Depois de quatro anos do 11 de Setembro chega às prateleiras o vazio das Torre Gêmeas
Poucos minutos após o choque do primeiro avião contra uma das torres do World Trade Center, o maior atentado terrorista da história já ocupava as rádios, televisões, sites de notícias e blogs. Embora a mídia do novo milênio seja capaz de dar aos fatos uma cobertura quase instantânea e onipresente, a literatura segue necessitando de tempo e algum distanciamento para digerir os acontecimentos históricos.
Agora, quase quatro anos após a tragédia, a ficção parece haver incorporado o 11 de Setembro de forma significativa. Os primeiros romances de destaque a incluir o tema chegaram às livrarias no início de 2005. Antes deles, já em setembro de 2004, o cultuado cartunista nova-iorquino Art Spiegelman publicou À Sombra das Torres Ausentes (Companhia das Letras, 44 págs., R$ 80), contendo artigos e quadrinhos que relatam sua experiência pessoal e visão política a respeito do ataque e da reação do governo Bush.
Na mais recente obra do inglês Ian McEwan, Saturday (que a Companhia das Letras lança no Brasil em novembro), o atentado figura em uma conversa do protagonista Henry com sua filha. Ironicamente, o personagem de McEwan despreza a literatura e acha que o mundo não deve ser reinventado, e sim explicado. O livro, contudo, é prova de como a ficção pode revelar o modo como se pensa e vive hoje. O francês Frédéric Beigbeder, por sua vez, conta em Windows on the World (Record, 348 págs., R$ 39) a história de um homem divorciado que reavalia sua vida durante uma viagem a Nova York. As amarguradas conclusões culminam durante um café-da-manhã com seus dois filhos em um restaurante do World Trade Center, no dia da tragédia. Em Extremely Loud & Incredibly Close, de Jonathan Safran Foer (cujos direitos no Brasil foram adquiridos pela Rocco), um menino de 9 anos investiga a origem de uma chave deixada por seu pai, morto nas Torres Gêmas. Nas páginas finais, Foer explora a imagem de um corpo em queda livre para mostrar o que mais desejam os que ficaram: que nada daquilo jamais tivesse acontecido. Reconhecimento de Padrões, de William Gibson, The Writing On The Wall, de Lynne Sharon Schwartz, e The Good Priest's Son, de Reynolds Price, são outros títulos que incluem o atentado em suas tramas.
No Brasil, o 11 de Setembro também marcou presença na ficção. Em Um Terrorista no Pampa (ed. Mercado Aberto, 196 págs., R$ 29), o gaúcho Tailor Diniz conta a história de um homem que se faz passar por vítima do atentado mas acaba retornando ao interior do Rio Grande do Sul, onde é confundido com um terrorista.
BIOGRAFIA DO INFERNO. "Oi, Beverly, aqui é Sean, caso você receba esta mensagem. Houve uma explosão no World Trade Center. Está pegando fogo no 90o andar. É... é... horrível." Funcionários de escritórios, visitantes, resgatadores. O livro 102 Minutos, , dos repórteres do New York Times Jim Dwyer e Kevin Flynn (Jorge Zahar, 316 págs., preço a definir) conta a catástrofe do 11 de Setembro do ponto de vista das pessoas que ficaram dentro das Torres Gêmeas. Os 102 minutos de agonia entre o choque do primeiro avião e a queda do segundo prédio (que, de acordo com um engenheiro de cálculo, nem mesmo um Boeing 707 poderia derrubar). É a melhor reportagem feita sobre a tragédia – lembra em alguns momentos o clássico Hiroshima, de John Hersey. Lá estão relatos de 200 sobreviventes e testemunhas. Dwyer e Flynn dissecam o inferno pedaço a pedaço. Elevadores lotados, portas emperradas, saguões em chamas, tetos desabando, correria nas escadas. A triste matemática de 2.749 mortes e a face mais negra da história. (Emilio Fraia é repórter da Trip)