por Luiz Alberto Mendes

AVIDEZ

Quando o ultimo fiapo de sonho se extinguiu

Eu já era um trem a me fundir com as sombras.

Mergulhado em silêncio grosso de livro fechado,

Os nervos acompanhando cada respiração

Descobri que o rigor de meus caminhos não teria fim

De ferro se constituiria meu destino.

De fracasso em fracasso construí um princípio de vitória

Encurtei o espaço entre o que era e o que viria a ser.

O que estava oculto é que nada estava oculto

Apenas a vida que se curva sobre o tempo

E assim os destroços sempre se rejuntam

A construir do aniquilamento a impressão

De que as coisas voltam a ser o que sempre foram.

Cansado de perder e de nunca ter razão,

Espremido entre silenciosas tempestades sobrepostas

Escapei dos seres sem alma

Que mudam como o vento.

E percebi que princípio, meio e fim são pedaços

Das vidas que carreguei para dentro de minha história.

Desabrigado em escombros,

Entre pedras e poeira de todos meus enganos

Esta a argamassa ressequida de meus erros.

Parece que todos esperam

No oco de medo de arriscar e perder

Estão mortos, parecem estátuas alimentando pombos.

Eu os vi. Olhos parados com seus pecados

Distribuídos pelos dias que os verão existir

Estou me reavendo, procurando indícios de mim

Velhos inimigos que de tão antigos

Tornaram-se melhores amigos.

Hoje, livre de meus vilões faço minha historia

Enquanto silencioso narcótico

Batiza a tarde insubmissa.

                           **

Luiz Mendes

30/11/2009.

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