Meu fracasso favorito

por Luiz Guedes
Trip #209

Apesar de ter sido um fracasso automobilístico, o Ford Edsel virou objeto de culto

Em uma cena de Peggy Sue, seu passado a espera, a protagonista cai na gargalhada ao descobrir que o pai comprou um carro novo. Era um Edsel... Lançado em setembro de 1957 sob os holofotes de uma superlativa campanha publicitária bancada pela Ford, o modelo sobreviveu apenas até novembro de 1959, entrando para a história como um dos maiores, se não o maior, micos (leia-se prejuízo) da história da indústria automobilística. Calcula-se que a montadora tenha desembolsado US$ 550 milhões (uma fortuna incalculável naquele tempo) entre projeto e produção, sem contar o altíssimo investimento em marketing. Após inundar os principais jornais e revistas americanos ao longo de meses com teasers que revelavam apenas detalhes do carro, a Ford criou uma enorme expectativa para o que chamou de Dia E, quando finalmente o Edsel chegou às concessionárias. Como parte da campanha de lançamento, ainda investiu pesado num especial para TV batizado de The Edsel Show, com uma hora de duração, celebridades e veiculação no horário do então popularíssimo programa The Ed Sullivan Show. Num dos programas, Frank Sinatra foi abrir a porta de um reluzente Edsel quando a maçaneta simplesmente saiu em sua mão.

O incidente com o cantor virou chacota nacional, mas não foi o único culpado pelo fracasso de vendas. “O problema é que a Ford fez um estardalhaço quanto ao que seria um design inovador. E o resultado não correspondeu às expectativas do público”, avalia o empresário Marco Aurélio De Paoli, 62 anos, proprietário de um dos únicos três Edsel de que se tem notícia em território brasileiro: um exemplar 1959 V8, versão Corsair, que integra a coleção mantida por ele em parceria com o filho, Mário (foto).

Estilo? Que estilo?

Vanguardista, o Edsel foi o primeiro automóvel projetado a partir de pesquisas de mercado. Só que a Ford não filtrou as informações colhidas e tentou contemplar todos os desejos dos entrevistados, o que resultou num carro luxuoso, porém com uma mistura de diferentes tendências de estilo. “Era um exagero de grades, vincos, frisos e cromados. Algo ainda hoje muito exótico”, pondera De Paoli.

O Edsel, entretanto, acabou caindo no gosto dos colecionadores. Hoje, o modelo conta com clubes de admiradores nos EUA, onde um exemplar chega a US$ 200 mil. A má fama, contudo, persiste. “Ainda hoje é sinônimo de fracasso nos EUA”, lamenta o colecionador brasileiro, destacando a origem nobre no batismo do automóvel. Após considerar mais de 6 mil nomes, escolheram Edsel porque era esse o nome do filho único de Henry Ford, fundador da marca e ícone da industrialização norte-americana...

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