Nosso editor convidado conta como foi selecionar os melhores hotéis da América do Sul para um livro
A coleção The Great Escapes da Taschen reúne fotos dos melhores hotéis do mundo.
Depois dos livros da Europa, da África e da Ásia, acaba de sair o da América do Sul.
Os três anteriores foram clicados por vários fotógrafos. O da América do Sul eu fiz sozinho. Há dois anos, desembarquei em Colônia, na Alemanha (sede da Taschen), para tentar abocanhar esse projeto.
A Taschen achava que o livro deveria englobar toda a América, mas os convenci de que era melhor dividir em três volumes: América do Sul, Central com Caribe e América do Norte.
Voltei ao Brasil incumbido de enviar um "avant première" de hotéis para avaliação. Foram dois meses de angústia, porque não podia perder a oportunidade de ter um livro editado pela Taschen com distribuição global.
Na primeira etapa, escolhi 120 hotéis. A Taschen cortou 90%, e vi que ia ter de aprimorar minha seleção. Para os europeus, não importa se a diária é de US$ 10 ou US$ 5.000. A maior preocupação é a localização e o quão exclusivo o hotel é. Muitas fotos, sites e catálogos circularam entre o meu estúdio e a Alemanha até que, um ano depois, tínhamos os 47 finalistas.
Corrida de aventura
Quando olhava o mapa da América do Sul com todos os pontos que teria de percorrer, ficava angustiado. O contrato assinado não podia ter furos - a multa era altíssima - e seria um vexame não cumprir a meta. A logística tinha que ser perfeita porque a maioria dos hotéis fica em locais isolados. Minha vida virou uma corrida de aventura.
Aluguei avião, canoa, lancha, levei um Land Rover para o Salar de Uyuni, na Bolívia, andei muito, guiei muito e, depois de 13.200 km dirigidos, 45 vôos, mais de 1.600 rolos de filme, seis horas navegando, 121 dias fotografando e mais de 220 dias no estúdio, consegui entregar as fotos dentro do prazo.
Fora um hotel em Missiones, na Argentina, dei sorte com o sol, fotografando sempre com céu azul. O inacreditável é que a capa do livro terminou sendo justamente esse hotel argentino clicado embaixo de forte chuva! Diretor de arte é igual no mundo todo: dizia que sol é fundamental e, entre 2 000 fotos, elegeu a capa sem sol.
Mordomia
Além de exclusivos e de estarem localizados em paraísos naturais, os hotéis escolhidos ofereciam boas mordomias. O Casa Real, no Chile, fica dentro de uma vinícola. Além de vinhos, tem como atrativo uma piscina cercada por um muro de pedra, construída há 200 anos pela dona da casa onde hoje fica o hotel, que tinha vergonha de ficar de maiô na frente dos empregados.
Dá para tomar sol sem roupa, sem ninguém pra espionar. Na Pousada Maravilha, em Fernando de Noronha, você chega da praia e recebe toalhinhas que estavam no freezer para refrescar a cabeça quente, do sol, claro.
Em Cuzco, no Peru, o Monastério tem um spring que solta oxigênio puro dentro do quarto para aliviar a sensação incômoda causada pela altitude. Outro luxo são os vagões comprados do Orient Express, que levam os hóspedes até Machu Picchu, com direito a champanhe e carne de vicunha (animal dos Andes parecido com a lhama) no vagão-restaurante.
No Ponta do Camarão, em Caraíva (BA), a cama é enorme, com milhões de travesseiros. Em vez de chocolate no quarto, água de coco e bolinho de estudante. Uma delícia! Mas quem extrapola mesmo é o hotel La Escondida, na Argentina. Com apenas dois quartos, oferece campo de pólo exclusivo para cada hóspede. Dentro do hotel, o piso é de pedra aquecida - para quem quiser deixar as botas sujas de lama do lado de fora.
Tuca Reinés, 47, é arquiteto e fotógrafo.
De cima para baixo: Carla, mulher de Tuca, no trem do hotel Monastério, comprado do Orient Express, que leva os hóspedes até Machu Picchu; piscina murada de 200 anos do hotel Casa Real, no Chile; e o Hotel de Sal, na Bolívia. Na outra página, fachado do La Escondia, na Argentina