Mentira dói, verdade mata

por Luiz Alberto Mendes

Ignorância

 

Acredito que se a mentira dói, a verdade sangra e até mata. Às vezes me perguntam como aguentei cumprir mais de 30 anos de prisão. A primeira resposta é sempre outra pergunta: e ai, como faria para não aguentar? Só havia grades, muralhas, homens armados e desarmados impedindo qualquer movimento, fazer o que? Estupidificar-me (mais do que já estava estupidificado?), Suicidar-me? Sempre achei que aqueles que se matam são corajosos demais. Todas as vezes que pensei em me matar (e foram muitas, incontáveis), a coragem me faltou. Na verdade eu estava sendo preso desde criança e não conseguia renunciar ao que o futuro me reservava. E essa foi a primeira mola que me impulsionou. Eu estava convencido de que ainda precisava viver, conhecer, como todo mundo. Então resolvi lutar para derrubar todas as barreiras que me impedissem ao que ainda estava por vir. O meu vir-a-ser ganhou importância e substância. Essa foi a minha principal alavanca. E a primeira luta foi contra a minha estupidez. Estava duplamente preso; às grades e à minha ignorância. Durante um certo tempo me confundi pensando que os livros haviam me salvado. Depois percebi que os livros sozinhos são apenas papéis pintados de tinta preta. As pessoas que me trouxeram os livros e me incentivaram a lê-los é que ajudaram a me salvar. Mas fui eu quem me determinei a ler e estudar. E assim escapei da pior das prisões; a da ignorância. A liberdade física foi apenas uma das muitas consequências disso e o resto tem vindo de acréscimo.

Acredito que a vida aconteça de acordo com uma seleção natural (como na seleção natural das espécies de Darwin) do universo. O que colabora com o progresso, com a evolução de cada parte desse universo, continua e segue em frente. O que tende a prejudicar, a impedir o crescimento de qualquer coisa ou ser em particular, é alijado do processo. É o tempo, esse grande senhor dos destinos, a fluir e refluir no éter universal.  

O fato é que somente quando nada mais fizer sentido que se findará minha esperança e o tempo será considerado perdido. Por enquanto, a bola ainda esta em jogo, embora já se tenha ultrapassado o primeiro tempo e o intervalo de jogo. Há outros sonhos, outros encantamentos, dificuldades extremas e dias inteiramente extraordinários que parecem me aguardar. Enquanto isso, na medida do possível, a vida segue dando certo.

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Luiz Mendes

04/09/2013.

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