Osmar Terra é o nome do chefe do Ministério de Desenvolvimento Social e Agrário. Os leitores da Trip não perdoaram e Terra foi parar na nossa seção de Nomes Adequados. Mas será que é adequado mesmo?
Como bom gaúcho, o ministro Osmar Gasparino Terra fala com bastante gabo sobre seus antepassados. “Até o Érico Veríssimo, em O Tempo e o Vento, fala dos Terra", diz o político nascido em Porto Alegre, citando uma das famílias fundadoras da fictícia dinastia Terra Cambará, protagonista do épico de Veríssimo.
Desde maio, Terra ocupa o cargo de Ministro do Desenvolvimento Social e Agrário. Os leitores da Trip, ávidos e atentos, notaram que é curioso um representante com 'Terra' no RG cuidar de questões da... terra. Por este motivo, o nome do político veio parar na nossa seção Nomes adequados, que você já conhece muito bem. Mas, será que Terra é adequado para cuidar da terra, mesmo? “Até brinco com a frente parlamentar de agricultura: ‘Terra aqui é só no nome’”, disse à Trip, por telefone e com uma ironia curiosa, o político filiado ao PMDB há trinta anos.
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Sob a tutela do médico de 66 anos, que já foi três vezes deputado federal e prefeito de Santa Rosa, no interior do Rio Grande do Sul, estão programas de estímulo a pequenos agricultores, assim como programas de distribuição de renda e combate à fome. O pedido para que o parlamentar ocupasse o ministério veio do presidente interino Michel Temer (PMDB), no inicio de maio, após o afastamento temporário da presidenta Dilma Rousseff (PT) devido ao processo de Impeachment (Terra votou a favor da medida).
Na Câmara dos Deputados, Terra é conhecido por um projeto polêmico de combate ao uso de drogas que vem da terra (ou de qualquer outro lugar): o atual ministro no plenário pediu a internação involuntária (a pedido da família) ou compulsória (a pedido da justiça) de dependentes químicos. Com isso, a legislação sobre drogas no Brasil passaria a ter, oficialmente, intervenções que hoje são estabelecidas, em lei, para pacientes com transtornos mentais. O projeto ainda tramita, à espera de uma votação no Senado. [Na prática, o atual ministério ocupado por Terra não tem poder sobre a política sobre uso de drogas no Brasil, que fica a cargo da Secretaria Nacional de Políticas de Drogas, vinculado ao Ministério da Justiça.]
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Você, leitor, sugeriu e nós fomos atrás. À Trip, Terra topou falar sobre a origem do seu nome oriundo dos pampas, com típico sotaque gaúcho e um conhecimento sobre a… terra… onde cresceu e viveu.
De quem você herdou o sobrenome Terra? Do meu pai. Há uns anos pesquisei a origem e vi que a colonização mais remota do Rio Grande do Sul foi feita pelos açorianos, antes mesmo de terminar o Tratado de Tordesilhas. Esse povo foi entrando por Santa Catarina e pelo porto de Rio Grande e, entre essas primeiras famílias colonizadoras, aparecem os Terra, da ilha de Açores. O Érico Veríssimo, em O Tempo e o Vento, fala dos Terra como os primeiros colonizadores. Então, os Terras vieram da Ilha dos Açores. [No livro de Veríssimo, os primeiros Terra a chegar no Rio Grande do Sul são, na verdade, paulistas de Sorocaba, herdeiros de um tropeiro que obteve uma sesmaria na região.]
Pesquisei mais um pouco e descobri que Portugal era aliado de uma facção flamenga dos Açores, onde existia um abrigo para militares vindos da Europa. Acontece que os flamengos tinham nomes complicados de serem ditos pelos portugueses. Entre estes nomes estava o de ‘Joos van Aar’, que passou a ser chamado de João da Terra. Ao que tudo indica, esse indivíduo é o patriarca da família Terra, sobrenome espalhado na maior parte do Rio Grande do Sul e São Paulo.
Depois das disputas entre espanhóis e portugueses pelo domínio da região sul do Brasil, os açorianos de Rio Grande foram levados até a colônia do Sacramento, no Uruguai. Um grupo deles ficou em terras uruguaias, enquanto o restante voltou ao Rio Grande do Sul. Esse lado da família, que voltou para o Brasil, faz parte da minha família 'Terra'.
E qual sua relação com o setor agrário? Eu… É, eu tenho…. Assim… Acompanho algumas questões… Tenho terra só no nome [risos]. Até brinco com a frente parlamentar de agricultura: ‘Terra aqui é só no nome. Não tenho um metrinho quadrado de terra’ [risos]. Na verdade, tenho uma história de ter sido prefeito de uma cidade agrícola no Rio Grande do Sul, então conheço a questão da pequena propriedade e do agronegócio. Foram questões que tive que participar, e participo até hoje, para ajudar na região. É um vínculo mais político, não sou proprietário de terra.
Créditos
Imagem principal: Divulgação
Sugestão de nomes, por ordem de chegada em nosso e-mail: Camila de Pádua, Joe Yamada, Mariana Moreno, Phillipe Fló, Nando Andrade