O Rio de Janeiro e as Enchentes

por Luiz Alberto Mendes

Além dos angustiosos problemas da existência, ainda temos que encarar intempéries do tempo

  Passei pela cidade do Rio de Janeiro nessa época doida aqui de São Paulo (que ninguém sabe se passou mesmo), em que tínhamos chuvas, enchentes, desabamentos e muitas mortes diariamente. A rotina de São Paulo foi alterada. O que fazer antes, durante e após a chuva, foram aprendizados muito sofridos para o povo da cidade paulistana. Mas eu sabia que esse nosso povo duro enfrentaria as adversidades, criaria método e o transformaria em rotina. O raciocínio do paulistano é estóico: “um dia isso para”.

 

Amigos cariocas me perguntavam, apreensivos, como estavam as coisas por aqui. Ficavam impressionados com a taxa diária de mortandade por conta das chuvas e dos seqüentes desabamentos. A gente sentia neles a pergunta viva jamais dita: será que vai chegar até aqui?  

 

Mas estando por lá pensei que se chovesse apenas um pouco do que choveu em São Paulo por dois meses seguidos, a tragédia seria muitas vezes maior. É só observar a topografia. A cidade de São Paulo fica no planalto paulista; o Rio é composto de muitos morros e o mar na frente. E o povo mesmo da cidade, mora nos morros. É uma história antiga e cansada acerca da expulsão do povo que habitava a cidade para a construção da Cidade Maravilhosa. Esse povo vai morar nas encostas dos morros próximos à cidade.

 

Ontem à noite os jornais televisivos nos davam conta da tragédia na Cidade Maravilhosa. Foram 15 horas de chuva pesada; o maior temporal em 44 anos. A região metropolitana do Rio parou. As aulas foram canceladas, as empresas dispensaram seus empregados, a prefeitura aconselhou as pessoas a não saírem de casa e o centro do Rio ficou deserto. Até ontem às 23 horas, a Defesa Civil havia contabilizado 103 pessoas mortas, a maioria nos deslizamentos das encostas dos morros. Havia quase mil e quinhentas pessoas desabrigadas e muita gente ferida nos hospitais.

 

Tragédia, dor... Ah! Essa nossa gente sofrida tanto lá como cá... Vidinha difícil a nossa; além dos angustiosos problemas da existência, ainda temos que encarar intempéries do tempo. Viver não é nada fácil. Por aqui estamos ainda com umas chuvinhas safadas que ensopa até os ossos, faz tudo virar lama e só enche o saco. A gente nem leva muito em consideração; faz parte...     

 

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Luiz Mendes

07/04/2010

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