores do Ginga, conjunto de softwares que fazem a internet funcionar na TV digital. Adotado por 11 países, é a mais avançada tecnologia brasileira pra democratizar o acesso e a distribuição de conteúdo independente.
Pra entregar o prêmio para a dupla, Taylor convocou o excepcional repórter da Trip, Arthur Veríssimo e Paulo Kakinoff, presidente da Audi no Brasil. Ao agradecer, Gomes Soares recorreu a Isaac Newton: “perguntaram ao físico como ele conseguiu chegar naquele momento da ciência. Ele respondeu que se conseguiu enxergar longe foi por estar sentado nos ombros de gigantes”.
A segunda premiada da noite foi Nair Benedicto, fotógrafa paulistana cujas imagens deram voz a esquecidos e oprimidos. Para entregar o prêmio foram convidadas Monica Iozzi, apresentadora do CQC, e Sabrina Sato, do Pânico na TV. Em um dos depoimentos mais contundentes da noite, Nair disse: “me sinto dividindo essa homenagem com todas as mulheres, crianças e homens que eu cruzei na minha vida. Perguntei para uma mulher favelada de Campinas em uma confusão com a polícia o que ela aprendeu com toda essa briga. Ela me disse e eu nunca mais esqueci: ‘aprendi que eu sou gente e isso não tem mais volta”.
Os artistas plásticos Nina e Otávio Pandolfo (um dos Osgemeos) foram os próximos a subir no palco e apresentaram o homenageado da vez, o também artista plástico Vik Muniz. Filho de um garçom e de uma telefonista, Vik nasceu no bairro paulistano de Pirituba e se mudou para os Estados Unidos na década de 80. Hoje, mundialmente conhecido, media a relação entre empresas e ONGs que ensinam - e empregam - pessoas a lidarem com lixo e arte. Infelizmente o artista plástico não pôde estar presente, mas mandou como representante Sebastião Carlos dos Santos, o Tião, presidente da associação de catadores de Jardim Gramacho e personagem do documentário Lixo Extraordinário. “Vik rompeu vários paradigmas. O de que a arte é feita por pessoas com alto poder aquisitivo e o de trabalhar com lixo não só focando na questão ambiental, mas no que passa desapercebido, o homem”, disse Tião em um depoimento muito aplaudido.
Na primeira apresentação musical da noite, a cantora Marina de La Riva interpretou com muita elegância “Canto das Três Raças”, sucesso na voz da saudosa Clara Nunes. Falando sobre as três raças que formaram o povo brasileiro, - branco, negro e índio -, a canção era a favorita da cantora mineira que nos deixou há 27 anos.
Voltando ao palco, é mostrada no telão o trabalho do quarto indicado da noite, Alemberg Quindins. Em pleno sertão do Ceará, na cidade de Nova Olinda, ele criou um grande centro cultural para crianças no qual os alunos mantém um canal de TV, uma rádio, uma editora de gibis e um museu que conta com um rico acervo de HQs e filmes, a Fundação Casa Grande. O apresentador Luciano Huck, que já conhecia o espaço cultural, - que chamou de oásis de cultura, sorriso e transformação -, entregou o prêmio ao educador. Carismático, Alemberg disse: “Existe um pais chamado Infância que os adultos precisam parar de se meter” e saiu ovacionado.
Rubem Cesar, fundador da ONG Viva Rio, foi o quinto indicado a subir no palco, apresentado por Sandro Bassili, diretor de sustentabilidade da AmBev, e pelo grande parceiro da família Trip, o big rider Carlos Burle. “Comecei a ler a Trip depois do premio, antes eu via na banca. E tem uma coisa diferente, de ousadia com brincadeira e meu trabalho vai muito nessa linha. A vida já é muito séria, eu queria ter mais prazer para lidar inclusive com a miséria”, disse Rubem nos bastidores.
Daniel Feffer, um dos diretores da Suzano Papel & Celulose, entregou o Trip Transformadores para a agrônoma Ana Primavesi ao lado da atriz Maria Ribeiro, presente em Tropa de Elite 2, um dos maiores sucessos da história recente do cinema brasileiro. Fundadora da AAO (Associação de Agricultura Orgânica) em São Paulo, essa austríaca que adotou o Brasil é incentivadora da Feira do Produtor Orgânico do Parque da Água Branca, onde produtores vendem seus produtos diretamente ao consumidor, sem intermediários e sem agrotóxicos. “Há muita gente que merece o prêmio, por enquanto eu recebo por eles. Mas cada destaque ajuda porque os outros veem que o trabalho que vocês fazem é um trabalho reconhecido”, disse a pioneira.
Na segunda apresentação musical da noite, um encontro de duas gerações da música pernambucana: a cantora Karina Buhr, baiana criada em Recife, e o músico Erasto Vasconcelos, irmão do percussionista Naná Vasconcelos. Em uma apresentação elogiada, eles mixaram ao vivo a canção “O Pé”, de Karina, com “Pipoca no Cinema”, de Erasto.
Para apresentar a sétima indicada, subiram ao palco duas pratas da casa, a jornalista e escritora Milly Lacombe, colunista da revista Tpm, e designer e arquiteto Rafic Farah, criador do logo e do primeiro projeto gráfico da revista Trip. Emocionada, pois além de ter sido premiada estava completando 60 anos, a argentina Lia Diskin não só é uma transformadora, como também “cria” transformadores. À frente da Fundação Palas Athena, produz ensinamentos para quem não tem acesso e os ajuda a descobrir seu potencial. É também coordenadora do Comitê Paulista para a Década de Paz - programa das ONU para a disseminação da cultura de paz. Sobre a homenagem que recebeu: “Sem sombra de dúvidas sinto que é uma grande dose de energia, é como tomar uma super vitamina quando se está em uma longa jornada”, disse Lia.
Na sequência, Malu Nunes, gerente de responsabilidade social do grupo O Boticário, entregou o prêmio para Reinaldo Pamponet, presidente do Instituto Eletrocooperativa, organização que trabalha com inclusão digital por meio da música e da tecnologia. No backstage, revelou: “A transformação não vem sem apoio em todos os sentidos. É um espaço em que eu me coloquei o desafio de colocar as empresas em comunicação com a sociedade e se tornarem melhores por meio de um diálogo aberto e franco”.
Marcello Serpa, presidente da Almap BBDO e parte do conselho editorial da Trip, ao lado de Vasco Luce, presidente da Pepsi na América Latina, entregaram o prêmio para Raí, ex-atleta com uma carreira exemplar dentro e fora dos campos. Ao lado do também ex-jogador de futebol Leonardo, Raí criou a Fundação Gol de Letra, entidade que atua em dois Estados e atende mais de 1.200 crianças e jovens por ano. “Estou me sentindo muito honrado, um cara que teve o reconhecimento de pessoas que eu admiro. É uma grande motivação para que a gente continue ajudando na transformação para um mundo melhor. Um prêmio como esse já faz mobilizar pessoas em torno de um projeto e aumenta o potencial de transformação dele não só nas comunidades onde está como também serve de exemplo para outras regiões do País”, disse visivelmente emocionado o eterno camisa 10 do São Paulo Futebol Clube.
Na penúltima apresentação musical da noite, a cantora e compositora Céu apresentou com muita emoção a música “Miopia”, de seu projeto paralelo, Sonantes.
O ativista ambiental Marcelo de Andrade, fundador da Pró-Natura, entidade que administra desenvolvimentos sustentáveis e projetos de conservação, teve seu prêmio entregue por Carlos Sarli, o Califa, um dos sócio-fundadores da Trip Editora, e o Fernando Luna, diretor editorial da editora. A dupla lembrou do pioneirismo de Andrade quando ele falava já nos anos 80 em sustentabilidade, termo que era desconhecido há alguns anos. “Não está longe o momento dos BRICs (sigla para os países em desenvolvimento Brasil, Rússia, Índia e China) se tornarem RICS. Nosso produto principal de exportação vai ser a sustentabilidade”, afirmou Andrade.
O renomado arquiteto Marcelo Rosenbaum entregou para o amigo Kaká Werá mais um dos troféus. Nascido na cidade mas filho de índios, Kaká dirige o Instituto Arapoty, organização voltada para a difusão dos valores sagrados e éticos da cultura indígena. Para Kaká, um prêmio como o Trip Transformadores pode ajudar na qualidade da exposição de um trabalho: “A qualidade faz a diferença. A qualidade das pessoas que entregam, que recebem, que são escolhidas e isso não tem preço. Isso vai ajudar muito na difusão e na multiplicação do projeto”.
Encerrando a premiação, a ex-jogadora de vôlei Ana Moser, campeã olímpica e homenageada no ano passado, e a vice-presidente da Gol Linhas Aéreas, Claudia Pagnano, entregaram o prêmio para Sérgio Vaz. Escritor, poeta e ativista cultural, Vaz criou os famosos saraus da Cooperifa, no boteco do Zé Batidão, na zona sul de São Paulo, e o Cinema Na Laje, que exibe filmes para a comunidade. Feliz por receber o prêmio na mesma noite do aniversário da Cooperifa, ele disse que se sente honrado transformar uma comunidade através da arte “para que ninguém morra sem nunca ser visto um livro, assistido a um filme ou visto uma peça de teatro”.
Finalizando o evento, Céu, Marina de La Riva, Karina Buhr e Erasto Vasconcelos interpretaram “Juízo Final”, clássico de Nelson Cavaquinho, com o parque do Ibirapuera e uma equipe de acrobatas se apresentando ao fundo.
Esperamos que a noite tenha servido para transformar a vida de pelo menos 1% dos presentes e que em 2011, 2012, 2013 e assim por diante eles estejam no palco dos próximos prêmios.