A Trip entrou em uma das mais secretas casas de hackers do mundo: a Noisebridge
É a Shangri-lá dos geeks. Uma casa inteira, quase sem paredes internas, no bairro do Mission em San Francisco. Surrada por fora, sem placas ou qualquer pista externa do que acontece lá dentro, abriga uma comunidade realmente lendária desde que a cultura global digitalizou-se. "É o mais importante centro de hackers do mundo", conta Steven (nick que assume em suas atividades online) enquanto abre a porta com uma das mais de 40 cópias da chave que existem na cidade. Soa inseguro, tão promíscuo ferrolho? Não se iluda. A Noisebridge é um dos mais seguros e reservados lugares da cidade. Porque as tais chaves são objetos de desejo cobiçadíssimos entre hackers do mundo todo. Quem as tem, não empresta, não copia, não dá mole.
A reportagem da Trip só está subindo as restritas escadas porque, meio ao acaso, no metrô, engatou uma longa conversa sobre a singularidade tecnológica e metafísica com um programador, dono de uma das cópias. Ele fez questão de apresentar aos amigos que, 24hs por dia, se alternam nas dependências da hacker-house. São toneladas de parafernalhas, componentes, ferramentas, compostos químicos, livros... tudo doado, necessariamente, por membros e fãs. São gênios da eletrônica, com gravíssima consciência política do que isso significa nos dias de hoje: "Não somos geeks apenas", Steven explica como se sentem os membros da Noisebridge, "estamos lutando para ver quem vai definir o futuro". Ele se refere à neuropolítica oculta por trás dos gadgets que ofuscam a atenção de todo o mundo: as patentes, a quebra de privacidade eletrônica, o controle da internet, a alienação eletrônica dos bilhões de usuários da net.
Na Noisebridge eles abominam Steve Jobs. Escondem de seus colegas no Google (onde muitos trabalham durante o dia) o que fazem nas horas extras: dão workshops uns para os outros e conspiram formas de manter a internet cada vez mais anárquica. Abdicam da animada vida noturna da San Francisco para criar códigos. Constroem seus próprios computadores para manter viva a capacidade de resistência ao controle coorporativo da vida digital. E da vida civil... "Todo mundo aqui foi educado por Phillip K. Dick”, explica de onde sai muito do engajamento debaixo daquele teto. Foi nas ficções futuristas de Dick que os habitués dos algoritmos e chips encontraram lentes para ler o presente. Em tempos de franca guerra mundial digital, onde um hacker chamado Assange ameaça mais do que Bin Laden, onde a privacidade se torna um artigo de brechó, essa milícia em tocaia articula com colegas no mundo todo para, num futuro cada vez mais presente, não derrubar... mas atualizar o sistema.