O tubo de Warwick Wright em Noronha
Tubo está para o surfe assim como o gol decisivo aos 45 minutos de uma final está para o futebol. Ele representa o momento mais sublime do esporte, quando a integração do homem com o meio é quase completa. É também dentro de um tubo que o surfista pode ouvir o barulho e a vibração únicos que faz a onda em movimento, uma sensação que poucos nesta vida terão o privilégio de experimentar. Da mesma forma que poucos são aqueles que poderão ver o mundo de dentro de um tubo e, mais ainda, de não ver o mundo lá de dentro. Porque é quando o tubo praticamente se fecha e você consegue permanecer de pé sobre a prancha e deslizando em direção à luz do fim do túnel que se dá o clímax.
Foi exatamente de dentro de um desses tubos abençoados que o sul-africano Warwick Wright, 19, saiu para conquistar a primeira importante etapa do WQS desse ano, na Cacimba do Padre, em Fernando de Noronha, PE.
Mais cedo, no domingo decisivo, ele já havia surfado um desses na bateria de quartas-de-final e com os 9,17 pontos obtidos saiu da última para a primeira posição na bateria. Isso quando a contagem regressiva estava em andamento.
Na bateria final com três brasileiros (Marcelo Nunes, Daniel Hardman e Marcondes Rocha), Wright se viu frente a frente com uma onda que poderia ser sua última. Nesse ponto da competição, Marcelo Nunes, que minutos antes havia pegado o tubo mais longo da competição, estava liderando e, para quem via a disputa da praia, era virtualmente o campeão da etapa.
Mas, a oito minutos do final, Wright encontrou a onda que iria lhe render o primeiro título da carreira. Remou e entrou. Lá de dentro, enquanto o tubo se fechava, ele conseguiu ouvir o alvoroço na areia. Eram gritos de urra e, nessa hora, ele teve certeza de que havia perdido e que as pessoas estavam comemorando o título de Nunes. Mas os gritos eram para ele, Wright, que havia se colocado dentro de um tubo perfeito, de mais de 2 metros.
Enquanto o fuzuê crescia na praia, o sul-africano se preocupava em encontrar a saída daquele tubo, que depois ele confessaria ter sido o melhor de sua carreira. No fim, Wright estava em êxtase. Talvez naquele instante nem estivesse preocupado com o resultado; afinal, havia encontrado o seu nirvana.
A vitória de Warwick Wright acaba com a hegemonia brasileira em Fernando de Noronha. Até hoje, só brasileiros haviam faturado as etapas do WQS ali disputadas. Neco Padaratz, que tentava o bi, acabou ficando em 13º.
Warwick Wright nunca mais vai se esquecer de Fernando de Noronha. Foi ali, no domingo passado, que ele conquistou o primeiro título da carreira, 1500 pontos em sua carteira de surfista profissional, a esperança de correr a primeira divisão do surfe profissional no ano que vem e fazer seu país devidamente representado no Tour, coisa que não acontece desde a saída de Shaun Tomson em 1988, além, é claro de bem-vindos 10 mil dólares. Saiu de lá dizendo que o lugar era abençoado pelos deuses do tubo.
NOTAS
SNOWBOARD E TRADIÇÃO
Com 20 anos de existência, o campeonato de Mt. Baker, em Washington (EUA), é o mais antigo do mundo, e, por isso, mesmo não valendo pontos para o Mundial, atrai os melhores atletas do esporte. O brasileiro Felipe Motta estava lá.
MAIS SNOWBOARD
Bethany Hamilton, 14, que chocou o mundo ao ter seu braço esquerdo arrancado por um tubarão enquanto surfava no Havaí e, logo depois, voltou a surfar, agora está a caminho de Mountain High, na Califórnia, para aprender a fazer snowboard. Depois de dominar a nova prancha, ela garante que voltará ao surfe.
RECORDE QUEBRADO
Saltando de uma altura de 8.500 m na Barra da Tijuca, no Rio, Gui Pádua quebrou o recorde mundial de skysurf sem oxigênio.
Créditos
Imagem principal: Nancy Geringer/Waves