O ator, que acaba de lançar biografia, fala sobre infância, relembra trabalhos e promete volta de personagem de Castelo Rá-Tim-Bum
Com Sérgio Mamberti ao lado, não se pode citar seu papel em Castelo Rá-Tim-Bum sem receber em troca um sonoro "Raios e trovões", bordão do Doutor Victor na série infantil. Mamberti adora ser lembrado pelo personagem, pois é um daqueles pelo qual é parado na rua para conversar e dar autógrafos. Mas a verdade é que o ator – com mais de sessenta anos de carreira – coleciona trabalhos memoráveis. Eugênio, o mordomo da novela Vale Tudo, é outro exemplo, mesmo não tendo sido confirmado como o assassino de Odete Roitman.
São todas essas inserções na dramaturgia brasileira que compõem a biografia Sérgio Mamberti, Senhor do Meu Tempo (Edições Sesc), recém-lançada em parceria com o jornalista Dirceu Alves Júnior. "É um livro feito de encontros”, define o biografado, ao lembrar de sua temporada com Fernanda Montenegro durante as apresentações da peça Alta Sociedade, em 2001. Fernanda, inclusive, assina o prólogo, no qual define seu colega de ofício como "ator absoluto".
Em entrevista ao Trip Fm, Sérgio Mamberti relembra outros momentos de sua trajetória, a começar pela vida em Santos, fala sobre a finitude da vida e promete a volta do Tio Victor à grade da TV Cultura. Sobre trabalhar com atores mais jovens, relata: "Nunca me coloco na posição de mestre". Ouça o programa no Spotify, no play abaixo ou leia um trecho da entrevista a seguir.
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Trip. O conteúdo do livro é uma das coisas mais legais do mundo, que é a sua vida. Eu descobri, por exemplo, que você é de uma das cidades que eu mais gosto, Santos. Fale um pouco sobre o que é ser santista.
Sérgio Mamberti. Isso foi, certamente, uma coisa marcante na minha vida, porque a minha família – por lado de pai e também de mãe – tinha uma vida marítima. Meu avô paterno viajou o mundo, falava onze línguas. No fim da vida, resolveu vir para Santos. A minha avó, uma jovem santista, o conheceu quando passou a ajudá-lo a cuidar da primeira esposa. Quando ela morre, ele então pede minha avó em casamento. Ele tinha quase sessenta e ela vinte e poucos. Era um lobo do mar, um homem ilustríssimo. Minha mãe é natural de São Sebastião. Esse universo extenso, de portas abertas para o mundo, enriqueceu muito a minha infância. Eu costumava ir com meu avô ver os navios no cais. É uma coisa impressionante como a gente estabelece uma relação sonhadora com esse mar vasto.
Uma das vantagens de ter mais de sessenta anos de carreira é que quase todo mundo que está vivo hoje conhece e lembra de algum personagem seu. Como foi escolher essa profissão na época em que você começou? Minha mãe era professora, incentivou muito a leitura. Papai era diretor social do Clube Internacional de Regatas: fazia toda a parte de animação social. Uma vez por mês a gente assistia a um concerto e todos os anos, nas férias, viajávamos para São Paulo para ir ao teatro e ao cinema. As salas ali da Cinelândia eram deslumbrantes. Eu e meu irmão fomos criados dentro desse ambiente de incentivo à cultura. No fim, ambos fomos fazer teatro. A minha mãe conhecia a mãe do Plínio Marcos. As duas estavam conversando quando ela disse: Você acredita que meus dois filhos resolveram fazer teatro? Você coloque as mãos para o céu, a mãe do Plínio respondeu. O meu foi fazer circo.
O impacto nas pessoas do personagem de Castelo Rá-Tim-Bum eu consigo entender, mas fiquei surpreso ao ver que ele é também o seu personagem preferido. Você já contracenou com Paulo Autran, com Raul Cortez. É surpreendente que você tenha esse como o seu personagem favorito. Por quê? Porque esse esse personagem cumpriu uma missão. A missão de formação. O Castelo Rá-Tim-Bum foi feito para ser uma obra de formação de gerações e realmente está cumprindo isso. De repente eu vou com o [Gilberto] Gil conhecer uma etnia indígena do Xingu e quando termina o ritual as criancinhas, todos com as pinturas corporais, começam a gritar: Tio Victor, Tio Victor. São momentos muito especiais. Agora eu estava no hospital para fazer exames e os enfermeiros disputavam para ver quem iria cuidar de mim.
Créditos
Imagem principal: Matheus José Maria