Tentando poesia.
Espesso, em febre, devasso como uma vadia
Roubo do tempo esse instante insólido
E, como mendigo exibo minha sordidez.
Fiel ao pecado de ser diante da consciência ameaçadora
Pesado, volto à antiga caminhada.
O metal duro da vontade me faz seguir
Sem medo algum, por entre céus e infernos
Insolente e atrevido.
Voraz, o que não me coube, o desconhecido
O que não pude repartir entre suores ou lágrimas
Esse mesmo é que me fascina
Dentro dessa treva pura que represento ser.
***
Escrevo sempre aquilo que devia gritar
Remeto-me embora permaneça impermeável
Vivo, seco, sempre tendo algo por dizer.
Como um vulto, sigo desconhecido e irremediável
Nada me assusta, nem de repente
Tudo me parece feito para consumo
E eu aqui, estabanado
Como uma mãe aflita.
***
Tudo parece acontecer
Como se estivéssemos esperando a vida
De banho tomado para sair.
***
Todos vivem a quilômetros de minha solidão
Só eu me acolho em meu coração
E me afogo porque molhar os pés nunca bastou
Mergulho, me jogo
E só paro quando a vida me para.
***
Agora pouco acordei e o dia me apanhou
Ainda com sono e se oferecendo em todo seu mistério
Lá vou eu ver o que acontece.
***
Mais de uma vez escutei
Estupidificado
Um gemido por dentro da escuridão
E me assustei
Ao perceber que era eu quem gemia.
***
O medo cresce na medida exata
De que somos capazes de imaginar
O que pode nos acontecer daqui para frente.
Medo é futuro.
***
Mães choram seus filhos mortos
Meninas vendem seus corpos
Meninos vagam pelas ruas
Ou fazem malabarismos nos faróis
Jovens superlotam as penitenciárias
Velhos de almas vazias
Estão abandonados nas praças e parques
E não estamos em guerra
Apenas o homem não aprendeu a andar
Com o próprio homem
E coitados daqueles que não sabem voar.
***
Enquanto o coração ensaia flores
Os olhos estão repletos de visões deploráveis
Mas, mesmo assim não varro meus delírios
Para debaixo do tapete;
Eles não estão sujos.
***
À uma certa pessoa.
Não busque em mim
O que possa encontrar em qualquer outro
Que esteja ao alcance de seus dedos
Ou lábios.
Os que se casam são mais românticos que eu.
Não posso ser de pequenos acertos
E me ocupar só de você.
Amo, amo muito e nisso pouco penso
Nada chega ao meu entendimento
Não entendo, mas quero ser livre
Para poder chegar a entender.
Aceso e sem formato, além de qualquer conceito
Aceito, aberto e incorreto
Sem nomes
Subscrevo-me.
***
Não me deixo resumir
Não posso ser abreviado
Sou extenso, amplidão é meu destino.
***
Luiz Mendes
25/09/2009.