Amor Autônomo
O que há de mais íntimo, gostoso e profundo em cada um de nós, é a presença do amor aos outros em nós. É o amor às outras pessoas que nos puxa, que nos sacode para além de nossos limites individuais. Por nós mesmo, com certeza, não iríamos tão longe. Isso me faz concluir que, definitivamente, viver não é e nem pode ser uma aventura solitária. É antes uma conquista comunitária onde nossos limites são expandidos. O outro não é o limite; minha liberdade não acaba quando começa a do outro. Isso é um absurdo inqualificável. Um dos muitos enganos humanos. Antes aquela outra pessoa ali em frente ou aqui do lado me desafia para que eu ultrapasse todos meus limites. Cada pessoa que conheço e me comunico, me liberta um pouco de meus limites.
Na prisão eu rezava para que alguém de fora me procurasse. Podia ser um professor, um advogado, repórter, amigo, mulher, não importava. O que realmente importava era que dialogasse comigo. Que me permitisse trocar conhecimentos, sentimentos, me expor, ouvir idéias, ler sorrisos no rosto e satisfação nos lábios. Essa era minha liberdade, a outra pessoa que me procurava. Voltava para a cela pisando no ar de tão pleno e satisfeito em minha humanidade.
Carecemos de escapar à tutela familiar e avançarmos para uma vida mais coletiva, mais participativa. Só assim construiremos o amor recíproco, livre, além do sangue, do dever, do interesse ou até do respeito. A diferença que as pessoas apresentam de nós é fascinante, ficamos quase que obrigados a amá-las só por isso. Isso á autonomia: amar porque amar é tudo o que podemos fazer.
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Luiz Mendes
29/04/2011.