Eu quero conectar escolas

por Ronaldo Lemos
Trip #247

Minha utopia é totalmente possível: levar conexão de internet em alta velocidade para todas as escolas do Brasil

Não acredito em utopias. Melhor dizendo, acho que a palavra “utopia” serve apenas para fazer com que as pessoas se sintam desestimuladas a pensar grande. Basta dizer que algo é uma “utopia” para um monte de gente desistir de sequer tentar fazer aquilo acontecer.

Pois bem, quero falar de uma “utopia” que é totalmente possível: levar conexão de internet em alta velocidade para todas as escolas do Brasil. É um absurdo e uma vergonha que hoje, em 2015, as escolas brasileiras ainda estejam desconectadas ou mal conectadas.

Existem no Brasil 190 mil escolas. Apenas 58% delas possuem acesso à internet. O número cai para 48% se contarmos as que possuem acesso de banda larga. Para piorar, muitas dessas escolas que aparecem como tendo internet disponibilizam o acesso à rede apenas para a diretoria ou para os professores. Para os alunos, neca de pitibiribas de acesso.

Além disso, só a vergonhosa fração de 19% das escolas públicas brasileiras conta com conexão de mais de 2 Mbps de velocidade. Para se ter uma ideia do quanto isso é irrisório, o conceito de banda larga foi revisto neste ano nos Estados Unidos. Lá, para ser banda larga a velocidade precisa ser de no mínimo 24 Mbps. Por esse critério, a maior parte das conexões brasileiras (e a maioria absoluta das escolas) simplesmente não tem banda larga.

Por isso, junto-me a uma mobilização nacional chamada Internet na Escola. Trata-se de uma campanha para mobilizar o governo federal por um pacto em prol do acesso de banda larga em todas as escolas brasileiras. Neste momento em que o Brasil precisa mais do que nunca pensar grande, essa agenda pode e deve ser abraçada como urgente e prioritária.

Quem quiser participar da mobilização pode acessar o site www.internetnaescola.org. Nele há uma ferramenta que permite enviar e-mails automáticos para as autoridades competentes, demandando medidas imediatas. A iniciativa da mobilização é de instituições como a Fundação Lemann, o Instituto Inspirare, a rede Nossas Cidades e o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org), do qual faço parte.

URUGUAI E COLÔMBIA

É constrangedor que o Brasil esteja ficando para trás em conectividade escolar até mesmo com relação a outros países latino- americanos. O Uruguai criou em 2007 o chamado Plano Ceibal para promover inclusão digital, tendo como foco o uso da tecnologia no ensino. Por meio dele, saltou de 5% para 80% o acesso a computadores nas famílias de baixa renda. Na Colômbia, há um interessantíssimo plano de conectividade nacional chamado Vive Digital que também tem um de seus focos na educação.

Na Ásia, países como a Malásia criaram uma estrutura que obriga a instalação de antenas de 4 gigabytes em todas as escolas do país. O plano se chama SchoolNet, e foi resultado da coordenação entre o governo federal e empresas locais. Nos EUA, o plano ConnectED está levando 50 Mbps de velocidade (por meio de fibra ótica) a todas as salas de aula do país.

Ao ver iniciativas como essas, algumas pessoas podem ficar tentadas a achar que mudar essa situação no Brasil é “utopia”. Estão erradas. Utopia é só desculpa para quem não quer fazer nada.

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