Em cartaz com peça em São Paulo, a atriz fala sobre filhos, o que a mantém acordada à noite, etarismo, amor e até da paixão pelo perfume hippie patchouli
“Uso o humor para abrir picada para o pensamento”, conta a atriz Denise Fraga durante um papo animado com o Trip FM. Na conversa, ela falou um pouquinho de tudo: filhos, sobre o que a mantém "encucada" à noite, de etarismo, amor e até da paixão pelo perfume hippie patchouli. Uma das grandes potências do teatro nacional, Denise está em cartaz com mais um sucesso de bilheteria em São Paulo, a peça “Eu de Você”, outro trabalho desenvolvido com o parceiro de vida e profissão Luiz Villaça e a produtora Café Royal. “Essa foi a primeira vez em que fui para uma sala de ensaio sem texto, para recolher histórias e trançá-las com literatura, música e poesia. Eu nem sei do que é a peça, mas emociona, virou uma experiência”, explica.
Confira um trecho da entrevista abaixo, dê o play ou ouça o programa completo no Spotify.
Trip. Recentemente, com a morte da Glória Maria, falou-se muito sobre a decisão dela de nunca revelar a idade. O que você acha disso?
Denise Fraga. Eu não tenho problema em revelar a idade, mas a gente tem que respeitar quem não quer saber do tempo, porque o tempo dá susto mesmo. Dentro de você quem está é aquela menina lá. Apesar de eu achar que a maturidade é uma coisa sensacional, no nosso país a idade é um esquecimento. Tem uma invisibilidade. Todo mundo tem medo de falar de menopausa porque parece que você não vai dar conta, vai estar uma chata, e a gente está aí a todo vapor. Eu me sinto muito melhor do jeito que eu estou agora. Tudo é para mim: eu sou muito jovem na minha diversão.
Você já é mãe faz 25 anos. Acha que se fala pouco de maternidade real e ainda se romantiza muito o papel da mãe? No início, quando meu primeiro filho nasceu, eu tinha uma culpa danada porque sentia muito sono. Eu queria tanto ter um filho, mas naquela hora eu queria mesmo era dormir. Ninguém fala como a sua vida vai virar um inferno por alguns anos, principalmente se tiver dois seguidos, como eu. Não tenho saudade nenhuma de trocar uma fralda, dessa época de ficar descabelada, dentro de casa, descuidada, com um chorando e outro querendo colo. Mas eu tenho um certo deslumbramento pela maternidade ao mesmo tempo. Lembro de dar entrevista para falar de peça e ficar só falando de filhos. Mas não é fácil nunca, nunca passa. Tem sempre um problema, sempre um administrar quereres.
O que a mantém acordada à noite? Eu sinto que a gente está em uma sociedade em colapso. É disso que tenho medo. Tenho medo de não estar compreendendo esse mundo rápido, essa velocidade da rede. Me sinto um aparelho 110w ligado no 220w e sem poder queimar. A gente inventou viver uma vida que você tem o risco de deitar a cabeça no travesseiro todos os dias com a frustração daquilo que você deixou de fazer. Eu não aguento o número de séries e livros que tenho que ler. Não vai dar tempo de fazer tudo que essa sociedade algoritimada tem me oferecido. Se você não cuidar, vai acabar colocando na sua vida somente o que “é bom fazer”: o que se deve tomar, o que se deve ler, a aula de pilates, o cuidado com a alimentação… E não coloca alegria. Aí quando vem o casamento de um amigo, você parece a louca da pista, dançando e tirando a barriga da miséria. E você pode dançar outras vezes. Meu lema agora é agendar o prazer. Eu acho muito louco a gente não cantar e dançar. Todo povo originário tem lá a sua dança e o seu canto muitas vezes para chegar no sagrado e a gente foi se desprendendo disso que é tão da nossa natureza.
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